Três mulheres, três vozes, três maneiras de transformar o silêncio em palavra e a palavra em mundo. Clarice Lispector, Hilda Hilst e Adélia Prado são mais do que autoras — são forças que moldaram a literatura brasileira com inquietação, lirismo e coragem. O projeto Vozes Femininas: Clarice, Hilda &amp; Adélia – Uma Louca, Uma Deusa, Uma Feiticeira propõe um mergulho na escrita dessas mulheres a partir desta quinta-feira (3), às 19h30, no Teatro Sesc Centro.

O evento, que segue até sexta-feira (4), oferece uma programação com mesas-redondas, apresentações artísticas e ações culturais interativas. Promovido pelo Sesc Goiás, o encontro conta com o apoio da Universidade Estadual de Goiás (UEG), da Academia Goiana de Letras e da União Brasileira de Escritores - Seção Goiás (UBE-GO). A entrada é franca, com ingressos disponíveis para retirada no Sympla até 24 horas antes do início das palestras.

O Vozes Femininas contará com nomes importantes. Estão confirmados Marcela Dantés, escritora e autora de Vento Vazio, considerada uma das autoras mais relevantes da literatura contemporânea brasileira; Martim Vasques da Cunha, crítico literário e autor do renomado A Poeira da Glória; e Adalberto de Queiroz, poeta, escritor e jornalista com atuação sólida na crítica literária e que assina quinzenalmente, às segundas-feiras, crônica no POPULAR.

Outros nomes da programação são Chris Resplande, escritora e pesquisadora com atuação voltada para a literatura feminina e suas expressões contemporâneas; Kamilly Barros, escritora e estudiosa da produção literária brasileira com foco em tradição e linguagem; Ademir Luiz, presidente da União Brasileira de Escritores – Seção Goiás; e Thaise Monteiro, atriz que apresentará um monólogo inspirado em trechos das obras das três homenageadas.

Homenageadas

Clarice Lispector (1920-1977) é o mistério que sussurra verdades no ouvido do leitor. Com uma prosa existencial, introspectiva e poética, ela rompeu padrões literários ao colocar a alma feminina no centro da narrativa. Obras como Perto do Coração Selvagem (1943) e A Paixão Segundo G.H. (1964) a consagraram como uma das vozes mais singulares da literatura brasileira. Sua obra inclui também livros para o público infantojuvenil e um vasto número de crônicas.

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Hilda Hilst (Antonio Pirozzelli/Folhapress)

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Polêmica, excêntrica e provocativa, Hilda Hilst (1930-2004), por sua vez, é a ousadia em estado bruto. Poetisa, dramaturga e romancista, explorou os limites entre o erótico, o místico e o filosófico com uma linguagem intensa e provocadora. Seus livros, como A Obscena Senhora D (1982) e Cartas de um Sedutor (1991), desafiam convenções e permanecem atemporais na força e na forma. Seus primeiros livros publicados foram Presságio (1950) e Balada de Alzira (1951). Na carreira, produziu mais de 40 títulos, entre poesia, teatro e ficção, e escreveu durante quase 50 anos.

Adélia Prado, 89 anos, é a ternura que brota do chão da vida. Em seus versos e prosas, o cotidiano se eleva ao sagrado com simplicidade e sabedoria. Desde o lançamento de Bagagem, seu primeiro livro, consolidou-se com obras como O Coração Disparado (vencedor do Jabuti em 1978), O Pelicano e Vida Doida, além de títulos em prosa e literatura infantil. Recentemente, a escritora anunciou o lançamento de um novo livro de poesias após 20 anos de silêncio literário.

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SERVIÇO

Evento: Projeto Vozes Femininas: Clarice, Hilda &amp; Adélia – Uma Louca, Uma Deusa, Uma Feiticeira

Data: 

Quinta-feira (3) e Sexta-feira (4)

Local: 

Teatro Sesc Centro /

Rua 19, Centro

Entrada gratuita

Mais informações:

sescgo.com.br

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Programação 
Quinta-feira (3) - 19h30 às 21h30 
Mesa-redonda: Clarice, Hilda e Adélia: literatura &amp; tradição 
Palestrantes: Martim Vasques da Cunha, Kamilly Barros e Chris Resplande 
Mediação: Ademir Luiz 
Apresentação artística: monóloga com a atriz Thaise Monteiro, com trechos das obras de Clarice Lispector, Hilda Hilst e Adélia Prado

 
Sexta-feira (4) - 19h30 às 21h30 
Mesa-redonda: Clarice, Hilda e Adélia: literatura &amp; rupturas 
Palestrantes: Marcela Dantés, Adalberto de Queiroz e Tainá Côrrea 
Mediação: Ademir Luiz 
Apresentação artística: monólogo com Thaise Monteiro, com trechos das obras das três autoras homenageadas.&nbsp;

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'Vozes Femininas' celebra Clarice Lispector, Hilda Hilst e Adélia Prado

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Palavras que ecoam

“Você tem uma coisa que muitos não tiveram na antropologia: sucesso. Texto acadêmico em geral se escreve com muletas. Você não escreve com muletas, é a Mirian falando.” O elogio vindo de Roberto DaMatta, um dos nomes mais respeitados da antropologia brasileira, marcou um ponto de virada na trajetória de Mirian Goldenberg. Ao ouvi-lo durante o processo de progressão para professora titular da UFRJ, ela compreendeu que estava — livre de jargões e artifícios — no caminho certo. Em seu novo livro, Memórias de uma Antropóloga Malcomportada, a antropóloga Mirian entrelaça décadas de pesquisa com relatos íntimos e corajosos. Compartilha dores da infância, perdas recentes e os muitos desafios enfrentados como mulher, intelectual e pesquisadora que nunca se conformou com os papéis impostos. É nesse fio de memórias e descobertas que ela constrói uma reflexão profunda sobre corpo, envelhecimento, sexualidade, identidade e liberdade. Autora de mais de 30 livros e colunista da Folha de S.Paulo desde 2010, Mirian transformou sua pesquisa sobre envelhecimento em um fenômeno nacional. Sua palestra no TEDx, A Invenção de uma Bela Velhice, já superou 1,3 milhão de visualizações, ecoando seu convite à maturidade sem vergonha, à beleza que não se mede em rugas ou números. Na entrevista ao POPULAR, ela fala da influência de Simone de Beauvoir em sua formação, do impacto da violência doméstica em sua trajetória e do corpo como capital simbólico, um conceito que ajuda a entender as armadilhas sociais que aprisionam mulheres. Em tudo o que escreve, diz e vive, Mirian propõe uma ética da autenticidade: viver com propósito em um tempo dominado pela superficialidade e pelo culto à juventude.

Em Memórias de uma Antropóloga Malcomportada, a senhora entrelaça lembranças pessoais com décadas de pesquisa acadêmica. Em que momento percebeu que era preciso escrever sobre si mesma para seguir refletindo com profundidade sobre temas como corpo, gênero e envelhecimento?

Comecei a pensar nesse livro no dia em que me tornei professora titular da UFRJ, em 8 de maio de 2015. O memorial que escrevi, de 60 páginas, foi muito elogiado, especialmente pelo antropólogo Roberto DaMatta, que disse nunca ter se emocionado tanto com um texto desse tipo. Ali, já esboçava minha trajetória como uma antropóloga mal comportada. Mas foi em 2022, após a morte da pessoa mais importante da minha vida, que precisei escrever para sobreviver à dor e à saudade. Em novembro de 2023, quase morri sufocada num incêndio — e, mais uma vez, escrever foi a minha saída. Esse livro nasceu das minhas perdas. Escrevi com minhas lágrimas. É o livro mais bonito que já escrevi.

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O título do livro dialoga diretamente com Memórias de uma Moça Bem-comportada, de Simone de Beauvoir. De que maneira o pensamento de Beauvoir segue iluminando sua escrita?

É uma homenagem clara à Simone de Beauvoir, principalmente a O Segundo Sexo, que li aos 16 anos e que foi o livro mais importante da minha vida. Em 2019, tive a alegria de escrever a apresentação da edição comemorativa dos 70 anos dessa obra. A foto que acompanha essa apresentação é de Simone nua diante do espelho — e foi exatamente assim que me senti ao escrever este livro: nua no espelho. Foi um livro que escrevi para mim mesma, com coragem, porque nele estão confissões desde a infância até a minha bela velhice. Beauvoir me ensinou que era possível inventar um caminho próprio.

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A senhora compartilha, com muita coragem, passagens dolorosas da infância, como a violência doméstica vivida em casa. Como transformar essas experiências em matéria de reflexão antropológica e também em um caminho de libertação pessoal e social?

Se eu não tivesse tido uma infância tão violenta, com tanto medo, gritos, xingamentos, talvez não tivesse desenvolvido a escuta e a observação que a antropologia exige. Percebi que minha dor não era só minha. A violência verbal, física e psicológica está presente em muitas casas. Transformar meu sofrimento em reflexão sobre a violência virou uma obsessão. Minhas pesquisas têm esse propósito: denunciar a violência e buscar saídas. Esse livro mostra como consegui transformar o que sofri em caminhos de libertação.

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Ao longo da sua trajetória, a senhora foi pioneira ao tratar o corpo feminino como capital simbólico e social. Como essa concepção evoluiu com o passar do tempo, especialmente diante das discussões mais recentes sobre etarismo, autoestima e redes sociais?

Pesquiso isso há mais de 30 anos. Sempre vi o corpo como um capital — e, hoje, esse capital virou uma prisão. Antes, o ideal era o corpo magro; hoje, é o corpo magro, perfeito, sem rugas, sem bigode chinês, sem pálpebras caídas. E quem não se submete a procedimentos estéticos é excluída. Sofro isso agora. Minhas amigas me cobram: por que você não faz? É como se meu rosto natural fosse um espelho que incomoda. Piorou muito. O corpo se tornou ainda mais vigiado. A culpa é nossa por não seguir essa ditadura da juventude.

Seu trabalho com o envelhecimento feminino, como o manifesto das coroas sem-vergonha, provocou debates importantes na sociedade brasileira. Como essa pesquisa dialoga com o conceito de liberdade que a senhora desenvolve ao longo do livro?

Escrevi o Manifesto das Velhas sem Vergonha em 2023, no livro A Arte de Gozar. As mulheres estão se cuidando mais, mas morrem de vergonha de envelhecer, de engordar, de estar ou não estar com alguém. Essa vergonha é cruel. A única saída é se libertar dela. Envelhecer do jeito que se quiser. Ser mais livre, mais autêntica. E isso é o que tento viver e compartilhar.

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A senhora cita ao longo da obra autores como Clarice Lispector, Bourdieu, Rilke, Florestan Fernandes e Guimarães Rosa. Que papel a literatura e a teoria desempenharam na construção da sua autonomia intelectual e no modo como interpreta a condição feminina?

Esses autores não são apenas referências; são mestres que me ensinam a escrever com mais profundidade. Simone de Beauvoir, claro. Mas também Leila Diniz, que não era escritora, Clarice, Rubem Alves... Cada um deles me ensinou algo: a escrever com verdade, a escutar bonito, a transformar tristeza em beleza. Eles me ensinaram a ser essa antropóloga malcomportada.

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Ao longo da carreira, suas pesquisas e falas sobre temas como sexualidade, corpo e velhice enfrentaram resistência. O que isso revela sobre os limites da crítica social no Brasil e sobre os tabus que ainda persistem?

Sofro isso todos os dias — preconceito, tabu, arrogância, competição. Não só na academia, mas nas redes sociais também e entre meus leitores. Vivemos uma polarização cruel, entre pensamento libertário e conservador. Há quem queira destruir o outro por pensar diferente.

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No livro, a senhora escreve que só encontrou liberdade quando deixou de viver para agradar ao patriarcado e passou a agradar a si mesma. Que aprendizados essa escolha lhe trouxe?

Na verdade, eu não digo isso. Pode ter sido uma leitura do meu livro. Não escrevi que parei de querer agradar. O que afirmo é que tenho um propósito de vida. Para mim, valores como amizade, amor, coragem, empatia e verdade são fundamentais. Falo sobre envelhecimento há mais de 30 anos, não porque está na moda, mas porque é o meu propósito. E isso, para mim, não tem preço.

"As mulheres morrem de vergonha de envelhecer", afirma Mirian Goldemberg

Entrevista

O cantor e compositor Dante Ventura se apresenta nesta terça-feira (17), às 20 horas, no Teatro Sesc Centro. Ele será acompanhado pelos músicos Fridinho (guitarra), Lucas Moraes (violoncelo) e Ricardo Paniago (percussão). Além de novas perspectivas de músicas consagradas da sua banda Guetsu, como Provar, Miragem e Som Blue, o público terá a chance de conferir releituras de canções do seu trabalho solo, como Slow Down, Céu de Mercúrio e Barco Novo, dentro de um formato mais intimista. O show terá entrada gratuita com retirada de ingressos pela plataforma Sympla.A apresentação integra o projeto Dante Ventura Solo, aprovado na Lei PNAB – Plano Nacional Aldir Blanc, por meio do Edital de Seleção de Projeto nº 10/2024 - Fomento à Música/ Circulação, cujos recursos são operacionalizados pelo Governo de Goiás por meio da Secult Goiás. A iniciativa prevê a realização de outros shows gratuitos em escolas estaduais nas cidades de Cocalzinho, Corumbá de Goiás, Alto Paraíso, Jaraguá e nos povoados de Olhos D’Água e Abadiânia Velha, todos com ações inclusivas de acessibilidade. Natural de Goiânia, Dante Ventura começou sua jornada profissional no final da década de 1990. Logo, teve grande repercussão como vocalista da banda Guetsu, que se tornou um dos principais expoentes do pop rock no estado, tendo participado ativamente da cena musical local. O cantor e compositor desenvolveu um trabalho consistente com sua banda de 1998 até 2013, lançando dois álbuns: Guetsu (2000) e Atemporal (2003).Em 2014, se lançou em carreira solo, tendo participado de grandes eventos no estado de Goiás. Nessa fase, apresentou o álbum Homem Solar, buscando transcender rótulos e divisões musicais, focando na força da mensagem transmitida por meio de suas canções. Desde 2023, realiza o Festival Guardiões da Arte, que utiliza a arte como forma de conscientização em prol da natureza. SERVIÇOShow: Dante Ventura Solo Data: Terça-feira (17), às 20hLocal: Teatro Sesc Centro / Rua 15, CentroEntrada gratuita com retirada de ingressos 24h antes da apresentaçãoClassificação indicativa: livreInformações: www.sympla.com.br

Dante Ventura faz show nesta terça-feira (17) no Teatro Sesc Centro

Som intimista

Sobre um cupinzeiro, jaz o corpo de um vaqueiro, morto de mágoa, de saudade e de um remorso não admitido. No oco de um tronco de uma velha árvore, o roceiro enfia a mão e sente a pontada da serpente que lhe dá o bote certeiro e que será mortífero caso ele não tome a decisão mais radical de sua existência. A praga que atormenta a tranquilidade de gente enfurnada no sertão e que é desfeita pela figura mítica que anda a pular pelas matas. Nos caminhos dos bois e das mulas, histórias deslembradas que levam espanto e medo a quem as ouve em noite sem lua. Coisas do interior que ganham as imensidões do Cerrado e do nosso imaginário, em narrativas curtas e versos bem manejados que ajudam a inaugurar um outro tipo de literatura sertaneja. E tudo vem da pena de um goiano.

Hugo de Carvalho Ramos, com o volume de contos Tropas e Boiadas, foi o artífice precoce não necessariamente de um gênero, mas de uma transformação em lidar com o que se costumou denominar de “literatura regionalista”. Nascido há 130 anos – em 21 de maio de 1895 – na casa onde também passaria sua infância e adolescência, no Largo do Chafariz, na antiga Vila Boa de Goiás, ele foi um menino tímido, às vezes adoentado, mas sempre curioso. Dentro de uma personalidade retraída crescia um escritor extraordinário, que muito cedo revelou um talento incomum para compor uma literatura que aliava a linguagem das pessoas do campo com um rigor na forma que poucos alcançaram. Mais de um século após sua morte abrupta e em plena juventude – ele se suicidou em 1921, nove dias antes de completar 26 anos de idade –, o autor parece ser mais reconhecido hoje que no seu tempo.

“Para mim, o que mais me fascina no Hugo de Carvalho Ramos é esse impulso criativo e essa inquietação tão típicos da juventude”, afirma Roberto Borges, dono do selo Ercolano, que no ano passado publicou, em dois volumes, as Obras Reunidas do escritor. O projeto traz não só o clássico Tropas e Boiadas, como também seus poemas – muito bons, por sinal – e textos esparsos, nomeados de Plangências em edições anteriores. Consta que Hugo de Carvalho Ramos teria, em uma das crises nervosas que sofria por conta da depressão, queimado os originais de uma obra já completa. “Há uma originalidade ímpar na forma como ele mistura a tradição literária europeia com a alma profunda do interior de Goiás; uma fusão que só um espírito jovem e destemido ousaria fazer”, acrescenta Roberto.

O fato de haver uma aposta tão audaciosa em torno dos escritos de Hugo de Carvalho Ramos demonstra que o interesse por seu legado apenas cresce e amadurece. No Banco de Teses e Dissertações do Portal da Capes, espaço onde ficam depositados os estudos acadêmicos defendidos em todo o Brasil, constam 27 trabalhos de Mestrado e 14 de Doutorado realizados sobre o autor. Desses, 12 foram feitos na década de 1990, 11 na primeira década dos anos 2000, 13 entre 2010 e 2020 e outros 10 só nos últimos 5 anos, o que demonstra um crescimento do número de pesquisadores que se propõem a escrutinar sua obra. Muitos são feitos em instituições goianas, como a UFG e a PUC Goiás, mas há estudos desenvolvidos, por exemplo, em universidades de Minas Gerais e São Paulo.

Maria José Alves é uma das pessoas que atualmente pesquisam Hugo de Carvalho Ramos em nível acadêmico. Aluna do mestrado do Programa de Pós-Graduação em Letras da PUC Goiás, ela investiga como o cinema tem trabalhado a obra do escritor, analisando, por exemplo, o curta-metragem Ninho de Periquitos, adaptação de um dos principais contos de Tropas e Boiadas, dirigido e realizado pelo cineasta Wilmar Ferraz, tendo o ator Chico Diaz vivendo o protagonista da história. “Durante muito tempo, uma pergunta nos acompanhou: de onde viemos antes mesmo de nascer? Com o passar dos anos, as reflexões foram ganhando mais coerência, e então começamos a buscar respostas em quem veio antes — nossos pais, avós e ancestrais”, explica Mazé Alves, como a pesquisadora, que também é atriz, produtora e jornalista da Agência Brasil Central, é mais conhecida profissionalmente.

“A partir dessas conversas, passamos a nos reconhecer enquanto indivíduos inseridos em uma sociedade, em um determinado tempo histórico. Descobrimos nossos costumes, nossa cultura, nossa economia e, principalmente, começamos a entender nosso próprio comportamento”, observa Mazé. “Foi assim, guiada por esse olhar atento à nossa história, que me debrucei sobre as origens do povo goiano. E, nesse percurso, uma certeza se consolidou: sem a literatura de Hugo de Carvalho Ramos – nosso maior expoente do regionalismo –, a gente não teria a sensação de pertencer a lugar algum. Em sua única obra, Tropas e Boiadas, ele nos entrega mais do que histórias; oferece memória e identidade”, ressalta. Isso levou Mazé a buscar mais conexões com o legado do autor.

“O mais curioso – e, diria, até encantador – é que, após dois anos mergulhada em leituras, releituras e pesquisas, além de ter participado ativamente da produção audiovisual sobre sua trajetória – assinei a direção de elenco do filme acadêmico inspirado na novela Gente da Gleba, que, aliás, recebeu o mesmo nome do livro, Tropas e Boiadas, sob direção de Wilmar Ferraz –, Hugo de Carvalho Ramos deixou de ser, para mim, uma figura distante da literatura. Tornou-se quase um vizinho, desses com quem a gente cruza na porta de casa e puxa uma boa prosa. Uma sensação bem típica do nosso jeito goiano de ser.” Essa proximidade de que fala Mazé parece ser uma das chaves para compreender as razões que fazem de Hugo um autor que não só fez relativo sucesso em vida, mas que permaneceu.

“Desenvolvi e tenho desenvolvido pesquisas, filmes e ensaios biográficos sobre Hugo nas últimas reedições de Tropas e Boiadas, incluindo as Obras Reunidas, e vejo que Hugo está cada dia mais atual. Revisitar a sua obra é mergulhar no passado que nos revela o quanto ainda precisamos evoluir como seres humanos, quando ele faz denúncias de maus tratos, trabalhos sob regime de servidão e tantas outras que ainda estão latentes na nossa sociedade”, argumenta o cineasta Lázaro Ribeiro. Ele dirigiu a cinebiografia Hugo, que foi lançada com sucesso na edição do Festival de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA), na cidade de Goiás, em 2017. Para realizar o trabalho, Lázaro, que também é historiador, mergulhou em documentos, jornais e até itens pessoais, tocando em temas delicados.

“Essa ousadia, aliada a uma linguagem refinada e sensível, faz com que sua obra ainda ressoe hoje, talvez até mais do que em seu próprio tempo. Hugo toca em temas universais com uma voz absolutamente singular. É essa combinação rara que, acredito, mantém seu nome vivo e instigante para leitores contemporâneos”, aponta Lázaro. “Revisitar Tropas e Boiadas é um mergulho em um sertão de dentro para percebermos o quanto as nossas tradições são fortes e que precisamos salvaguardá-las, além da preservação do nosso Cerrado”, reforça Mazé. Olhando para o sertão sem estereótipos, vendo nesse pedaço do Brasil toda a sua riqueza natural e humana e criando tramas que seduzem e fazem incandescer questões profundas, Hugo fez de sua obra um marco cada vez mais perene.

Nesses 108 anos desde que foi lançado, Tropas e Boiadas ganhou, em diferentes décadas, 20 edições. Algumas delas se destacam, como a da prestigiada Livraria José Olympio Editora, do Rio de Janeiro, em 1965, com capa assinada por Luís Jardim, ilustrador de clássicos de grandes nomes da literatura brasileira, como livros de Guimarães Rosa, Gilberto Freyre e Rachel de Queiroz. Outro trabalho elogiado foi a edição de 1998 realizada pela Editora da UFG. Em 2006, o Instituto Centro-Brasileiro de Cultura lançou o box Biblioteca Clássica Goiana do Século XX, no qual Tropas e Boiadas era o primeiro volume da lista. Isso não impediu que durante alguns períodos, a obra só pudesse ser encontrada em sebos e bibliotecas. Hoje, porém, ela voltou às livrarias, pelos selos Ercolano e Chafariz.

 
Tropas e boiadas admiradas

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Lázaro Ribeiro, autor da cinebiografia Hugo: “Essa ousadia, aliada a uma linguagem refinada e sensível, faz com que sua obra ainda ressoe hoje, talvez até mais do que em seu próprio tempo” (Marcello Dantas)

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A primeira edição de Tropas e Boiadas foi publicada no Rio de Janeiro, pela Revista dos Tribunais, em 1917. Esse fato não é menor na carreira de um jovem escritor que havia saído da cidade de Goiás e ido estudar na então capital da República, como era o caso de Hugo de Carvalho Ramos. Quem quisesse ser lido no Brasil daquele tempo precisava encontrar espaço no mercado editorial carioca. Lá ficavam as grandes editoras e livrarias, as rodas literárias se formavam naquela cidade em transformação, sede da Academia Brasileira de Letras e da Universidade do Brasil. Lá eram publicados os principais jornais e as mais prestigiadas revistas. E o autor goiano havia conseguido espaço suficiente para, por exemplo, ter um texto seu lido na revista Fon-Fon, uma das mais populares da época.

Logo após seu lançamento, Tropas e Boiadas recebeu a atenção de críticos relevantes, como Antônio Torres e Medeiros e Albuquerque, ganhando também resenhas de veículos de grande circulação, como o Jornal do Comércio. Não são poucas as demonstrações de que a única obra publicada por Hugo de Carvalho Ramos em vida foi influente já em seu tempo, circulando entre pessoas que reconheciam seu valor. Se não fosse assim, ele não teria recebido uma proposta de reedição de Monteiro Lobato, em 1920, que Hugo recusou. Em 1922, um ano após sua morte, seu livro ganhou uma nova edição pelo selo do criador do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Hugo não chegou à glória de outros contemporâneos seus, mas sua obra possivelmente teria ficado mais conhecida se não tivesse morrido tão cedo.

Uma das principais experts em Hugo de Carvalho Ramos é a crítica literária goiana Albertina Vicentini, que defendeu uma tese de doutorado na Universidade de São Paulo (USP) sobre o escritor e tem um livro de referência dedicado ao autor: A Narrativa de Hugo de Carvalho Ramos, pela Editora Perspectiva. Ela atesta, em texto publicado na edição do selo Ercolano das Obras Reunidas do autor, que Hugo “influenciou outros escritores de porte, como Bernardo Élis, Carmo Bernardes, Bariani Ortencio e Eli Brasiliense” e que “é reconhecido nacionalmente pelos principais críticos da literatura brasileira como escritor canônico, ao lado de Afonso Arinos, Valdomiro Silveira, Simões Lopes Neto, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa”, com uma literatura regionalista que também fazia denúncias.

Ecos de Hugo em autores posteriores, como Rosa e Graciliano, são constantemente apontados, até mesmo com algumas semelhanças de linguagem ou na forma de condução da narrativa por espaços inóspitos do interior. Em sua tese de doutorado, intitulada O Regionalismo de Hugo de Carvalho Ramos, Vicentini escreve que ele pode ser apontado como “um autor de transição na corrente, dando ao seu regionalismo tardio um lugar que pode ser balizado por três grandes escritores brasileiros: Euclides da Cunha, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa”. Por outro lado, o crítico Alfredo Bosi elege Hugo como um dos principais contistas regionalistas do Brasil, ao lado de Simões Lopes Neto e Monteiro Lobato, já que eles “superam seus avatares românticos”.

 
Vida sertaneja, vida breve

Definir a obra de Hugo de Carvalho Ramos pode ser uma tarefa traiçoeira. Há o risco de defini-lo como autor de um regionalismo específico, que tratou das questões de um sertão ainda não desenvolvido econômica e culturalmente, com muitas áreas isoladas e no qual, não raramente, a lei era tíbia e o poder se concentrava nas mãos de coronéis pouco afeitos ao diálogo ou se negavam a reconhecer em seus capatazes – quando não servos – um semelhante. A lógica do mais forte prevalecia, simultânea a um embate incessante com a natureza ainda a ser domada, com seus animais peçonhentos e ferozes, suas matas fechadas cheias de perigos, seus rios e correntezas que levavam almas e suas lendas que assombravam incautos que se perdessem por estradas ermas e encruzilhadas malditas.

Mas Hugo de Carvalho Ramos, ainda que visite todos esses temas com maestria singular, não é um mero descritor de exotismos, como muitas vezes tenta-se definir autores que se concentram em narrativas regionalistas. Sim, esse estereótipo já não funciona como quando o termo foi cunhado, com toda sua carga pejorativa. Autores como Guimarães Rosa, com as veredas mineiras, e Graciliano Ramos, com as asperezas de cenários onde a seca dominava, ajudaram a desacreditar preconceitos que apenas estreitavam visões sobre os universos que tais narrativas traziam desde antes. Um antes que inclui o escritor de Tropas e Boiadas, considerado como uma espécie de autor de província para aqueles que não souberam lê-lo, mas revelando-se um ficcionista do que há de universal na alma humana.

Pouco antes de completar 26 anos, Hugo de Carvalho Ramos morreu, aproximando-se de alguns de seus personagens mais trágicos. “Ao amanhecer de 12 de maio, levantou-se. Foi à sala de jantar, abriu a janela, cigarreou. Desassossegado, recolheu-se novamente ao dormitório. Minutos depois a mesma cena se repete. Mas ao voltar pela segunda vez aos aposentos, já não se governava. Era uma sombra de si mesmo. Vencido afinal pela suprema angústia, a razão cede ao sofrimento supremo. E ao clarear da manhã seu corpo se dependurava da escápula da rede, inerte.” É assim que Victor Carvalho Ramos, irmão do autor, descreveu seu suicídio, em uma residência no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. Desalento, luto, tristeza que dialogam com vaqueiros, tropeiros, roceiros de seus contos.

Gente da Gleba, Caminho das Tropas, Caçando Perdizes, A Madre de Ouro, Pelo Caiapó Velho, Dias de Chuva são algumas das narrativas que fazem de Tropas e Boiadas um dos livros mais poderosos de seu tempo. E é impressionante que seu autor, ao publicá-lo, contasse apenas 22 anos de idade. Não temos a impressão de ler algo escrito por um rapaz tão jovem, já que a maturidade exala de cada linha. A maturidade de enxergar em homens e mulheres do interior algo muito maior do que painéis rasos e repetidos de uma parte da população menos cosmopolita. Maturidade em se indignar diante da opressão e da desigualdade, da pobreza de muitos e da bonança de poucos, da forma brutal com que gente e animais eram tratados, mas também por reconhecer a grandeza desses espíritos.

Filho de Manuel Lopes de Carvalho Ramos, juiz de Direito da antiga capital de Goiás que veio da Bahia para cá, e de Marianna Loyola Ramos, natural de Vila Boa, ele teve uma infância letrada. Segundo um apanhado biográfico escrito pelo cineasta e historiador Lázaro Ribeiro, publicado no volume Obras Reunidas, o pai de Hugo presidiu o Gabinete Literário Goyano, local que também era bastante frequentado por sua mãe. O próprio Manuel publicou um livro, Os Gênios, que ele lançou no ano do nascimento de Hugo. Colega de Cora Coralina, ambos pupilos da lendária professora Silvina Ermelinda Xavier de Brito, a Mestra Silvina, Hugo era um leitor ávido, que ia de Goethe a Eça de Queirós. Educação esmerada e a ida para o Rio de Janeiro deram-lhe a oportunidade de unir dois mundos.

Ele o fez em sua literatura, a exemplo de outros grandes que enveredaram por caminhos similares. Hugo tinha conhecimento do sertão por ter vivido 17 anos naquela Goiás do início do século passado. Quando o pai morreu, em 1911, ele se juntou aos irmãos na capital federal no ano seguinte, logo após completar os estudos no Lyceu de Goyaz. Segundo Lázaro Ribeiro, o escritor participou de concursos literários e enviava textos para jornais. Um deles, dedicado ao escritor João do Rio, foi publicado e o próprio autor de A Alma Encantadora das Ruas enviou um bilhete agradecendo e querendo conhecer o goiano. Ele, porém, jamais se esquecia de suas raízes. Elas eram imprescindíveis para seu futuro, uma vez que sustentariam a literatura que procurava propor e realizar, como chegou a fazer.&nbsp;

Suas ambições literárias estavam apenas começando com Tropas e Boiadas. Em seu texto, Lázaro traz uma carta de Hugo de Carvalho Ramos endereçada à sua irmã, Ermelinda, escrita no primeiro dia de 1912, pouco antes de sua transferência para o Rio de Janeiro. Nela, o escritor afirma que tinha “em encubação um vasto e soberbo plano”, que definia como “uma apoteose da vida do sertão, não como Euclides da Cunha a escreveu, mas mais suave, com cambiantes de luz e sombras leves a lilás, à elegia, ao ditirambo, à epopeia e ao idílio”. Sem dúvida, é um grande projeto literário. Os contos de seu único livro provam que não era um delírio, mas uma realidade factível e imensamente bela. É uma pena que a vida tenha sido tão breve para Hugo, a exemplo do que foi para tantas de suas criações.

Por que a obra de Hugo de Carvalho Ramos continua conquistando leitores mais de um século após sua morte?

O sertão é o tempo todo

Como a cobertura jornalística de eventos trágicos de grande dimensão, como desastres naturais, incêndios ou quedas de aviões, vem sendo realizada no decorrer do tempo? E o que está por trás do interesse midiático na cobertura de despedidas de pessoas célebres? Esses são alguns dos temas abordados no livro Morrer em Público: Sensacionalismo, Fetichização e Sadismo em Coberturas Jornalísticas de Tragédias e Falecimentos de Pessoas Notórias em Portugal e no Brasil, do jornalista e professor Rogério Borges, que será lançado na próxima terça-feira (27), às 18 horas, na Livraria Palavrear, no Setor Leste Universitário.

A obra é resultado de sua pesquisa de pós-doutorado, em que o autor analisou materiais de veículos de comunicação de referência em Portugal e no Brasil, tentando identificar similaridades e diferenças entre o trabalho que é desenvolvido nos dois países em diferentes épocas. “Dividi a análise em duas grandes partes: uma que falasse da morte de pessoas célebres e outra com a morte de pessoas anônimas. No segundo caso, peguei principalmente catástrofes coletivas”, explica.

Os eventos incluem desastres naturais, incêndios, naufrágios, quedas de aviões e acidentes com outros meios de transporte, ocorridas do final do século 19 ao início dos anos 2000. Para fazer a correspondência entre os dois países, o autor buscou eventos mais ou menos próximos no tempo e na natureza deles. Um deles foi o incêndio de Pedrógão Grande, em 2017, em uma estrada no distrito de Leiria, em Portugal. No Brasil, usou como episódio correspondente os deslizamentos no Estado do Rio de Janeiro em 2011, causados por fortes chuvas e que deixaram quase mil mortos.

“Em Portugal há uma grande quantidade de trens, que eles chamam de comboios, e houve acidentes muito terríveis, como o de Custóias. Busquei um de natureza parecida no Brasil, que foi o naufrágio do Bateau Mouche, no Rio de Janeiro”, comenta. Conhecido como o Desastre Ferroviário de Custóias, o evento deixou 90 mortos e 105 feridos em 1964. Já o naufrágio da embarcação Bateau Mouche IV ocorreu às 23h50 do dia 31 de dezembro de 1988, matando 55 pessoas. O barco seguia em direção à praia de Copacabana, onde os 150 passageiros assistiriam à queima de fogos de artifício do réveillon.

Na outra parte da pesquisa, Rogério selecionou reportagens sobre as mortes de líderes políticos, escritores, esportistas e artistas nos dois países, do início do século 20 ao começo do século 21. “Dividi em algumas categorias, como escritores do passado. Fiz uma comparação da cobertura da morte de Machado de Assis e do Eça de Queiroz. Também entre a morte do Carlos Drummond de Andrade e do José Saramago”, conta.

As análises também incluem as cantoras Amália Rodrigues e Marília Mendonça, os líderes políticos Tancredo Neves e António Salazar e esportistas como Ayrton Senna e o jogador de futebol português Eusébio. A pesquisa, no entanto, não ficou apenas nos comparativos. No livro há também relatos e análises mais pontuais, como a cobertura da doença e da morte do Cazuza, do Pelé, da Elis Regina e diversos outros.

“Assim como também há exemplos de não espetacularizar isso, onde cito, por exemplo, o livro Olho da Rua, da Eliane Brum, em que ela traz alguns relatos muito fortes sobre o final da vida”, diz o autor, destacando os livros-reportagens como alternativas para escapar do sensacionalismo e aprofundar questões que são trazidas pela morte. A pesquisa pretende ser uma contribuição no sentido de aprimorar determinados comportamentos da imprensa diante da dor alheia, reiterando que alguns procedimentos devem ser repensados para que a morte não sirva de espetáculo.

O livro é editado pelo selo Insular, de Santa Catarina, e já está disponível em formato de e-book no site da editora. O evento começa às 18 horas, na Livraria Palavrear, ocasião em que versões físicas da obra estarão à venda no valor de R$ 100. “Vai ser um encontro para a gente compartilhar esse momento em um espaço especial. Acho a visita a uma livraria sempre bom, um momento para ver os livros e, quem sabe, acabar levando um. Minha vida tem muito essa relação com o objeto livro, seja na minha casa ou na minha profissão. Uma livraria é, com certeza, o lugar onde eu mais me sinto bem”, diz.

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SERVIÇO

Evento:

Lançamento do livro Morrer em Público, de Rogério Borges

Data: 

27 de maio, terça-feira

Horário:

a partir das 18h

Local:

Livraria Palavrear (Rua 232, 338 - Setor Leste Universitário)

Entrada gratuita

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Motivação 
A pesquisa de Rogério foi realizada durante os anos de 2022 e 2023, na Universidade Fernando Pessoa, na cidade do Porto, Portugal, sob a supervisão do professor Jorge Pedro Sousa, que assina o prefácio. Rogério Borges é repórter especial do POPULAR e atua como professor no curso de Jornalismo da PUC Goiás, no Programa de Pós-Graduação em Letras da PUC Goiás e no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFG.

Apesar de ser uma pesquisa de comunicação, Rogério conta que a motivação para abordar o assunto em seu pós-doutorado veio do seu “eu” leitor de ficção. “Acho sempre muito interessante como a ficção na literatura ou no cinema trata dessa questão do final da vida. É sempre um mistério, e o que eu acho interessante é que sempre há muitas abordagens criativas a respeito”, comenta.&nbsp;

Em Contar para Viver: História, Jornalismo e Literatura em Narrativas Biográficas e Autobiográficas, seu último livro, Rogério tratou sobre biografias. Nele, o autor investiga as muitas maneiras de se fazer biografia e autobiografia, sobretudo quanto à elaboração dos discursos dentro do gênero, a partir de diferentes vieses e autores. “Uma biografia é esse ponto do início ao final de uma vida. Esse final sempre foi muito instigante para mim”, diz.&nbsp;

A partir dessa curiosidade em outras áreas, ele decidiu levar o assunto para a comunicação, em especial o jornalismo. Em paralelo, Rogério pesquisava sobre o assunto dentro da antropologia, filosofia, sociologia, psicanálise e literatura. “Tentei unir todas essas áreas para tentar entender de alguma maneira essa nossa atração pelo desconhecido, que é o fim da vida, algo que é descrito desde o princípio dos tempos”, aponta. A matemática pensada pelo autor busca abordar o tema de forma mais aprofundada e interdisciplinar.