Raimundo Fagner canta sobre sentimentos com um pé no passado e outro no presente. Há mais de meio século, os brasileiros ouvem sua voz única, marcada pelo sotaque cearense, interpretando canções que são tão cultas quanto populares. A turnê que celebra 50 anos de carreira do ícone da MPB volta a Goiânia neste sábado (8), às 21h30, no Centro de Convenções da PUC - Goiás. O cantor promete emoção e algumas surpresas no repertório que viaja no tempo. Clássicos como Canteiros, Quem Me Levará Sou Eu, Mucuripe, Asa Partida, Espumas ao Vento, Romance no Deserto, Guerreiro Menino e Borbulhas de Amor não devem ficar de fora. Ao POPULAR, o músico fala sobre sua relação com Goiânia, o sucesso após cinco décadas de carreira e o que o padre Fábio de Melo tem a ver com a renovação de sua banda.

Fagner, você tem uma história antiga com Goiânia. Pode contar como sua relação com a cidade começou?

Tenho memórias e lembranças maravilhosas de Goiânia. Estudei em Brasília, na época era 1970 ou 1971 quando estudei no Colégio Pré-Universitário, no cursinho, e depois na UnB, apesar de ter ficado pouco tempo. Era uma época em que todo mundo se conhecia e fiz muitos amigos ali. Tinha um festival aí em Goiânia que nós, artistas, éramos convidados que davam oportunidades em gravadoras. Fui pela primeira vez com Ivan Lins, Paulinho Tapajós, Chico Buarque, Roberto Menescal. Nessa nossa ida, nos convidaram para um encontro nos arredores da cidade e fiquei muito impressionado, porque assistimos a uma família tocar e cantar todo meu primeiro disco, o Manera Fru Fru, Manera (1973). O próprio Roberto Menescal me falou: ‘Fagner, isso é uma coisa incrível. É um é um sinal muito positivo no sentido da carreira de um artista acontecer’. Nunca me esqueci dessa história, desse momento mágico que passei com o povo goiano. Mesmo já sendo conhecido e tendo ganhado festivais, a primeira resposta real que eu tive sobre o meu trabalho “acontecer” foi na cidade. Tenho uma ligação mágica com Goiânia por conta desse episódio e dessa família. Depois, mantive contato com nosso grande artista plástico Siron Franco e com o Naire, que é músico goiano. Naturalmente, conheci muitos políticos de Goiás pelas minhas idas ao estado. Muitos conterrâneos meus, do Ceará, moram há muitos anos em Goiânia e construíram a vida aí.

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E os shows em Goiás, como são hoje em dia? 

É um prazer enorme voltar. O público é muito cativante e sempre tive essa resposta positiva do povo goiano, talvez pela minha ligação com o estado, não sei. Os shows no Teatro Goiânia e Teatro Rio Vermelho me marcaram muito. Fazia dois por ano no Rio Vermelho uma época e, se não me engano, eu fui um dos primeiros a fazer show lá. Lembro que uma dessas apresentações em Goiânia, lá no início, quem abriu foi o Oswaldo Montenegro, meu amigo, parceiro e grande artista que também morou em Brasília. Nesse dia ele se atrasou, demorou mais de meia hora e eu fiquei “p” da vida com ele. Até hoje tiro onda desse episódio com o Oswaldo.

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E como é criar o repertório de um show de 50 anos de carreira? Para além dos hits, tem algo especial que você quis fazer?

Estou vindo de shows em São Paulo e Brasília nos últimos dias e posso adiantar que a gente sempre tem uma surpresa, que muitas vezes a gente decide no camarim antes de subir ao palco. É claro que os hits não ficam de fora, podem esperar eles todos. Mas tentamos fazer uma surpresa em cada show, muitas vezes tocando músicas que eu quase nunca canto. Depende do espírito, da disposição, do momento. Mas uma surpresa às vezes faz muito bem, né?

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Essas turnês comemorativas costumam mobilizar bastante o público, que no caso do seu show deve resultar no famoso encontro de gerações na plateia. Isso tem acontecido? 

Sim, acontece. Sempre pinta o pessoal das antigas junto do pessoal mais jovem. Para o artista, o público é tudo uma coisa só. Um sentimento, uma emoção. A emoção maior aqui é eu estar fazendo 50 anos de carreira, que no caso foi no ano passado, mas a gente continua em turnê fazendo essa releitura da minha carreira para todos.

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Por falar em nova geração, a sua banda se renovou recentemente. É interessante para você a troca com músicos mais jovens?

Os músicos que tocam comigo são uma atração à parte. Isso é muito legal do show, eles chamam muita atenção. Todo mundo sai falando do guitarrista, do violonista, do baterista ou do tecladista. Brinco que não tem nenhuma banda melhor que a minha hoje. Eu tinha outros músicos antes e acabou que o padre Fábio de Melo roubou minha banda, acredita? Olha esse padre… O baterista antigo já era religioso e acho que todos acabaram entrando nessa onda, não sei. Isso fez com que a gente reformulasse a banda e veio uma galera nova muito boa. Que o padre Fábio passe muito bem com meus antigos músicos, todos cearenses, inclusive. O Ceará é um celeiro de músicos extraordinários. Falam muito de mim, Belchior, Ednardo, mas o que veio depois é uma geração extraordinária, como o Cristiano Pinho, que era meu guitarrista e morreu ano passado. Era nosso maestro, músico incrível.

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Por falar em perdas, grandes nomes da música estão nos deixando ultimamente, alguns contemporâneos a você. 

É, eu não poderia deixar de falar no Lô Borges, que nos deixou essa semana. Grande músico e uma pessoa que se foi muito jovem, o que criou uma comoção grande, especialmente no meio musical. O Clube da Esquina é um disco marcante na música brasileira e que, apesar da qualidade musical, talvez não tenha tido um grande sucesso popular, mesmo com todo o valor do Lô e do Milton e da importância para a nossa geração. Tive o privilégio de ouvir esse disco na casa de Elis Regina, na época que morei com ela ali na Avenida Niemeyer, no Rio de Janeiro. O Milton levou pra gente ouvir e me lembro perfeitamente dele tirando o álbum do plástico e colocando para tocar. Apesar de tudo isso, as pessoas não estavam dando tanta importância para o Lô, não estavam falando muito nele, mesmo ele estando na ativa.

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Não valorizavam a importância dele para a música brasileira nesse fim da vida…

Exatamente. Vi que o Zeca (Baleiro) fez um disco com o Lô que saiu há pouco tempo. Isso com certeza vai ajudar a mostrar as coisas boas que ele vinha fazendo ultimamente. Ele era um cara muito doce, conheci a mãe dele. Inclusive, no livro Os Sonhos Não Envelhecem, do Marcinho (Márcio Borges, ex-membro do Clube da Esquina), tem uma parte que ele diz que a mãe do Lô me achava muito parecido com eles, do Clube. Mesmo que eu reconheça isso tudo, não sou idiota de não observar exatamente o que você pontuou: estão falando do Lô só agora, com a morte dele. É uma comoção merecida, por um legado de qualidade, mas que deveria ter vindo antes.

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E a que você atribui seu sucesso ainda hoje, com uma obra que atravessa o tempo?

Acho que sempre tive uma empatia muito grande com o público e vim de uma família muito musical, comecei a cantar aos 6 anos de idade na rádio e sempre tive essa ligação. E uma coisa importante é que sempre procurei excelentes parceiros, especialmente Belchior e Fausto Nilo, que muitos não conhecem de nome mas que trabalhou com Geraldinho Azevedo, Djavan e Zé Ramalho, meu compadre que mora aqui no meu prédio há muitos anos. Acho que os meus parceiros deram uma característica diversa para as minhas músicas e poesias, abrindo muito o leque de público.

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SERVIÇO

Show: Fagner 50 anos

Data:

Sábado (8), às 21h30 - Abertura dos portões: 19h30

Local:

Centro de Convenções da PUC-GO / Avenida Engler, nº 507, Jardim Mariliza

Ingressos: 

a partir de R$ 50 (Setor Canteiros)

Mais informações: 

vitrine.baladapp.com.br

"Tenho uma ligação mágica com Goiânia", destaca o cantor Fagner

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Entrevista

Vídeo em SP

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Integrante da geração de artistas que despontaram no início dos anos 1970, Fagner consolidou-se como uma das vozes mais marcantes da música popular brasileira (Divulgação/Fagner)

O cantor e compositor <a href="https://opopular.com.br/magazine/fagner-festival-vaca-amarela-e-mais-confira-a-agenda-cultural-de-goiania-1.3331035" target="_self">Raimundo Fagner celebra 50 anos de carreira</a> com o lançamento de um novo álbum e uma apresentação especial em Goiânia, no próximo sábado (8), às 21h30, no Centro de Convenções da PUC-GO. O show reunirá sucessos que marcaram diferentes gerações, além de músicas de seus trabalhos mais recentes.&nbsp;

Integrante da geração de artistas que despontaram no início dos anos 1970, Fagner consolidou-se como uma das vozes mais marcantes da música popular brasileira. No palco, ele apresentará um repertório que passeia por grandes clássicos e novas composições, incluindo faixas dos álbuns “Naturezas”, em parceria com Renato Teixeira, “Meu Parceiro Belchior” e “Além Desse Futuro”.&nbsp;

O artista estará acompanhado por Cainã Cavalcante (violão), Eudiner (acordeon), Stenio Gonçalves (guitarra), Netinho de Sá (baixo), Robson (bateria) e Thiago Almeida (teclado) — músicos que dão corpo e energia à sonoridade única de Fagner.&nbsp;

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/magazine/fagner-festival-vaca-amarela-e-mais-confira-a-agenda-cultural-de-goiania-1.3331035" target="_self">Fagner, Festival Vaca Amarela e mais: confira a agenda cultural de Goiânia</a> 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/solange-almeida-surpreende-e-canta-em-espetinho-de-goiania-video-1.3331271" target="_self">Solange Almeida surpreende e canta em espetinho de Goiânia; vídeo</a> 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/conheca-a-banda-carne-doce-que-comoveu-a-web-ao-anunciar-o-fim-das-atividades-1.3329922" target="_self">Conheça a banda Carne Doce, que comoveu a web ao anunciar o fim das atividades</a></div>

<h2>Uma trajetória de sucessos e poesia&nbsp;</h2>

Nascido em Fortaleza (CE), Raimundo Fagner Cândido Lopes construiu uma carreira marcada pela mistura entre poesia e emoção. Seu sucesso começou nos anos 1970, quando “Mucuripe”, parceria com Belchior e eternizada por Elis Regina, conquistou o público. Desde então, canções como “Canteiros”, inspirada em poema de Cecília Meireles, “Borbulhas de Amor”, “Espumas ao Vento” e “Revelação” tornaram-se hinos atemporais.&nbsp;

Em tour pelo Brasil, o cantor, que passou pelas cidades de Curitiba e Brasília nos dias 18 e 24 de outubro, se apresentou em São Paulo neste domingo (2), emocionando o público com a sua clássica canção 'Deslizes' (assista abaixo).&nbsp;

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Em 2024, o cantor lançou o álbum “Além Desse Futuro”, reunindo canções inéditas e releituras emocionantes.

O show em Goiânia promete um passeio por todas essas fases da carreira, com um repertório que fará o público cantar junto, relembrar memórias e se emocionar. Entre as músicas confirmadas estão “Asa Partida”, “Romance no Deserto” e uma comovente versão de “Onde Deus Possa Me Ouvir”, em homenagem a Vander Lee.&nbsp;

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Cantor e compositor Fagner celebra cinco décadas de carreira com show em Goiânia (Divulgação/Randley)

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Fagner comemora 50 anos de carreira com novo álbum e show em Goiânia

Poesia e emoção

O trabalho mais conceitual de Fernanda Abreu celebra 30 anos em 2025. Ao revisitar o som, conceito e a estética visual do disco Da Lata (1995), a cantora, compositora e bailarina descobriu que o batuque da lata é atemporal e fala do Brasil de antes e de agora com a mesma assertividade. O olhar de Fernanda, a garota carioca sangue bom, traduzia “a efervescência cultural suburbana daquele momento”, escreve Charles Gavin no texto de apresentação do projeto Da Lata – 30 Anos, que ganha documentário, livro, remix e relançamento do vinil, celebrando um dos clássicos e mais icônicos discos do pop brasileiro. Ao POPULAR, Fernanda Abreu divide como foi o processo de revisitar a obra após três décadas.

Nesse processo de reviver o disco, o que mais te surpreende na sua própria criação?

Que ele não envelheceu. Passaram-se 30 anos e, afinal, todo mundo envelhece. Quando eu ouvi o disco para começar a fazer esse projeto, eu realmente me entusiasmei. Percebi que é uma produção, um conceito, uma ideia completa, assim como a sessão de fotos da capa, os videoclipes, o show. A história dele dentro e fora do País, a história do Rio de Janeiro e do funk carioca contextualizada. Sinto que ainda é esse Brasil e esse Rio, com a diferença que aquele era um mundo analógico. E eu percebo um interesse da nova geração com elementos do analógico, como texturas de Super-8, VHS, vinil. Até em termos de produção musical, com plugins que resgatam alguns timbres de teclado, como o Prophet-5 e o Minimoog. É bacana trazer esse outro mundo que pode provocar curiosidade sobre o jeito que a gente fazia música, criando de uma maneira muito mais coletiva. Hoje, com a presença da Inteligência Artificial cada vez maior, a gente fica muito mais isolado fazendo nossas próprias coisas com a parceria da IA. Acho que é provocador também nesse sentido, de trazer uma reflexão sobre tudo isso.

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Da Lata nasce no Rio, mas fala de várias metrópoles e do País como um todo. Como você enxerga o Rio de hoje e como ele ainda pulsa na sua música?

Existia um Rio de Janeiro lá nos anos 1960, pré-ditadura, que tinha uma vocação internacional enorme com a bossa nova bombando, uma cidade menos violenta e tal. A partir dos anos 1980, foi um caminho sem volta não só para o Rio como para o Brasil. A ditadura fez muito mal para o País, até que a minha geração, ali nos anos 80 e 90, respirou um vento de mais liberdade, vamos dizer assim. Aquela nossa juventude começando a fazer música com a Blitz, Os Paralamas, Titãs, Barão Vermelho, Kid Abelha, Capital Inicial. Era muita gente jovem fazendo num momento de transição política e social brasileira, e eu acho que nos anos 1990 também vivíamos um pouco isso com a primeira eleição do FHC. Nos reencontramos com o Brasil de novo musicalmente. Então, essa geração, como por exemplo eu, Carlinhos Brown, Lenine, Chico Science e Nação Zumbi, O Rappa e o Planet Hemp, fazia um som que tinha uma linguagem internacional, eletrônica em alguns deles, misturando música pop em outros, mas já com muitas identidades brasileiras dentro. Tinha maracatu, samba, funk. Então, acho que o Rio de hoje ainda é aquele da música Rio 40 Graus, ainda é a cidade de cidade misturadas, o melhor e o pior do Brasil.

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Até na questão do funk, das batidas digitais...

É, a coisa mesmo do funk e da violência. Acho que a única coisa diferente que tem hoje no Rio é a presença forte da milícia, mas é uma cidade que continua linda, maravilhosa, como todo mundo pode acompanhar nas novelas da Globo. Pão de Açúcar, Corcovado, Aterro, as praias, paisagens lindíssimas, mas que é também caótica e violenta. Você liga na novela e em seguida vem o Jornal Nacional com o contraste do “purgatório da beleza e do caos”. Eu vejo a cidade como um mini-Brasil nesse sentido, porque é muito desigual e é muito na cara da gente, a favela em cima e o bairro rico embaixo. A cidade continua me inspirando e de uma certa maneira é por esse lugar que o meu olho vê o mundo. Mesmo com as minhas antenas para fora, eu estou nesse lugar que é a minha régua e compasso, como o Gil dizia.

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Nesse contexto, você dizia que a lata representa o batuque alternativo e o som do Brasil real. O que esse símbolo significa para você em 2025?

Acho que a lata ainda simboliza esse Brasil enquanto material precário, que não é ouro, não é prata nem platina e que é barato. Quando a gente fez aquele cenário das fotos, gastamos uma tonelada de lata do ferro-velho e cada quilo custava um real. É um material barato mas ao mesmo tempo simboliza uma criatividade, um ‘se vira nos 30’. É alguém tocando numa frigideira, numa panela. Então, acho que a representação visual da lata para traduzir esse som continua muito atual, simbolizando a precariedade do povo brasileiro. Não a elite, as pessoas mais ricas, bilionárias, mas a maior parte da nossa população. E acho, ainda, que é um disco ‘da lata’ no sentido da gíria, um disco da melhor qualidade, muito bem produzido, com arranjos e com muito bons. E é ‘na lata’ também pelo seu discurso. Acho que foi um projeto que valeu a pena, sabe?

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E até pensando nas discussões atuais sobre sustentabilidade e reaproveitamento de materiais, o disco já trazia isso.

Exatamente! Estávamos pensando em alguma ação com os catadores de latinha, trabalhadores que têm um papel fundamental. Uma imagem também icônica da época e que segue atual é o meu sutiã de lata. Quando eu fui dar uma entrevista no Le Monde, em Paris, a jornalista comentou “nossa, eu não sabia que o feminismo no Brasil era tão presente”. Daí eu falei que na verdade não era, que a gente estava em 1995. Comentei que eu intuitivamente coloquei essas frigideiras nos peitos, mas que ela conseguiu verbalizar o simbolismo disso: a imagem que é tirar a mulher de trás do fogão, do velho papel da mulher do lar e botar as panelas aqui, no sutiã, para brilhar em cima do palco, para ter protagonismo. Então, ainda que intuitivamente, sinto que foi um disco que trouxe essas questões atuais como sustentabilidade e feminismo que não rolavam naquela época.

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O documentário toca no ponto do espaço que você ocupava e ocupa. Nas imagens vemos claramente isso: você sendo a única mulher no estúdio em meio a tantos homens. Como foi fazer essa reflexão?

Olha, foi realmente muito emocionante. Ainda estamos falando do papel da mulher e a dificuldade que a gente tem de se impor diante de uma quantidade gigante de homens no mercado da música. Caminhamos muito desde a nossa primavera feminista de 2013 e de todo o letramento que conseguimos. Estamos derrubando algumas coisas ruins, como a competição entre mulheres, que é uma imposição subliminar do patriarcado e que a gente não tinha tanta clareza. Hoje em dia ainda existe a violência física, mas também a psicológica, que nos deixa sempre duvidando da nossa capacidade, querendo colocar a mulher no lugar de beleza, de bonita, de gostosa. Por isso que eu adoro aquela frase da música Garota Sangue Bom, que diz “Dá gosto de ver a inteligência movendo um corpinho como esse”. Apesar dos avanços, ainda lutamos bastante nos shows, com técnicos de som, roadies, produtores executivos da música. É muito homem, mas graças a Deus a gente está cada vez mais alcançando esses espaços e com muita capacidade e eficiência.

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O livro Da Lata – 30 Anos resgata fotos, matérias e teve contribuição até dos seus fãs. Como foi envolvê-los e ver a memória coletiva ajudando a reconstruir sua história?

Foi muito bom. Quando a gente se debruçou para fazer os produtos comemorativos, eu falei que precisávamos colocar o máximo de informação possível. Tenho um grupo no WhatsApp com um núcleo do meu fã-clube que é daí de Goiânia, um aqui do Rio, um de São Paulo e outro de Belo Horizonte, que são pessoas maravilhosas que acompanham meu trabalho há muito tempo. Falei com eles: ‘Gente, vejam nas suas coisas e com seus amigos quem tem o primeiro ingresso da estreia do show do Canecão’, e aí alguém tinha. Perguntava “quem tem o flyer do evento tal?” e outro tinha. Eu acredito muito no coletivo. Quando falam que sou uma esquerdopata, eu explico que para mim ser de esquerda é ser alguém com entendimento básico do coletivo do mundo, não individualista, algo que eu acho que só atrapalha e atravanca a evolução da humanidade.

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O Charles Gavin escreve que você é uma das artistas mais cuidadosas com o próprio legado. Essa gestão da sua obra foi intuitiva ou acabou virando um compromisso mais consciente ao longo do tempo?

Bom, a primeira coisa é que eu sou virginiana (risos). Se você tem amigos virginianos, você sabe que somos detalhistas, metódicos. Acho que intuitivamente fui guardando muita coisa, mas muitas imagens quem resgatou foi o Paulo Severo, essas coisas mais de memorabília foi com os fãs, etc. Mas eu tenho, sim, muitas matérias guardadas, tenho todos os figurinos de 30 anos atrás até hoje, porque eu guardei.

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Já que até os figurinos estão guardados, vem turnê do Na Lata por aí?

Eu gostaria muito de montar esse show, mas nesse momento eu ainda não tenho condições físicas. Trabalhei muito nos últimos meses e montar um show significa montar cenografia, iluminação, figurino, banda, backing vocal, repertório. São uns dois meses de trabalho, mas quero, sim, fazer. Os festivais estão pedindo, inclusive. É super possível ter o meu show de sucessos e fazer esse outro mais conceitual, da lata, para tocar todas as músicas do disco na íntegra. Espero que em breve consiga.

"A lata ainda simboliza o Brasil", avalia Fernanda Abreu

Entrevista 

O The Wailers, uma das maiores bandas de reggae de todos os tempos e berço da lenda Bob Marley, se apresenta nesta quarta-feira (22), em Goiânia. O show, marcado para as 21 horas, no Bolshoi Pub, faz parte da turnê que celebra os 30 anos de Natural Mystic: The Legend Lives On, aclamado álbum de compilações que eternizou clássicos de Bob Marley &amp; The Wailers. Lançado em 23 de maio de 1995, o título funciona como um complemento ao Legend (1984).

“Goiânia, estamos chegando. Venha celebrar uma noite de reggae, união e canções eternas do álbum Natural Mystic de Bob Marley e uma seleção de músicas do nosso álbum indicado ao Grammy”, postou a página oficial da banda no Instagram. Depois da capital, o grupo segue para Brasília e Rio de Janeiro. Em 2024, o grupo também passou pelo Brasil em turnê do lendário disco Legend, que reúne clássicos como No Woman No Cry, Is This Love, One Love e Redemption Song.

<a href="https://opopular.com.br/canal" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px; background-color: rgb(238, 238, 238);" target="_self">🔔 Siga o canal de O POPULAR no WhatsApp</a>

Além de apresentar as faixas mais politizadas e espirituais de Marley — como Natural Mystic, Africa Unite, So Much Trouble in the World e Iron Lion Zion -, o show também inclui canções do álbum Evolution, lançado em 2024, com produção de Emilio Estefan Jr. O trabalho marca uma nova fase do The Wailers, misturando o reggae tradicional com influências latinas e caribenhas, num som vibrante que reafirma o poder universal do gênero. O disco foi indicado a dois Grammys e tem sido elogiado pela crítica por equilibrar tradição e modernidade sem perder a essência que consagrou a banda.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/magazine/bale-folclorico-da-bahia-traz-a-goiania-o-bale-que-voce-n-o-ve-no-teatro-rio-vermelho-1.3326813" target="_self">Balé Folclórico da Bahia traz a Goiânia 'O Balé que Você não Vê' no Teatro Rio Vermelho</a> 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/festival-do-bem-tera-shows-de-matheus-e-kauan-diego-e-victor-hugo-e-do-cantor-daniel-de-graca-em-goiania-1.3326737" target="_self">Festival do Bem terá shows de Matheus e Kauan, Diego e Victor Hugo e do cantor Daniel de graça em Goiânia</a></div>

A nova formação do The Wailers é liderada por Aston Barrett Jr., filho do lendário baixista Aston “Family Man” Barrett — um dos pilares do grupo original, que morreu no início de 2024, aos 77 anos. Barrett Jr. também participou do filme Bob Marley: One Love, lançado no mesmo ano, interpretando o próprio pai, figura essencial na criação do groove inconfundível do reggae. Dirigido por Reinaldo Marcus Green e lançado em 14 de fevereiro de 2024, o filme tem Kingsley Ben-Adir no papel de Bob Marley e oferece um olhar íntimo sobre a vida do artista, sua ascensão à fama e seu impacto profundo na música e cultura global.

O grupo é formado por vários ex-integrantes do “Bob Marley e os Wailers”, que fizeram história, como o guitarrista Donald Kinsey e o saxofonista Glen DaCosta, e outros com longa história no reggae, como o vocalista Josh David e o guitarrista Owen “Dreadie” Reid. Nos vocais, Mitchell Brunings, que participou da edição holandesa do The Voice - e foi eleito pela família Marley como a voz mais semelhante no mundo a do Bob.

Formado em 1962, na Jamaica, o The Wailers nasceu do encontro de jovens músicos que compartilhavam a mesma paixão pela música e pela mensagem de transformação social — entre eles, Bob Marley, Peter Tosh e Bunny Wailer. O trio original marcou o início de uma revolução cultural que levaria o reggae das ruas de Kingston para o mundo.

Com letras que falam de espiritualidade, resistência e amor, o The Wailers se tornou o coração pulsante de um movimento que influenciou não apenas a música, mas também o comportamento e a consciência política de gerações inteiras. Ainda nos anos 1970, o grupo se consolidou como uma das bandas mais importantes do planeta, com turnês lotadas e discos que se tornaram clássicos imediatos.

A influência do The Wailers atravessou fronteiras e moldou o reggae feito no Brasil. Grupos como Natiruts, Maneva e Tribo de Jah reconhecem abertamente essa inspiração, não apenas na sonoridade, mas também na mensagem de amor, espiritualidade e resistência social. O balanço suave das guitarras, o baixo profundo e o canto que prega liberdade e união são marcas que ecoam até hoje nas novas gerações.&nbsp;

Serviço

Show: The Wailers – &nbsp;Turnê Natural Mystic

Data:

Quarta-feira (22), &nbsp;às 21 horas

Local:

Bolshoi Pub / Rua T-53, nº 1140, Setor Bueno

Ingressos:

R$ 200 (meia-entrada)

Informações:

www.blueticket.com.br

The Wailers, banda lendária que acompanhou Bob Marley, se apresenta em Goiânia

Herança regueira

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Jorge e Mateus com o cartor e apresentador Daniel durante gavação de programa (Divulgação/Instagram dupla Jorge e Mateus)

A dupla sertaneja Jorge e Mateus anunciou uma pausa na carreira em 2026. A notícia foi dada pelos próprios artistas durante participação no programa 'Viver Sertanejo', apresentado pelo cantor Daniel, na TV Globo, neste domingo (19).

<cite>Não vai chegar a ser um ano, acho que a gente não consegue ficar tanto tempo, mas é um descanso, é uma hora de você pensar nas novas diretrizes. Os caminhos que a gente deve percorrer agora para os próximos 20 anos", contou Jorge.&nbsp;&nbsp;</cite>

A parada nas agendas de shows e outros compromissos, caso ocorra, será justamente no ano em que a dupla completará 21 anos. Mateus completou que é o momento também de eles ficarem mais próximos da família, inclusive dos filhos.&nbsp;&nbsp;

<cite>E, ao mesmo tempo, a gente vai descansar um pouco a cabeça e, como o Jorge disse, trabalhar também de uma forma mais tranquila nas próximas músicas", salientou Mateus.</cite>

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/magazine/a-vida-foi-muito-generosa-conosco-dizem-jorge-e-mateus-1.3284342" target="_self">"A vida foi muito generosa conosco", dizem Jorge e Mateus</a> 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/mateus-da-dupla-com-jorge-faz-nova-cirurgia-no-joelho-para-combater-infecc-o-1.3261286" target="_self">Mateus, da dupla com Jorge, faz nova cirurgia no joelho para combater infecção</a> 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/parceria-inedita-entre-cristiano-araujo-e-zeze-di-camargo-canc-o-promete-emocionar-f-s-apos-10-anos-da-morte-do-cantor-1.3276418" target="_self">Parceria inédita entre Cristiano Araújo e Zezé Di Camargo, canção promete emocionar fãs após 10 anos da morte do cantor</a></div>

Jorge comparou a sensação de fazer uma parada nas intensas viagens para shows à necessidade de respirar. "É como se você tivesse pegando um ‘tubão’ de oxigênio, colocando ao lado e falando assim: 'Dá uma oxigenada aqui, daqui a pouco eu volto aí''', declarou.&nbsp;

<img attr-cid="policy:1.3325931" attr-version="policy:1.3325931:1760896398" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3325931/jorge_e_mateus_falam_em_descanso_e_tempo_para_a_familia.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Jorge e Mateus falam em descanso e mais tempo para a família, principalmente, para os filhos (Reprodução/Instagram Jorge e Mateus)

O POPULAR entrou em contato com a assessoria de imprensa da dupla neste domingo para obter outras informações sobre essa pausa na carreira de Jorge e Mateus, mas não houve retorno até a última atualização desta reportagem.

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