A história da família de Leodegária Brazilia de Jesus é espantosa em diversos pontos, mas talvez o que mais impressione é sua capacidade de surpreender. Muitas circunstâncias improváveis surgiram na trajetória desta mulher, a começar por suas origens. “Leodegária era filha de um professor que se chamava José Antônio de Jesus, que nasceu em Diamantina e veio parar em Goiás trazido por um cônego do colégio onde estudara. Primeiro veio para Jaraguá, onde conheceu Ana Isolina, mãe de Leodegária”, relata a professora de literatura Goiandira Ortiz.Eles rodaram por várias regiões do Estado. Leodegária, por exemplo, nasceu em Caldas Novas. Depois, a família se instalou na cidade de Goiás, onde as três filhas do casal passaram a infância e a juventude. A futura poeta era a irmã do meio. Nenhuma das três meninas se casou ou teve filhos biológicos. A motivação daquela moça não era exatamente cumprir o papel submisso a que a maioria das mulheres de sua idade era submetida. Leodegária tinha outras ambições e elas se reuniam no conhecimento, no que foi muito apoiada pelo pai, um entusiasta dos estudos.“Ele deu a ela a melhor formação possível. Leodegária tinha muito conhecimento em áreas como filosofia, artes, literatura. Uma intelectual”, define Goiandira. E ela tentou dar prosseguimento aos seus estudos, mas não conseguiu. “Leodegária fez os exames preparatórios para ingressar no curso de Direito, mas naquela época, o fato de ser mulher trouxe muitas dificuldades. Ela não foi aceita de início, mas seu pai insistiu e conseguiu que o teste fosse feito. O resultado, porém, demorou muito tempo a chegar, cerca de cinco anos, e quando veio, eles já estavam saindo de Goiás.”A mudança para o Triângulo Mineiro se deu por conta de um problema de saúde do professor Jesus, que ficou cego devido a uma doença. Para conseguir mais recursos médicos, a família se transferiu para Uberlândia. Estima-se que essa mudança ocorreu por volta de 1910, mais ou menos no mesmo período em que Cora Coralina também saía de Goiás rumo ao Estado de São Paulo. Mais uma similaridade entre as duas, mas, ao contrário de Cora, Leodegária nunca mais retornou. Minas passou a ser sua terra e a literatura só teria mais um respiro em sua biografia.