Numa das cenas do documentário Sérgio Mendes no Tom da Alegria, o músico brasileiro radicado nos Estados Unidos desde 1964 grita “a arte do encontro”, com um sorriso aberto no rosto. Não há dúvida - encontros memoráveis e criativos ocupam boa parte da vida do pianista, compositor, bandleader, arranjador e produtor de 80 anos.O documentário está disponível na HBO Go. Em entrevista, Mendes e o diretor e produtor do filme, John Scheinfeld, dizem acreditar na força da plataforma de streaming para divulgar ainda mais a música produzida pelo brasileiro. “Não é apenas para os fãs de Sérgio Mendes”, diz o cineasta. “Talvez seja capaz de atingir um público maior. Espero que o filme possa ser uma boa introdução para a música dele.”“Adoro o processo de colaboração”, diz Mendes, numa referência às muitas parcerias bem-sucedidas em mais de 60 anos de carreira e também ao trabalho com Scheinfeld. “John é muito sensível, uma pessoa musical, fez grandes documentários sobre Harry Nilsson, John Coltrane, Nat King Cole. É muito fácil trabalhar com ele.”Trabalhar com outros artistas está na vida de Sérgio Mendes desde que ele montou seu primeiro combo, Bossa Rio, em 1959. O filme resgata seus tempos ainda no Brasil, com o músico visitando o apartamento em que morava com a família, em Niterói, no Rio de Janeiro.Na conversa com o repórter, ele fala de sua ligação com a Folha de S.Paulo nesse período. “Em 1961, toquei em um festival promovido pela Folha e ganhei dois prêmios, melhor pianista e melhor canção, Noa Noa. Guardo até hoje, são os primeiros prêmios.”Em sua lista de grandes encontros, foi fundamental o convite feito pelo saxofonista americano Cannonball Adderley. Depois de ver Sérgio Mendes tocando bossa nova no Carnegie Hall, em Nova York, ele chamou o brasileiro para gravar um disco.Foi o primeiro passo da mudança definitiva de Mendes para os Estados Unidos. “Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Era um dos meus ídolos me convidando para trabalhar com ele. Tive muitos encontros assim na vida”, conta Mendes. “Fui convidado para turnês com Frank Sinatra, Fred Astaire. Foram experiências maravilhosas.”Depois de vários grupos, no Brasil e nos Estados Unidos, ele conquistou enorme sucesso ao formar o Sérgio Mendes & Brasil ‘66. A gravação de Mas que Nada, de Jorge Ben, se tornou um hit mundial, até hoje usada em trilhas de filmes internacionais e ganhando novas versões. A combinação de solos de piano e vocais femininos passou a ser uma marca de Sérgio Mendes.Em 1970, a cantora Gracinha Leporace foi morar nos Estados Unidos com Mendes. Ela substituiu a vocalista americana do Brasil ‘66, Lani Hall. As duas dão muitos depoimentos simpáticos no documentário, que traz também vários artistas que trabalharam com o músico, como Herp Albert, Quincy Jones, John Legend, Will.i.am e Carlinhos Brown.