Considerado o mais tradicional e prestigiado da literatura brasileira, o Prêmio Jabuti 2021 agraciou o livro Histórias ao Redor, do escritor Flávio Carneiro, na categoria crônica. Lançado no ano passado pela Editora Cousa, a obra reúne textos que Flávio publicou na coluna Crônicas & Outras Histórias, do POPULAR, entre 2016 e 2018. “Vencer o prêmio é um alento, anima a gente a continuar nessa trajetória”, diz o autor, que é goiano radicado em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro. Os vencedores foram anunciados na noite da última quinta-feira (25/11), em cerimônia transmitida pelo canal do YouTube da Câmara Brasileira do Livro (CBL), que concede o prêmio.Além de escritor, Flávio é crítico literário, roteirista e professor de literatura na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. “Fiquei feliz por vários motivos. Em primeiro lugar, pelo reconhecimento. Ser leitor já é algo difícil no Brasil, porque o acesso à educação, leitura e escrita, infelizmente, é algo que acaba sendo para poucos. Imagina, então, ser escritor em um país cujo governo não dá valor nenhum aos livros”, comenta.Outro motivo de celebração é pelo conteúdo das crônicas escritas por ele. “Esse livro é dedicado às minhas filhas, Maria e Luísa, com histórias ao redor da infância - a minha e a delas - e ao redor da leitura e da escrita”, diz. “Também são histórias ao redor da memória, que é o que de fato nos sustenta, nos deixa de pé e que faz com que a gente continue resistindo”, completa.O gênero contemplado pelo prêmio também é visto por Flávio como uma conquista. “É um gênero tão desprestigiado no país. É difícil até mesmo publicar um livro de crônicas. Esse prêmio é em reconhecimento a esse gênero que é tão importante na nossa história literária desde o século 19”, comenta.Por esse motivo, ele se diz feliz também pelo reconhecimento que a Editora Cousa, que publicou Histórias ao Redor, conquista com a premiação, que já está providenciando uma nova impressão do livro com o selo do prêmio. “É uma editora de Vitória, no Espírito Santo, fora do eixo Rio-São Paulo, que faz um trabalho importante e que precisa de reconhecimento. É um prêmio também a essas iniciativas de pequenas editoras em um país em que as grandes editoras dominam o mercado.”A opinião é compartilhada por Saulo Ribeiro, escritor e editor da Cousa. “Ter uma editora pequena fora do eixo em um prêmio tão importante quanto o Jabuti mostra que estamos no caminho certo. E que nossa literaluta, mistura de literatura e luta, não é de todo vã”, comemora.Saulo diz que, enquanto editor, editar bons livros já é um prêmio, e destaca que o trabalho do autor chamou a atenção desde o primeiro contato. “Quando o livro do Flávio chegou aqui ficamos maravilhados. Eu já sabia que estava destinado a algum prêmio, sim. Mas nunca é certeza. Temos obras excelentes que não chegaram sequer às finais”, comenta.O editor da Cousa também informa que a impressão de uma nova tiragem com o selo da premiação já está na gráfica. “O pessoal já pode encomendar.”Em Histórias ao Redor, Flávio Carneiro retorna às crônicas após o elogiado Passe de Letra: Futebol e Literatura (2009), com textos que publicou em uma coluna no jornal Rascunho, de Curitiba. Quando integrou o time que assina diariamente a seção Crônicas & Outras Histórias, do caderno Magazine, o escritor já pensava em reunir os textos em um livro, como fez na publicação anterior.Parte dos textos que publicou entre 2016 e 2018 no POPULAR vai se transformar em outro livro, Paisagem com Segredo, que sai no ano que vem. “Eu publicava a cada 15 dias, alternando entre textos com mais cara de crônicas e outros com mais jeito de contos”, explica o autor.PremiadosOutros goianos já venceram o Prêmio Jabuti em outras edições. Bernardo Élis ganhou em 1967, por Veranico de Janeiro. José J. Veiga ganhou em 1981, na categoria contos e crônicas, pelo livro De Jogos e Festas e voltou a ganhar em 1983, na categoria romance, por Aquele Mundo de Vasabarros. Edival Lourenço levou o segundo lugar em 2012 pelo romance Naqueles Morros, Depois da Chuva. Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos divulga vencedoresPablo Vinícius Clemente Mathias e João Elias Antunes de Oliveira são os vencedores da Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos de 2021, edição que celebra o centenário de morte do autor. O anúncio foi feito pela União Brasileira de Escritores de Goiás (UBE-GO) em transmissão ao vivo pelo Instagram na terça-feira (23/11). Pablo foi premiado na categoria prosa com a coletânea de contos Tamarindo, que assinou sob o pseudônimo Cyprinus Carpio, enquanto João Elias venceu em poesia com o livro Onde Nascem os Abrolhos, assinado sob o pseudônimo Victor Hugo. O romance Réptil recebeu menção honrosa, assinado sob o pseudônimo Mabuya Frenata.A Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos é o mais antigo prêmio literário brasileiro em atividade e o mais importante de Goiás, promovido pela Prefeitura de Goiânia, com organização da UBE-GO. Anualmente, dois títulos são contemplados pela premiação, um de prosa e outro de poesia. Os vencedores terão suas obras publicadas pela Prefeitura, mediante licitação e receberão um prêmio em dinheiro equivalente a vinte salários mínimos.A banca é composta por três membros reconhecidos na comunidade literária. Em 2021, os jurados foram os escritores José Eduardo Umbelino Filho, representando a UBE-GO, Sandoval Eterno de Souza Lopes, representando a Secretaria de Cultura de Goiânia, e Iuri Rincon Godinho, representando a Academia Goiana de Letras. Criada pelo primeiro prefeito de Goiânia, Venerando de Freitas Borges, em 1944, a bolsa já editou mais de cem livros, muitos deles se tornando clássicos da literatura goiana. Por meio dela, Bernardo Élis, imortal da ABL, publicou a sua primeira obra, o livro Ermos e Gerais.