Filha de musicistas, Vida Altoé, 21 anos, nasceu ao som de uma composição erudita. O parto da menina foi feito, em casa, pelo pai, Églinson, violoncelista cuja destreza, usada para segurar o peso do instrumento e inclinar os dedos sobre as cordas de aço, trouxe a pequena ao mundo. Talvez por isso ela nunca tenha se imaginado vivendo no silêncio, relutância que a guiou para o universo das cadências clássicas e fez do violino seu companheiro inseparável. O caso de amor levou a goiana para a Escola de Música e Artes Cênicas da UFG (Emac), para a Orquestra Sinfônica Jovem de Goiás e, mais recentemente, para mais perto de seu grande sonho: levar o nome do Estado para fora do Brasil. É que Vida foi selecionada para tocar em dois importantes festivais internacionais.O grande problema são os custos da viagem aos Estados Unidos, onde a violinista deve tocar nos dias 1º e 8 de junho. A primeira apresentação será no Summer Music Institute, na Universidade do Novo México, em Albuquerque, e a segunda, no POI Invoic, na Premier Orchestral Institute, em Jackson. A estadia em cada lugar será de aproximadamente sete dias, período no qual a violinista poderá ainda ter aulas com musicistas renomados, assistir a concertos e fazer contatos com instrumentistas de vários lugares do mundo. Para isso, a artista está arrecadando recursos por meio de um financiamento coletivo on-line. A ideia é conseguir juntar, com a ajuda do site Vakinha On Line (www.vakinha.com.br/vaquinha/523337), R$ 5 mil até 2 de junho. Até o fechamento desta edição, a cifra atingida era de R$ 910, mas, levando em conta doações feitas pela família, o montante sobre para R$ 1,5 mil.Não há dúvidas de que o tom das apresentações será de emoção, sentimento que vem modulando a trajetória de Vida nos últimos dois anos, desde que passou a integrar a Sinfônica Jovem, orquestra do Itego em Artes Basileu França. Antes disso, ela passou pela Escola de Música de Brasília, onde estudou ao lado do pai, da mãe e do irmão, pelo Instituto de Artes da UnB e por um período como intercambista da UFG. “Entre 2017 e 2018, frequentei a Emac para me adaptar à universidade e me preparar para o teste de aptidão, que tem um nível muito elevado. Também tive o prazer de conhecer o professor Luciano Pontes, um exemplo de instrumentista pra mim”, recorda, citando também Ayrton Macedo, seu primeiro professor de violino.Sonhar altoMas foi na Orquestra Sinfônica Jovem de Goiás, sob a regência do maestro Eliel Ferreira, que a menina viveu um dos momentos mais marcantes da carreira – até agora. Em março, ela participou do 8º Festival de Música em Trancoso (BA) e pôde tocar ao lado do alemão Leonard Elschenbroich, violoncelista que regeu o concerto de abertura do evento. “Além disso, tive contato com gigantes como o violinista Lorenz Nasturica (primeiro spalla da Filarmônica de Munique) e o maestro Pascoal Osa (fundador da Filarmônica da Espanha)”, lembra. “Episódios assim renovam minhas esperanças e me fazem sonhar alto. Quero chegar longe, fazer o que eles fazem no palco e um dia poder solar pelo mundo. Sei que não será fácil e que meu sonho beira o impossível, mas não pretendo desistir.”Não à toa, Vida precisou de tempo para firmar os pés no chão depois de ficar sabendo que havia sido escolhida para participar do Summer Music Institute e do Premier Orchestral Institute. “Quando recebi a notícia de que havia sido selecionada nos festivais americanos, saí de mim. É uma oportunidade única para fazer contatos e abrir portas, principalmente pelo fato de que, geralmente, artistas brasileiros só são reconhecidos aqui depois que fazem fama fora do País. Além disso, quero criar oportunidades para o futuro”, defende, referindo-se à vontade de fazer mestrado em Performance no exterior assim que terminar a graduação na UFG. “Quando a gente consegue se superar e alcançar um lugar inacessível para a grande maioria, é até difícil de acreditar.”Em busca de perfeição sonora, enquanto aproveita o hoje, Vida não tira os olhos do amanhã – e do trabalho de nomes que são suas grandes inspirações. “Os violinistas que mais admiro são a americana Hillary Han, o russo Maxim Venguerov e o israelita Isaac Perlman. Por aqui, me espelho muito do Luciano (Pontes, professor da UFG) e no Ayrton Coelho Pisco, que aos 19 anos foi primeiro colocado no concurso para o naipe de violinos da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro. Também respeito muito o gaúcho Cármelo de Los Santos, professor de violino na Universidade do Novo México”, enumera.