O ancião de cabelos e barbas longas, ambos bem branquinhos, dá algumas pinceladas, ocupa com cores todo o espaço que a tela lhe dá. Depois descansa, deita-se um bocadinho no sofá, que já tem o formato de seu corpo. Uma pausa para o repouso e o sonho, porque sonhar é fundamental nesse ofício. Antes, essas mesmas mãos tingidas com cores fortes estiveram mergulhadas na matéria-prima mais primordial de todas. Tiravam do solo as formas da vida, da fé, de uma cultura, prosseguindo uma tradição familiar. Nessa época, o velho era mais moço e fabricava moringas para guardar água fresca, os recipientes que abraçavam flores e enfeites, as peças que deixavam qualquer lugar mais aconchegante e cheirando a terra. Por isso o Antônio, este senhor de uma vida cheia de peripécias e mudanças, tornou-se Poteiro. Tornou-se artista. Tornou-se beleza. Transbordou-se!