Uma novela que não disfarça sua ficção, mas a assume com força estética – é como os criadores de Três Graças a definem. Ambientada em diferentes polos da capital paulista, a trama é imersa em uma atmosfera que envolve drama, humor, romance e mistérios, e passeia pelos diferentes núcleos dos personagens. May Martins, a diretora de arte responsável por aplicar o conceito em parceria com o diretor artístico Luiz Henrique Rios reforça que, além de se traduzir visualmente, a ideia também transparece na forma como as gravações são conduzidas: “Ele utiliza lentes e zooms com movimentos que acompanham essa respiração e esse pulso. No fim das contas, há perigos ali, as situações são extremas”, pontua May, que também destaca a importância da permeabilidade dos espaços para reforçar o suspense da trama. A cenografia, nesse contexto, equilibra-se entre o real e o ficcional. “A arquitetura é concreta. Podemos exagerar nas cores e nos detalhes, mas a proporção precisa ser verdadeira”, afirma a cenógrafa Cristiane Fassini. Com referências à estética do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, a paleta de cores torna-se essencial em cada núcleo. Além do verde, as cores primárias — vermelho, azul e amarelo — e seus subtons estão presentes não apenas nos cenários, mas também nos figurinos e objetos de cena. A cidade cenográfica da Chacrinha nos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro, planejada por Cristiane, representa um recorte da periferia de São Paulo, inspirado em visitas de pesquisa e observação na capital. “Mantivemos o arruamento anterior, mas verticalizamos as construções para remeter à Brasilândia. Criamos segundos andares e dividimos casas grandes em menores, alterando cores e esquadrias para transmitir a sensação de multiplicidade”, explica. Também situada na fictícia Chacrinha, mas com interior construído em estúdio, a casa onde Gerluce (Sophie Charlotte) vive com a mãe Lígia (Dira Paes) e a filha Joélly (Alana Cabral) foi concebida para traduzir afeto e memória. Trata-se de uma construção orgânica, feita aos poucos, como nas comunidades. Cada cômodo tem estilo próprio, com pisos variados e puxadinhos. A fachada é amarela, com portas azuis. A novela também apresenta diversas cenas filmadas nas ruas de São Paulo, integradas ao cotidiano do transporte público rodoviário. Na fase inicial de externas, a produção de arte trabalhou com três ônibus, incluindo um elétrico, completamente adereçado para as cenas com o motorista Gilmar (Amaury Lorenzo). O trabalho envolveu adesivagem e criação de elementos como estação de cobrador, validador de cartão e câmeras de segurança. Entre os cenários dos personagens mais ricos, o eclético casarão da vilã Arminda (Grazi Massafera) se destaca. Ficcionalmente ambientada no bairro da Aclimação, zona central de São Paulo, a mansão também foi reproduzida em cidade cenográfica nos Estúdios Globo. “É uma casa de poucas cores, mas muito intensas”, define May Martins. Um dos cenários da mansão, o quarto onde está a escultura As Três Graças, tem grande importância na trama. O cômodo, uma antiga biblioteca hoje desativada, é cercado por livros e móveis de outras gerações, com uma atmosfera de mistério que envolve a obra. A escultura, com 1,80m de altura, que representa deusas da mitologia grega, foi produzida em resina com pó de mármore na fábrica de cenários dos Estúdios Globo. Espaços que concentram poder e riqueza, como o apartamento e a Fundação Ferette, também receberam atenção especial. “A fundação tem um propósito aparentemente simpático, então usamos um verde solene pontuado por um laranja muito controlado”, explica May. “A casa do Ferette tem uma alegria que vem da mulher, Zenilda (Andréia Horta), mas também carrega uma cor de esperança”, destaca. Cristiane, a cenógrafa, reforça que o apartamento foi inspirado em imóveis de alto padrão dos bairros nobres de São Paulo, com arquitetura moderna e grandes paredes de vidro. Com estreia prevista para 20 de outubro, Três Graças é uma novela criada e escrita por Aguinaldo Silva, Virgílio Silva e Zé Dassilva, com direção artística de Luiz Henrique Rios e produção de Gustavo Rebelo e Silvana Feu. A direção de gênero é de José Luiz Villamarim.