Após conseguir sair da Ucrânia, o goiano Gabriel Costa contou ao POPULAR a angústia e os traumas da guerra. Ele vivia em uma das regiões mais afetadas e foi acordado às 4 horas do dia 24 de fevereiro pelas explosões no aeroporto de Kiev, ao lado do apartamento em que morava.“Uma hora tenho muita tristeza, outra hora muita alegria, uma hora eu penso que era melhor ter ficado na Ucrânia, uma hora penso que tenho que mudar de país e não voltar mais pra Ucrânia porque a Ucrânia nunca mais vai ser a mesma. Acho que não caiu a ficha totalmente”, relata.O administrador de empresas e marketing conseguiu sair da Ucrânia quatro dias depois de fugir da capital Kiev, com a brasileira Cris Nedashkovskaya e duas ucranianas. Gabriel tentou fugir para a fronteira com a Polônia, mas recebeu informações de que havia uma grande fila de carros no local.O grupo acabou conseguindo sair do país pela fronteira com a Moldávia, no dia 28, após 30 horas de fila. Eles ainda dirigiram ao longo da Romênia, Hungria, Eslováquia e República Tcheca até chegar na Alemanha."Vi caças russos fazendo vôos rasos por cima dos carros. Vi tantas barricadas do exército, pessoas chorando por falta de comida, por falta de combustível, porque o carro estragou e não tinha mais como arrumar e estavam lá. Eu vi muita coisa", contou Gabriel.Os quatro estão hospedados na casa de uma alemã amiga da brasileira Cris. "Cada dia que eu durmo, eu não sei qual é a notícia que eu vou ter amanhã e isso me desespera muito. Estou na Alemanha, com a cabeça da Ucrânia e o coração na mão."Gabriel explicou que eles pretendem passar pelo menos duas semanas na Alemanha acompanhando o desdobramento da guerra da Ucrânia. "Se eu sentir que daqui a duas semanas a guerra vai se estender por muito tempo, é melhor tomar uma decisão para um tempo mais longo."O goiano relatou ainda que a situação na Alemanha é tranquila, apesar do temor dos alemães de que a guerra avance para outros países da Europa. Ele disse que está muito abalado e que não consegue retomar suas atividades profissionais. "Todos os meus projetos e trabalhos bagunçaram muito. Estou agora tentando organizar. Não estou conseguindo concentrar.”Gabriel mantém contato com seu namorado, que permanece em Kiev, além de amigos brasileiros e europeus. “Eu estou tentando conversar com meu namorado pra ver se ele sai de Kiev, mas está difícil de convencer porque ele está com a tia dele. Estou em contato com praticamente todos os estrangeiros que eu conheço, pessoas do trabalho que são da Angola e que ainda estão lá. Alguns deixaram a Ucrânia, outros não.”O administrador também contou sobre a importância do acolhimento que recebeu ao chegar à Alemanha. Cris Nedashkovskaya conheceu a alemã no Brasil, em Belém do Pará. “Ela foi a primeira a escrever para a Cris. Ela de verdade abriu as portas, foi buscar roupas pra gente, fez comida, fez de tudo pra gente se sentir em casa. A gente veio pra tentar descansar.”