O gerenciamento dos equipamentos públicos, o apoio medular à classe artística, tão afetada pela pandemia da Covid-19, e a continuidade da Lei Municipal de Incentivo são alguns desafios para Zander Fábio Alves da Costa, que assume a Secretaria Municipal de Cultura (Secult Goiânia). Em meio a polêmica com direito a levantamento de ficha e acusações que pesaram contra ele enquanto gestor público, o ex-vereador da capital foi nomeado nesta semana novo titular da Pasta. Não faltaram críticas de entidades ligadas ao setor que debateram a indicação do novo gestor. Autointitulado cantor sertanejo e nos bastidores tido como muito bem quisto pelo prefeito Rogério Cruz, o novo secretário é formado em Geografia pela PUC- Goiás e nascido em Anicuns, a 74 km de Goiânia. Foi vereador por Goiânia durante dois mandatos: entre 2013 e 2016 pelo Partido Ecológico Nacional (PEN), e entre 2017 e 2020, pela coligação Goiânia Vida e Paz, do Patriota. Desses períodos de atuação, no site da Casa Zander aparece com 187 projetos. A maioria é proposta de título de cidadão goianiense, alteração de nome de rua e homenagens.Durante a atuação na Câmara, Zander também esteve à frente de projetos relacionados à proteção animal e causas ambientais. Em 2019, por exemplo, apresentou projeto de lei que proibia o uso de chicotes em animais na capital. No mesmo ano, destacou em projeto a concessão de descontos ou isenção de tributos às pessoas que adotarem animais. No calendário oficial do município, instituiu o Pet Day, celebrado em 4 de outubro, e discutiu a extinção do Zoológico de Goiânia.São raros os projetos para área cultural. Em junho de 2020, já durante a pandemia, conseguiu ter aprovado projeto de lei que institui o Festival Goiânia On-line, com apresentações musicais e espetáculos cênicos feitos em casa. O evento, no entanto, ainda não foi realizado. Em 2015, ele causou também debate na Câmara quando apresentou um projeto que visava criar diretrizes para a política municipal de promoção da cidadania LGBTTI. A proposta contou com oposição sistemática da bancada evangélica da Casa.Mas nem tudo tem tom positivo na trajetória. Em 2014, ele foi condenado a nove anos de prisão pelos crimes de peculato e formação de quadrilha. A condenação se refere a esquema de desvio de verbas na extinta Companhia de Obras do Município (Comob), da qual foi diretor em 2000. Na época, ele foi afastado do cargo e teve bens bloqueados pela Justiça. Como a condenação ocorreu apenas em primeira instância, ele aguarda novo julgamento em liberdade.Já no início de 2020, Zander Fábio foi condenado novamente por fraudes nas bilheterias do Parque Mutirama e do Zoológico. Conforme investigação do Ministério Público, foram desviados quase R$ 2 milhões, em um esquema entre 2014 e 2017, no primeiro mandato de vereador. Zander também recorreu e responde em liberdade.Música e esporteZander Fábio diz ser músico e cantor sertanejo, apesar de não ter trabalhos disponíveis na internet. É piloto de Fórmula 200 e um dos goianos campeões na categoria. Conquistou prêmios em torneios na década de 2000 e foi pentacampeão do Centro-Oeste. Em entrevista na quinta-feira para a TV Anhanguera, o secretário afirmou que não quer “promover caça às bruxas” e que o desejo é apoiar artistas e produtores em meio à crise. Nesta sexta-feira, ele tinha entrevista marcada com O POPULAR, mas poucas horas antes sua assessoria entrou em contato desmarcando a conversa, solicitando que primeiro ele se inteirasse dos assuntos da Secult para que só então fale com a reportagem.Em nota, entidades do setor cultural, como Go Filmes, Associação Brasileira de Festivais e Circo Laheto, criticaram a nomeação. As associações também destacam a importância da valorização da economia criativa e os desafios da gestão para as artes. “Desconhecemos qualquer atuação do ex-vereador na área cultural. Nossa cidade tem nomes capacitados para essa missão que conhecem o setor cultural e possuem compromisso social no desenvolvimento de políticas públicas. Inserir a Secult como moeda de troca no tabuleiro político pode comprometer não somente o setor cultural de Goiânia, mas todo o desempenho do prefeito à frente de sua gestão”, diz a nota.Desafios da gestãoZander Fábio assume a Secretaria Municipal de Cultura (Secult Goiânia) em meio à crise do setor artístico. Com equipamentos públicos fechados há mais de um ano, caso do Museu de Arte de Goiânia (MAG) e da antiga Estação Ferroviária, e projetos paralisados, como o Chorinho e o Sons de Mercado, os trabalhos da Pasta têm sido adaptados para versões digitais. Outro desafio é a ocupação e continuidade da recém-inaugurada Casa de Vidro, no Jardim Goiás. O local prevê um centro cultural multimídia, com salões, auditório e teatro.Questão emergencial da Secult Goiânia, o edital de 2020 da Lei Municipal de Incentivo à Cultura não foi lançado em 2020, rompendo a continuidade de uma das políticas públicas culturais mais relevantes do Estado. Na época, o então secretário Kleber Adorno justificou o não lançamento da lei por conta da contingência de gastos públicos perante a pandemia. “Vamos lançar um novo edital em 2021 como uma forma de apoiar e incentivar os artistas e profissionais da cultura de Goiânia”, garantiu Kleber em entrevista ao POPULAR, em janeiro.