Uma odisseia em pleno Cerrado é travada por uma comissão de professores da Universidade Federal de Goiás, que tem como missão levar de volta ao local de origem a Pedra Goiana, monumento natural que foi derrubado, em 1965, por um grupo de adolescentes da cidade de Goiás. Antes em equilíbrio ancestral, no topo da Serra Dourada, a rocha se encontra atualmente tombada no sopé da elevação que a sustentou por milhões de anos.Localizada na Reserva Biológica Professor José Ângelo Rizzo, área da UFG integrante do Parque Estadual da Serra Dourada, a pedra jamais esquecida, também chamada de “coroa caída” tem entre cerca de 25 toneladas. Monumento natural de beleza rara, se equilibrava sobre duas rochas menores, e é uma memória viva e inconformada. Não é à toa que há 11 anos uma comissão da UFG desenvolve estudos e iniciativas para recolocá-la no lugar.A investida mais recente é desenvolvida em clima de euforia pela comissão, que neste sábado visita o local juntamente com o governador Ronaldo Caiado e empresários interessados em apoiar o proposta. “Será um reconhecimento da área para colocar a operação em andamento. Eu estou muito animado para colocar esse projeto em operação ainda este ano”, disse o reitor da UFG, Edward Madureira.Essa não é a primeira ação em prol do monumento. Ao longo dos últimos 56 anos, diversas vozes se levantaram para pedir o retorno da rocha a seu pedestal. Poucos dias após o ato de vandalismo, o então Consórcio Rodoviário Intermunicipal (CRI) anunciou estudos para a recolocação, como mostra nota publicada no POPULAR no dia 1º de agosto daquele ano. O POPULAR também noticiou anúncios governamentais no mesmo sentido em 1996, quando as rochas pertencentes ao monumento foram oficialmente identificadas, e em 2003, quando houve inclusive um anúncio de convênio com o Banco Mundial (Bird) que contemplaria a empreitada, entre outros projetos ambientais. Nenhum deles teve êxito.Em 2010, por ocasião da comemoração dos seus 50 anos, a Universidade Federal de Goiás instituiu uma Comissão de Estudos de Viabilidade da Reposição da Pedra Goiana na Serra Dourada, presidida pela então pró-Reitora de Graduação, Sandramara Matias Chaves, que segue à frente dos trabalhos. Formavam o grupo especialistas nas áreas de Engenharia, Geologia, Biologia e História.Símbolo“Há mais de 10 anos a gente teve essa ideia de recompor esse símbolo do nosso Estado. Reunimos especialistas, foram feitos vários estudos em relação ao tamanho, aspectos, peso, fragilidade, e também em relação à estrutura necessária para viabilizar o projeto”, relata o reitor. De acordo com ele, a proposta ainda não tinha saído do campo das ideias por questões econômicas, pois exige recursos e equipamentos que a UFG não tem.Apesar das diversas tentativas que não tiveram êxito, o reitor se mostra otimista. “Eu acho que agora vai para frente porque tem vontade política e apareceram empresários que querem apoiar. Prefiro não citar nome de empresas porque essa parte da viabilidade financeira é o governo do Estado que está cuidando.”Fatores tecnológicos, orçamentários e ambientais são desafiosResponsável pelo projeto dentro do governo, o secretário-geral da Governadoria, Adriano da Rocha Lima, disse que pelo menos duas empresas já manifestaram apoio à empreitada. Os representantes estarão na visita à Serra Dourada neste sábado.Na avaliação de Adriano, o maior desafio é içar a rocha principal. “O guindaste precisará ter uma base para não tombar, pois é uma rocha é muito pesada.”Esses desafios são conhecidos de longa data pelo professor da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da UFG, Enio Pazini Figueiredo, que integra o projeto desde o início. “Nunca paramos de estudar o caso”, garante.Pós-doutor em Engenharia Civil, Enio já atuou como responsável por grandes obras como a avaliação das estruturas de concreto do Maracanã, assim como os projetos de reparo e recuperação das estruturas do estádio. Para ele, o nível de dificuldade da nova missão é altíssimo: “Trata-se de uma odisseia faraônica com inúmeros fatores que dificultam o processo, tais como técnicos, tecnológicos, orçamentários, ambientais, etc”.Ao longo dos anos, entre as possibilidades de recolocar a pedra no lugar, já foi estudada a locação de um helicóptero russo de alta capacidade de carca(o que se mostrou inviável), e até a abertura de uma estrada, o que acabou descartado porque teria um grande impacto ambiental. “Veja que a gente tem muitas limitações. Estamos pensando em algo que sejam ambientalmente adequado, tecnicamente e economicamente viável”, diz.Após terem sido acionados pelo governo do Estado, o grupo está fechando uma nova proposta, que levará em conta as novas parcerias. A ideia, de acordo com Enio, é levar uma estrutura em partes para ser montada no local. “Nós levaríamos com helicóptero as peças até um local próximo de onde a pedra está, juntamente com alguns outros equipamentos levados por terra. Montaríamos um sistema de pórticos metálicos para sua movimentação horizontal, e guindastes para içá-la. Para que a pedra não se rompa durante a operação, deve existir um sistema de malhas de fibra de carbono para abraçá-la.ImpactosPara cumprir a missão hérculea, o grupo foi ampliado. Entre os novos integrantes estão o pró-reitor de Pós-Graduação Laerte Guimarães Ferreira, Manuel Eduardo Ferreira (do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento) e outros professores da instituição. Um dos objetos dessa ampliação é mitigar os impactos ambientais.“Mover a pedra da sua posição atual para a original trará algum tipo de impacto ambiental, já que a área apresenta muitas vulnerabilidades do ponto de vista ambiental. Então, o grupo também está discutindo maneiras de recolocá-la que apresentem o menor impacto possível”, explica Laerte.Outro diferencial do trabalho realizado mais recente do projeto é o levantamento aéreo, um mapeamento com precisão centimétrica de toda a região da Pedra Goiana, incluindo estrada de acesso. Trabalho que está sob a responsabilidade do o professor Manuel Eduardo Ferreira, do Lapig.“Não é uma operação simples, mas é muito simbólica. Isso mexe com a nossa história e a nossa autoestima por ser um símbolo do Estado”, defende o reitor Edward.MemorialJunto com a recolocação da pedra, a UFG também quer criar um memorial voltado à visitação. “Será como um museu para quem quiser conhecer a história do monumento e da reserva. Um atrativo turístico”, diz Edward.A Reserva Biológica Professor José Ângelo Rizzo faz parte do Parque Estadual da Serra Dourada e tem uma área de 144 hectares. É famosa por suas formações rochosas e flora do Cerrado endêmica.Curiosidades- Reza a lenda que um dos motivos para a derrubada da Pedra Goiana é o fato dos limites dos municípios terem sido alterados. Com isso, o famoso atrativo da região, que antes estava localizado na cidade Goiás, passou a pertencer a Mossâmedes. A mudança teria causado indignação nos adolescentes moradores antiga capital. Há também uma versão em que os meninos queriam mesmo era "entrar para a história".- Uma lista com os supostos nomes dos então adolescentes circula em diversos textos publicados por vilaboenses na época. Filhos de pessoas influentes na cidade de Goiás, nenhum deles respondeu pelo ato de vandalismo.- Diferentes versões também foram contadas em relação à forma como a pedra foi destruída. É unânime que eles usaram um macaco hidráulico para deslocá-la. Mas há relatos de que eles também contaram com a ajuda de dinamite.-Imagem (1.2305965)-Imagem (1.158725)-Imagem (1.158717)