As buzinas de carros, o barulho do comércio e a agitação dos vendedores ambulantes somem pouco a pouco quando a noite chega no Centro de Goiânia. É nesse momento que o silêncio começa a imperar na região histórica da cidade. No último ano, desde a reabertura de bares e espaços culturais ante a pandemia, diversos empreendimentos têm pipocado pelas ruas e avenidas do bairro, fruto da ideia de arquitetos e urbanistas, jornalistas e empreendedores que desejam dar um pulso de vida na noite do Centro. A região, enfim, tem ganhado novos sons.Espaços como o Zé Latinhas Café-Bar e a Casa Liberté, que ocupam a Rua 8, ou a Carvalho’s Choperia, na Rua do Lazer, criam movimentos urbanos para uma região esquecida e à margem na noite de Goiania. É com desejo de transformação, por exemplo, que o casal de arquitetos Fernando Chapadeiro e Luiza Antunes criaram o Tô Bar, na Rua 20, próximo à Av. Paranaíba. Foi ao imaginar as possibilidades do antigo casarão histórico da Av. Araguaia que o casal Ricardo Alvez e Luisa Libanori Artiaga se juntaram para desenvolver algo novo, o Charminho Bar.Ao preverem as muitas possibilidades do Centro de Goiânia, com todas as suas distinções, os empreendedores criam novas perspectivas para a noite da região. “O Centro não está morto, mas falta investimento, principalmente do poder público”, adianta o arquiteto Fernando Chapadeiro. Já para o arquiteto Áureo Rosa, do Zé Latinhas, ao irem para o Centro, as pessoas estão conhecendo sua própria memória. Acompanhe cinco espaços do bairro que movimentam a noite da cidade.Charme da avenida De longe é possível ver o ponto de luz colorido na Av. Araguaia. É só chegar mais perto para entender o porquê do Charminho ter este nome. Um dos bares que se lançaram no final de 2021 no Centro de Goiânia, o espaço ocupa um antigo casarão histórico que sobreviveu ao longo das décadas no traçado original do arquiteto e urbanista Attílio Corrêa Lima. Para este sábado (21), o espaço abre os portões para a discotecagem especial do DJ João Mateux. “Com pouco mais de oito meses, o Charminho já se tornou um ponto de referência na Av. Araguaia. Os moradores dos prédios próximos e as pessoas que trabalham por aqui até comentam que a região está mais movimentada a noite”, explica o proprietário Ricardo Alvez, que se juntou a esposa, Luisa Libanori Artiaga, para abrir o negócio. “Conseguimos colocar um ponto de luz e cor para a avenida”, diz. Com cardápio variado que alterna bebidas e comidinhas saborosas, o Carminho Bar apresenta uma carta de drinques que vai desde clássicos como o Negroni e a Gin Tônica, até mais elaborados, a exemplo do Caipibreja, união de chopp com cachaça, e o Ice Irish Coffee, que leva Licor Bayley’s, licor de café, café espresso e Jack Daniel’s. Já na parte de petiscos, o bar oferece gostosuras como Bolinho de Risoto, Bruschetta de Queijo Brie e Cajuzinho e Mini Sanduba Vegetariano. Charminho BarAberto de terça-feira à domingo, das 18h às 1hEndereço: Av. Araguaia, 204, CentroInformações: @charminhodaaraguaia Minha casa é um barFoi em busca de uma nova morada que o casal de arquitetos e urbanistas Fernando Chapadeiro e Luiza Antunes encontraram o charmoso sobrado da Rua 20. Do desejo de abrir um local para ocupar o Centro de Goiânia nasceu há mais de seis meses o Tô Bar, que tem dado vida a regiao. “Nós morávamos no Centro, e depois nos mudamos para o Setor Bueno, mas sempre ficou a vontade de voltar à região central. Daí encontramos a casa, que é grande para nós dois. Acabamos criando o bar na parte de baixo”, explica Chapadeiro. Com cardápio especial em opções variadas, há comidinhas elaboradas pelo chef Vinícius Marques, como a lasanha de berinjela, o crocante de polvilho com salada de jiló e o croquete de cupim. Os molhos e geleias, a exemplo do catchup de acerola e a geleia picante de abacaxi, são feitos no próprio estabelecimento. “A gente gosta de cerveja, então a ideia é de que todos os pratos se harmonizem com a bebida, mas também servimos drinques”, diz.A programação do Tô Bar é diversa e vai de shows e discotecagens focadas em pop, rock e brasilidade, até temas específicos, como o forró de São João que deve embalar o local durante todo o mês de junho. O nome do bar, inclusive, é uma homenagem ao cantor e compositor baiano Tom Zé. “A ideia é de que as pessoas sintam-se em casa. Nós, enquanto arquitetos, desejamos retomar a vida noturna da região. O Centro não está morto, ele precisa de incentivo principalmente do poder público”, reitera o empreendedor.Tô BarAberto de quinta à segunda-feira, das 17h30 às 23h30Endereço: Rua 20, 1078, CentroInformações: @tobargoiania O Zé é pop!Memória, ocupação e fomento são três palavras que ajudam a compreender a história do Zé Latinhas Café-Bar, anexo ao antigo restaurante de 1967 que abriu as portas em 2021. Ao longo de pouco mais de 10 meses, o local acabou criando um movimento de ocupação da Rua 8, no Centro e hoje configura como um dos locais mais interessantes para se divertir na capital goiana."Como pesquisador da história recente da região, sabia que os anos de pandemia seriam fatais para essa segregação etária. O Centro está no auge de uma crise de identidade que já dura décadas. Os pioneiros são cada vez menos numerosos", explica o empreendedor Áureo Rosa, que administra o bar do Zé Latinhas. De acordo com o produtor, o esforço de abrir o local no meio da pandemia serviu com a necessidade de que a história goianiense continue a ser contada.Incentivar a ocupação da região histórica de Goiânia e levar vida noturna ao Centro são algumas das ações do Zé Latinhas. Com programações especiais, como shows de jazz e samba, além de discotecagens, o Zé já se tornou ponto cativo na noite do Centro. No sobrado acima do Zé Latinhas há ainda o projeto do Muquifu Cultural, espaço para exposições de arte, fotografia, tatuagem e música. Há, por exemplo, o recém-inaugurado Furnna, espaço multicultural para festinhas, shows e discotecagens especiais. O cardápio do Zé é variado, como agora, que inclui o tradicional Quentão ao lado de drinques, a exemplo do Chá da Noite, que leva saquê, mate e limão. Há também chopp e cervejas especiais. Na aba de comidas e petiscos, um dos pratos mais queridos é a empanada de carne picante e o dadinho de mandioca. Neste sábado (21), o Zé Latinhas Bar ocupa sua calcada com discotecagem dos DJs do projeto Xepa, em uma mistura de Pernambuco e Rio de Janeiro, e da goiana Gabi Matos. Zé Latinhas Café-BarAberto de quarta-feira à domingo, das 16h às 1hEndereço: Rua 8, 485, CentroInformações: @zelatinhas Se essa rua fosse minhaÚnico bar que sobrevive ao abandono público na Rua do Lazer, a Carvalho´s Chopperia aproveita da paisagem do local para ocupar a região. "Depois da última reforma, a Rua do Lazer ficou muito bonita, bem atrativa para as pessoas, só que não houve um trabalho posterior de manutenção e incentivo para que as pessoas ocupem a via", explica a comerciante Camila Lorena Silva. Junto com a proprietária Michelle Carvalho, elas se juntaram para abrir desde o final de 2021 a discreta choperia.Aos finais de semana, pessoas de todas as idades e regiões de Goiânia tem se encontrado na Rua do Lazer. Com apresentações musicais variadas, desde shows de rock, samba e MPB, a choperia tem se tornado um dos pontos importantes da Rua 8. "O bairro precisa de uma vida mais saudável com pessoas que respeitem a memória da cidade e ocupem de forma responsável a rua. Para que isso ocorra, é necessário apoio do poder público e parceria com a polícia militar e a guarda municipal", diz Camila. Por lá, diversas comidinhas, chopes e drinques são oferecidos durante toda a noite. Há, por exemplo, drinques à base de Fiu-Fiu, além de petiscos clássicos do paladar goiano, como quibe com queijo, disquinhos de peixe, bolinho de mandioca e coxinha de asa. Já a cerveja é o carro-chefe do local, com opções de chopps claros e escuros. Carvalho´s ChopperiaAberto de segunda-feira à sábado, das 17h às 0hEndereço: Rua do Lazer, CentroInformações: @carvalhoschopperia Liberdade, liberdadeUma fagulha de resistência no centro da cidade. É com essa descrição que a Casa Liberté se apresenta aos seguidores em seu perfil do Instagram (@casaliberte). O bar, que ocupava uma antiga casa na Rua 19 antes da pandemia, acabou atraído pelo movimento da Rua 8. "Resolvemos aproveitar o fluxo das pessoas na Rua do Lazer, no Beco da Codorna e do próprio movimento criado na Rua 8", conta o empreendedor e jornalista Heitor Vilela. Ao ocupar a calçada da rua, a Casa Liberté cria um fluxo maior de pessoas para a região, em um triângulo que vai do bar Zé Latinhas, passa pelo charmoso Cine Ritz até chegar no espaço criado por Vilela. "O fato de estar na rua faz com que seja mais democrático, acessível. Mesmo aqueles que não estão sentados nas mesas podem usufruir da discotecagem ou do setlist do bar e aproveitar toda a programação que realizamos na rua", explica. O cardápio da Casa Liberté é diverso, mas os mais pedidos são, de acordo com Vilela, os petiscos compartilhados, a exemplo da porção de pastel e as batatas rústicas. Já para as bebidas, o que mais sai são as cervejas e os chopps. Há ainda uma carta de drinques especiais, como o Appletini, feito de vodka, limão e maçã verde, e o Boulevardier, que leva whisky, campari, martini rosso e laranja bahia. Para o sábado (4), a casa promove uma discotecagem especial com o DJ Genor, que leva ritmos da cultura negra e brasilidades para seu set. O bar também segue com a exposição Memória e Resistência: Cartas da Terra, com cartas inéditas que foram trocadas pelo preso político do Movimento dos Sem Terra (MST) José Valdir Misnerovicz, com curadoria de Larissa Pitman. Casa Liberté Aberto de terça-feira a sábado, das 18h äs 1h30 Endereço: Rua 8, em frente ao Cine Ritz. Centro. Informações: @casaliberte