Como “a Argentina depende muito do Brasil, e ambos compartilham espaços comuns na política internacional”, o presidente eleito no país vizinho, Javier Milei, tende a manter uma relação mais pragmática que ideológica. É o que avalia o cientista político Carlos Ugo Santander, especializado em estudos comparativos sobre a América Latina, professor doutor da Faculdade de Ciências sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG), cursando pós-doutorado na Universidade de Salamanca, Espanha. Embora no Brasil o ultraliberal argentino seja associado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que já anunciou que irá à posse em 10 de dezembro, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja visto como ligado ao peronismo, Santander minimiza tais aproximações. Para ele, há menos pontos em comum entre Milei e Bolsonaro do que parecem supor os bolsonaristas. Já o peronismo, “embora tenha suas raízes nos movimentos sociais de esquerda ou vinculados a ideologia nacional populista, possui atualmente diversas correntes” e também nelas prevalece o pragmatismo. Diante de grave crise econômica e 143% de inflação anual, a maioria dos eleitores argentinos apostou em promessas de dolarização e privatização feitas pelo ultraliberal Milei, que também afirmou que fechará o Banco Central e cortará os atuais 18 ministérios para apenas 8. Mas sem contar com maioria no Congresso, lembra o pesquisador, o novo presidente argentino enfrentará dificuldades para converter em ações os discursos ideológicos.