Os mineiros podem até tentar dizer que o pequi é deles. Os paulistas não cansam de lembrar que muito antes de Goiânia ser construída Piracicaba já era conhecida nacionalmente como a terra da pamonha. Mas se tem um quitute que ninguém pode negar que é legitimamente goiano é a chica doida. Uma das invenções mais inusitadas da culinária de Goiás, o prato derivado do milho faz tanto sucesso que já pode ser encontrado em Goiânia até em versões congeladas.“A ideia de transformar a receita de família em negócio surgiu durante a pandemia. Todo mundo que visitava nossa casa elogiava muito a chica doida que minha mãe sabe fazer. Criamos então uma sociedade e abrimos nossa pequena empresa em julho. A demanda tem sido tão grande que estamos montando uma cozinha industrial para ampliarmos a capacidade de produção”, explica a publicitária Dayanne Pires Vieira Sacardo, de 35 anos.Ao lado da mãe, a gestora em recursos humanos Sinara Pires da Silva Vieira, de 52, ela vende o produto - feito com massa de milho verde, queijo e linguiça - congelado. Por enquanto, os clientes podem comprar e receber em casa a chica doida nas versões tradicional, apimentada e vegetariana. “Fizemos uma adaptação para atender o público que não come carne, mas que queria consumir o produto”, explica. Para o próximo mês, haverá o lançamento da versão goiana, que leva na massa pequi, e à moda, com o gostinho amargo do jiló e da guariroba. “Vamos fazer também a chica doida em versão maior, no pirex, para entrarmos no segmento de festa e eventos.”Sinara conta que aprendeu a receita na terra natal da família, Quirinópolis, que por muitos anos disputou com Rio Verde o título de Capital Nacional da Chica Doida. A iguaria, segundo a tradição oral, foi resultado de um acidente na cozinha do casal João Batista da Rocha e Petronilha Ferreira Cabral, ilustres moradores de Quirinópolis. Prestes a receber o então governador Pedro Ludovico Teixeira e com milho ainda novo, grãozinho cristal, eles desistiram de fazer pamonha e improvisaram um novo prato no forno.Uma esbarradinha no vidro de pimenta de uma tal empregada desastrada chamada Chica e voilá: o prato apimentadíssimo nascia com nome e sobrenome. “Em 2013, participei de um festival gastronômico em Quirinópolis e tive o prazer de fazer uma aula com dona Petronilha, que morreu um ano depois”, conta a chef de cozinha Mariana Rodrigues, de 32 anos, que é apaixonada pelo prato. “É uma comida de emoção, que sempre reúne e atrai as pessoas”, destaca.A chef voltou a Quirinópolis algumas vezes. Inclusive para participar do Festival da Chica Doida, que promoveu o concurso que premiou a “chica mais doida”, ou seja, a receita mais original criada a partir do modo de fazer do prato. O intercâmbio com o chef Eduardo Di Castro, que é referência no prato, também foi extremamente positivo. Hoje, Mariana é responsável por prestar consultoria para pamonharias e restaurantes de Goiânia que vendem chica doida. Na prática, ela ensina como o prato deve ser feito para não perder suas características originais.Atenção ao pontoNascida em Quirinópolis e radicada em Goiânia há mais de dez anos, a publicitária Dayanne Pires Vieira Sacardo diz que o erro mais comum de quem se arrisca a preparar a chica doida é o ponto da massa. “Não pode ser nem muito fino, como se fosse um caldo, nem muito grosso. O ponto ideal é aquele da cremosidade parecido com o da pamonha de doce quando quente”, explica. Servir uma chica doida em cumbuca como se fosse um caldo é, segundo ela, um erro imperdoável.Para a chef Mariana Rodrigues, a popularidade do quitute pode ser explicada por vários fatores. “A chica doida é muito democrática e agrada a muitos paladares. Conheço pessoas que não gostam de pamonha, mas adoram chica doida. Ela também é rápida de fazer e foge um pouco do ritual trabalhoso das pamonhas. Sem contar no sabor que a mistura de milho, pimenta e linguiça tem”, ressalta.Para saborearDe receita de família criada por volta de 1958, em Quirinópolis, e saboreada na intimidade dos amigos, a chica doida sofreu adaptações e ganhou status de fast food. Uma pesquisa rápida em aplicativos de entrega de comida prova como o prato faz sucesso em Goiânia. Confira alguns dos lugares onde saborear e pedir a iguaria.QuifoodA empresa vende chica doida congelada nas versões tradicional, apimentada e vegetariana. Há quitutes de 600 gramas e também de 1 quilo, a última feita apenas sob encomenda. O produto pode ser assado no forno ou na fritadeira elétrica.Mais informações: no perfil do Instagram @quifood_ e pelo telefone 99983-7968. À Moda PamonhariaTendo como carro-chefe as pamonhas, o local ganhou fama também pelo sabor da chica doida que segue a receita original de Quirinópolis. A versão à moda da casa, com linguiça, queijo e jiló branqueado, é a mais vendida no local, que também faz entregas.Mais informações: Rua Couto Magalhães, Qd. Y1, Lt. 2, Vila Concórdia. Telefone: 98107-5311. Império do MilhoA casa estampa com orgulho na parede o “prato do dia” da TV Anhanguera justamente por fazer uma das mais saborosas chicas doidas de Goiânia. Há opções como a de linguiça completa - com carne seca, frango, linguiça, queijo minas e muçarela - e a simples sem recheio. O cliente pode ainda abusar de adicionais que vão de cream cheese a salaminho.Mais informações: Av. Domiciano Peixoto, Qd 12, Lt 16, Vila Boa. Telefones: 3290-5158 e 99197-3943. Pamonharia Frutos da TerraAssada no ponto ideal de gratinar por fora e ter textura cremosa por dentro, a chica doida da casa é bem apimentada. Calabresa, bacon, queijo ralado e cheiro verde completam o sabor. Um dos diferenciais da casa é que a chica doida é servida na palha do milho, criando um belo efeito visual.Mais informações: Rua C-234, nº 969, Nova Suíça. Telefone: 3281-4049, e Av. Perimetral, nº 2.110, Setor Oeste. Telefone: 3233-1507.