-Imagem (Image_1.1407684)Fazer 18 anos, tirar a carteira de motorista e sair da casa dos pais. Há poucas décadas, rituais como esses marcavam em definitivo o início da vida adulta. As gerações mudaram e essa marca foi jogada para os 25, depois para os 30 e agora atingiram os 37 anos. Pelo menos é o que aponta o resultado de uma pesquisa recente divulgada pelo Datafolha. A maioria dos entrevistados – de quase 3 mil ouvidos – considera que a juventude termina aos 37 anos e a velhice começa aos 64.A juventude prolongada é uma característica do nosso tempo e resultado do aumento da expectativa de vida no Brasil. O IBGE até os anos 2000 considerava jovem pessoas de 15 a 24 anos, e na última amostragem de 2010 houve aumento na faixa, passando de 15 a 29. Professor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG), o sociólogo Flávio Munhoz Sofiati explica que existe uma série de elementos que devem ser considerados para se pensar em faixa etária no Brasil e um deles é a crise evidente da ideia de passagem de uma geração para outra.“No passado, esse processo era um pouco mais tranquilo e hoje está implodido. No cenário atual, você encontra jovens que ainda dependem financeiramente dos pais e que não se consideram adultos por conta disso. Talvez isso possa ter sido um dos reflexos para o resultado da pesquisa. Nessa perspectiva, quando se considera a categoria etária, temos percebido que não é possível estabelecer estatisticamente uma idade de início e final da juventude no Brasil”, aponta Flávio. “No momento que se gera uma nova vida será que a fase juvenil fica para trás? Mas como você considera isso em um contexto de mulher com 13 ou 14 anos com filhos?”, questiona. Sem compromissosAos 37 anos, o contador e professor universitário Hauslley Ricardo Parrera de Alencar diz se sentir jovem. Seus argumentos são o fato de estar conectado no que está acontecendo no mundo, acompanhar de perto os assuntos que gosta e não ter apego a “coisas materiais”, características normalmente ligadas ao mais jovens. “Escolhi uma vida para desenvolver a questão intelectual, para cuidar da saúde e, nas horas vagas, me divertir tomando uma cerveja com os amigos, assistindo um filme ou tocando violão no silêncio do meu quarto”, explica.Hauslley também relaciona a sua juventude a não ser devoto de cobranças sociais. “A geração dos meus pais tinha um formato pronto para viver. Era casar, ter filhos, realizar o sonho da casa própria e de fazer carreira em uma única empresa”, explica o rapaz, que não cumpriu nenhum dos requisitos que antes determinava a vida adulta. “Eu ainda não sou pai, não casei e moro com minha mãe. Trabalho em casa atendendo clientes porque gosto de ser dono da minha vida. Mudar isso, no momento, não é um objetivo. Quero investir o meu tempo e dinheiro em outras coisas. Lá na frente quero constituir um patrimônio”, planeja. O perfil de Hauslley também se encaixa na geração chamada de canguru, de jovens que escolheram não sair da casa dos pais por vários motivos, como dedicação aos estudos, custo alto de vida e casamento tardio. Ficar mais em casa é uma das características da geração nascida nos anos 1980. Segundo levantamento do IBGE, cerca de 60% dos jovens homens e 40% das mulheres moram ainda com a família na qual nasceram. “Eu posso ter uma qualidade de vida melhor. Não preciso gastar com aluguel e sobra dinheiro para outras coisas como cinema, barzinho, pizza com cerveja, gasolina e motel”, comenta Hauslley.LevezaPara a funcionária pública e produtora audiovisual Maysa Manoela Melo, de 37 anos, a juventude não é uma questão de idade, mas de “espírito”. O resultado da pesquisa Datafolha também apresenta dados que sustenta isso nas respostas das mulheres com mais de 60. Segundo o estudo, elas se consideram jovens até os 47. A velhice, por outro lado, só existe para elas após os 69 anos. Já os idosos (homens e mulheres) escolarizados vão além e dizem que uma pessoa é considerada jovem até os 51 anos.“Eu sou muito brincalhona e acho que é por isso que sempre achei que tenho menos idade do que tenho de fato. Apenas me sinto velha quando estou em uma balada e, às 2 da manhã, já fico louca para voltar para casa”, brinca Maysa. Segundo ela, outra característica jovial é saber encarar os problemas de uma maneira mais leve. “Tem gente que não leva a vida tão a ferro e fogo. Ser jovem é ter essa sensação de não carregar muitos problemas nos ombros”, complementa.Maysa lembra que quando os seus pais tinham 37 anos eles já estavam casados e com três filhos. Diferentemente dela, que ainda reside com a família, não se casou e não teve um herdeiro. “A diferença é muito grande, mas não sei se isso pode ser tratado como uma vantagem. A minha mãe começou a namorar cedo e casou-se com 22 e eu nasci quando ela tinha 23. O meu pai, aos 30 anos, já pensava que era velho por conta das responsabilidades em casa e das atividades profissionais”, compara.Se a vida adulta, segundo o resultado da pesquisa Datafolha, começa depois dos 37, Maysa já está cheia de planos para a próxima fase. Noiva desde abril, ela se casa no ano que vem. “Aos 38, quero estar casada e vivendo no meu próprio lar”, destaca ela, que reconhece que a idade atual vai deixar saudade. “Eu amo ter 37 anos. Prefiro mais do que ter 25 porque a minha cabeça hoje é muito melhor. Engraçado que, quando a gente é criança, quer ser jovem; quando é adolescente, quer ser adulto e depois se arrepende”, comenta.