Friedrich Merz caminha para ser o próximo primeiro-ministro da Alemanha. A liderança do conservador nas pesquisas, ainda que signifique uma guinada em diversos aspectos da política alemã, não supera o fato de que o mundo estará prestando mais atenção ao segundo lugar.

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Neste domingo (23), na eleição parlamentar que define a 21ª legislatura do país no pós-guerra, a extrema direita deve alcançar seu melhor resultado em 90 anos. 
 
Partido criado em 2013 para confrontar a condução econômica da Europa e que se degenerou rapidamente ao abraçar bandeiras populistas e xenófobas, a AfD (Alternativa para Alemanha) busca o resultado histórico com visibilidade quase planetária. Na esteira da vitória de Donald Trump, nos Estados Unidos, a legenda com integrantes investigados por discurso de ódio e neonazismo foi naturalizada por Elon Musk e incensada por diversos integrantes da "internacional reacionária".

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A expressão cunhada no mês passado pelo presidente da França, Emmanuel Macron, reflete a preocupação da Europa democrática com o futuro político da Alemanha, sua maior economia, e com o do próprio continente. Em maior ou menor grau, a onda populista já prevalece em diversos países da União Europeia, como Itália, Holanda, Hungria e Áustria, mas alcançará novo patamar com uma presença forte no Bundestag, o Parlamento alemão.

Há bem mais em jogo do que o recrudescimento das políticas imigratórias ou recuos na questão ambiental, tão cara aos alemães. O discurso recente de J. D. Vance, vice-presidente americano, na Conferência de Segurança de Munique, chocou os europeus. Boris Pistorius, ministro alemão da Defesa, classificou a fala de Vance de inaceitável. "Ele compara a condição da Europa com o que está acontecendo em autocracias."

Vance criticou o Brandmauer, ou firewall, a prática do campo democrático de isolar a extrema direita no Parlamento. Repetiu a cantilena de que a liberdade de expressão é confrontada pela rígida legislação digital da União Europeia. A inversão de papéis e prioridades se completou nos dias seguintes, quando Trump se aproximou de Vladimir Putin e chamou Volodimir Zelenski de ditador.

A Europa se vê agora entre concordar com a Rússia, sua maior ameaça existencial, ou encarar sozinha o apoio à Ucrânia em uma guerra que acontece em seu território.

O conflito e suas consequências consumiram a coalizão de governo montada em 2021 por Olaf Scholz, 66. A inédita elevação de gastos com defesa, para 2% do PIB, deprimiu uma economia já estagnada. A matriz energética dependente do gás russo teve que ser repensada às pressas e com alto custo. Uma austeridade excessiva, condicionada por um freio da dívida pública, versão local do teto de gastos, piorou o cenário. Foi uma discussão sobre o instrumento que pôs fim à coalizão e precipitou a eleição, antes prevista para setembro.

Os alemães vão às urnas preocupados com o bolso. Greves pipocam pelo país desde o fim do ano passado. Na última semana, repleta de visitantes para o Festival de Berlim de cinema, a capital alemã ficou dois dias sem ônibus e metrô.

Merz, 69, promete destravar a economia, investindo contra a burocracia e a regulamentação excessiva e promovendo a digitalização. Absorveu também o discurso linha-dura da extrema direita contra a imigração, como boa parte dos conservadores europeus. Nessa ofensiva, arranhou o firewall, ao propor uma legislação restritiva e aceitar votos da AfD. Centenas de milhares foram às ruas para criticá-lo.

O político da CDU afirma que nunca fará uma coalizão com a legenda extremista e que não reagir aos recentes episódios de violência protagonizados por imigrantes só fará aumentar o apoio à AfD. O último aconteceu na noite de sexta-feira (21) em Berlim. Um refugiado sírio esfaqueou um turista espanhol que visitava o Memorial do Holocausto. A polícia prendeu o suspeito e investiga suas motivações. O homem agredido foi operado e está fora de perigo.

Surfar a onda populista de uma crise imigratória não é apenas opção ideológica da extrema direita alemã, mas talvez seu único argumento. Na área econômica, por exemplo, as soluções da AfD são histéricas: a saída da Alemanha da União Europeia e a volta do marco alemão. O potencial de desastre fez empresas alemãs de grande porte deixarem de lado a tradicional isenção para se posicionar contra um governo populista.

A líder da AfD, Alice Weidel, 46, vinda do mercado financeiro, ainda fala em derrubar as torres eólicas do país. Sua excelente formação, fluente até em mandarim, não bate com a agenda do próprio partido. Assim como sua vida pessoal --é casada com uma cineasta nascida no Sri Lanka, enquanto a AfD defende o "casamento tradicional".

Antes da atual campanha eleitoral, ela projetava seu partido no poder até 2029. Anabolizada por Musk, os EUA e a urgência da questão imigratória, agora prevê estar em uma coalizão de governo bem antes. "A AfD restará como sua única alternativa", disse Weidel a Merz no último debate do atual Parlamento, há duas semanas.

O conservador repetiu que não governará com a oponente. "Vocês são tudo o que não somos."

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Com Musk, EUA e imigração, extrema direita busca resultado histórico em eleição na Alemanha

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Eleição 

O governo de Donald Trump admite em documento judicial desta segunda-feira (31) que cometeu um "erro administrativo" ao deportar um salvadorenho para El Salvador, mas que os tribunais americanos não têm o que fazer para trazê-lo de volta, uma vez que o homem não está sob jurisdição dos Estados Unidos. 
 
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A admissão de erro é a primeira desde o início do governo Trump e de sua política mais agressiva contra imigrantes, que inclui deportações aceleradas e sem ordens judiciais de remoção, feitas com base em lei de guerra de 1798. 
 
O homem deportado, Kilmar Abrego Garcia, foi um dos enviados à temida prisão Cecot (Centro de Confinamento do Terrorismo), em El Salvador, em voos de deportação realizados em março e bloqueados pela Justiça americana, que agora analisa se o governo republicano pode fundamentas as remoções nessa lei do século 18 e se desrespeitou o bloqueio dos voos.

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Garcia não tem contato com a família desde que foi detido por agentes do ICE, o serviço de migração e alfândega dos EUA. A defesa do governo reconhece o erro da agência: "No dia 15 de março, embora o ICE estivesse ciente de que ele tinha proteção contra deportação para El Salvador, Abrego Garcia foi removido para El Salvador devido a um erro administrativo", afirmam os advogados no texto.

Entre vários argumentos, o governo afirma porém no documento que a Justiça americana não possui jurisdição para ordenar o retorno de Garcia agora que ele está sob custódia de El Salvador.

Em entrevista coletiva, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, sustentou a posição do governo. "Mantemos a posição de que este indivíduo deportado não irá retornar ao nosso país e era um membro da brutal gangue MS-13", afirmou ela.

Leavitt reforçou que o governo possui informações de inteligência que comprovam não só a participação, mas também a liderança do homem na gangue. Essas informações não foram apresentadas, contudo, assim como não foram discriminadas evidências no documento judicial em que o erro administrativo foi admitido.

"Para quem esse juiz trabalha? Um juiz de imigração, que trabalha para o Departamento de Justiça, sob a direção da secretária de Justiça, Pam Biondi, que se comprometeu a erradicar o MS-13 da nossa nação", afirmou a porta-voz quando questionada por jornalistas se o governo achava correto ignorar ordens judiciais de que não gostava.

O vice-presidente dos EUA, J. D. Vance, afirmou em publicação no X que o homem era um integrante do MS-13 já condenado. "É nojento ficar irritado com a deportação de membros de gangues e ignorar os cidadãos que são vítimas deles", escreveu.

A MS-13 é uma gangue de origem salvadorenha nascida nos anos 1980 em Los Angeles, que Trump declarou como organização terrorista junto de outros grupos criminosos, como a venezuelana Tren de Arágua e cartéis narcotraficantes do México.

A gestão argumenta ainda, no documento judicial, que é mais relevante o que o presidente decide sobre política externa do que os interesses pessoais do deportado. "Embora se reconheçam as dificuldades financeiras e emocionais para a família de Abrego Garcia, o interesse público em não retornar um membro de uma gangue criminosa violenta aos Estados Unidos supera esses interesses individuais", diz o texto -a família de Garcia rejeita acusações de que o homem era membro de gangue.

O advogado do salvadorenho, Simon Sandoval-Moshenberg, em entrevista à revista The Atlantic, questionou os argumentos apresentados pelo governo acerca da ausência de poder do tribunal para ordenar a soltura de Garcia. "Se isso fosse verdade, as leis de imigração perdem todo sentido, todas elas, porque o governo pode deportar quem ele quiser, onde e quando quiser, e nenhum tribunal pode fazer qualquer coisa uma vez que a deportação ocorra."

Garcia chegou aos EUA aos 16 anos, em 2011, fugindo justamente da ameaça de gangues em seu país. Em 2019, recebeu proteção legal de um juiz de imigração americano, que concluiu que Garcia seria alvo de gangues em El Salvador caso fosse deportado, segundo documentos judiciais.

De acordo com seu advogado, Garcia é casado com uma cidadã americana e pai de uma criança de 5 anos com deficiência, que também tem cidadania americana. Ele não possui antecedentes criminais nos EUA, ainda segundo sua defesa.

Seu advogado diz que o governo Trump acusa falsamente seu cliente de ser membro de gangue provavelmente com base em um incidente de 2019. Na ocasião, Garcia foi detido com mais três homens no estacionamento de um mercado em Maryland; um deles teria acusado Garcia de integrar a gangue, mas não ofereceu provas, e a polícia também não o identificou como tal.

Em seguida à detenção, Garcia foi entregue ao ICE. O governo, então, ainda sob Joe Biden, afirmou que o homem era membro da gangue com base em um informante. A família de Garcia entrou com processo para evitar a deportação e recebeu a proteção legal que existia até ele ser removido em março. O governo americano chamou Garcia de um "perigo para a comunidade" e membro ativo da MS-13.

Governo Trump admite deportação por engano de homem para El Salvador e diz não ter o que fazer

Estados Unidos 

Após nove horas de reunião na Arábia Saudita nesta terça (11), negociadores da Ucrânia e dos Estados Unidos divulgaram um comunicado segundo o qual Kiev se compromete a aceitar um cessar-fogo na guerra com a Rússia em troca do início de negociações de paz.

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É a primeira vez, em pouco mais de três anos de conflito, que um dos lados aceita uma trégua para discutir a paz. Negociações entre Moscou e Kiev ocorreram antes, mas foram abortadas logo no começo do conflito, e houve uma frágil pausa em combates no Natal ortodoxo de 2023.

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Falando a repórteres, o pai da oferta, Donald Trump, disse estar otimista. "Acho que teremos um cessar-fogo nos próximos dias", afirmou, dizendo que deverá ligar para o presidente russo, Vladimir Putin. "São precisos dois para dançar um tango", resumiu.

Pouco antes, seu secretário de Estado, Marco Rubio, havia adotado a mesma linha "A bola está com a Rússia. O melhor gesto de boa vontade que os russos podem ter é aceitar o acordo", afirmou ele, que liderou a delegação americana.

"A Ucrânia expressa prontidão em aceitar a proposta americana para decretar um cessar-fogo provisório de 30 dias, que pode ser estendido por acordo mútuo entre as partes, e que está à disposição para aceitação e implementação pela Rússia", diz o comunicado conjunto do encontro.

Segundo o texto, "os EUA irão comunicar a Rússia, e a reciprocidade russa é a chave para chegar à paz". Em um vitória para Kiev após semanas sendo bombardeada politicamente por Trump, "os EUA irão levantar imediatamente a pausa no compartilhamento de inteligência e retomar a assistência de segurança à Ucrânia".

"A Ucrânia aceita essa proposta, nós a consideramos positiva e estamos prontos para dar esse passo. A Ucrânia está pronta para a paz", disse o presidente Volodimir Zelenski em um comunicado à parte. Até a semana passada, ele era chamado por Trump e por Rubio de alguém que não queria encerrar o conflito.

Zelenski estava em Jeddah, onde encontrou-se com o príncipe herdeiro do reino, Mohammed bin Salman, mas sua delegação foi encabeçada pelo chefe de gabinete, Andrii Iermak. Ao fim do encontro, o poderoso auxiliar publicou que as conversas "haviam sido muito produtivas".

Os reais termos de acordo ainda não são conhecidos. Antes do encontro, Rubio havia deixado claro que Kiev não poderia contar com suas fronteiras anteriores a 2014, quando Vladimir Putin anexou a Crimeia. Hoje, o russo domina 20% do país.

Questionado por repórteres acerca do tema das garantias de segurança de longo prazo para manter a paz, o assessor de Segurança Nacional dos EUA, Mike Waltz, disse que o tema foi discutido, sem dar detalhes. Trump quer empurrar isso para a Europa, aliás ausente em Jeddah, mas na prática ninguém sabe o que fazer: uma força de paz ocidental é rejeitada hoje pelo Kremlin.

Também nada se sabe ainda sobre o acordo de exploração de minerais estratégicos ucranianos, que havia sido negociado e depois suspenso quando Zelenski e Trump bateram boca na Casa Branca, na sexta retrasada (28). A expectativa é de que o acerto seja retomado: após o anúncio na Arábia Saudita, o americano disse que irá convidar o ucraniano a voltar a Washington.

MOSCOU VAI SER INFORMADA DE TERMOS

A única manifestação em Moscou foi da chancelaria, que disse de forma lacônica "que não descartamos contatos com os americanos nos próximos dias", um tom abaixo do "seremos informados pelos EUA" de mais cedo.

Antes também, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, havia alertado a políticos do país empolgados com o alinhamento da Casa Branca à Rússia no conflito que "não colocassem óculos com lentes róseas". "É sempre bom esperar pelo pior", disse.

Se foi presciente acerca do encontro em Jeddah, duas semanas após uma delegação de Moscou se encontrar com o mesmo Rubio e outros negociadores em Riad, a capital saudita, ainda não se sabe, mas o tom geral nesta terça parecia na superfície favorável a Zelenski.

O próprio Rubio buscou tirar a impressão de vaivém do chefe, que vem sendo criticado mesmo nos EUA por sua proximidade com a visão de Putin do conflito. "Isso é coisa séria. Não é 'Meninas Malvadas', não é algum episódio de alguma série de TV. isso é bem sério", afirmou, citando uma comédia adolescente de costumes.

Particularmente ruim para Moscou é a volta da assistência, embora seus termos também não tenham sido divulgados, logo depois de Kiev tentar mostrar força com o maior ataque de Kiev na guerra.

KIEV FEZ MAIOR ATAQUE HORAS ANTES DA REUNIÃO

Ele ocorreu poucas horas antes do encontro, com o envio de 343 drones contra diversas regiões russas. O foco em Moscou deixou três mortos perto da capital, a segunda ocorrência do tipo até aqui.

O duro ataque visava passar uma mensagem de força em um momento de pressão militar e política extrema sobre a Ucrânia, com Kiev talvez acreditando que Trump só entenda a linguagem da força.

O momento é péssimo em campo para a Ucrânia, não só pelas perdas territoriais no leste para os russos, mas pelo avanço de Moscou na retomada da região de Kursk, invadida por Zelenski para servir de ficha de barganha em negociações. Nesta terça, a Rússia anunciou ter reconquistado 100 km2, deixando Kiev com menos de um quarto do que havia dominado em agosto passado.

Quando foi à Casa Branca, na sexta retrasada, Zelenski falou grosso sobre o alinhamento de Trump com Putin acerca dos motivos da guerra e, em troca, recebeu uma descompostura pública inédita para um presidente.

A crise já vinha cozinhando desde o dia 12 de fevereiro, quando o americano ligou para o russo e começou um processo de negociação bilateral sem Kiev ou a Europa. Houve vaivéns e Rubio chegou com palavras relativamente suaves à Arábia Saudita, que havia sido palco do primeiro encontro com os russos, há duas semanas.

Mas ele repetiu o que Trump vinha dizendo, por sua vez repetindo Putin: era preciso saber se Zelenski quer a paz. O ucraniano mostra que está disposto a lutar, mesmo que só com o apoio dos europeus, para não receber um prato feito pelos russos e americanos.

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Ucrânia aceita cessar-fogo; EUA dizem que bola está com Putin

negociações de paz

Comércio de Goiás com os EUA

A tarifação de produtos importados, que o governo de Donald Trump já está impondo ou ameaçando a seus parceiros comerciais, pode ter reflexos na economia goiana. Produtos como o aço e o alumínio, por exemplo, serão taxados em 25% e Goiás é grande produtor de bauxita. O estado também pode ser prejudicado se houver taxação sobre as exportações de carnes e açúcares. Mas a política unilateral americana também pode gerar oportunidades de estreitamento das relações comerciais do Brasil com outros países.

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Goiás exporta mais carnes, minérios e açúcares para os Estados Unidos. Ainda não se sabe quais produtos podem ser taxados, mas especialistas alertam que essa política pode reestruturar as cadeias de fornecimento, com mudanças na rota do comércio exterior, pela tendência de busca de novos parceiros comerciais.&nbsp;

A analista de Comércio Exterior da Federação das Indústrias de Goiás (Fieg), Juliana Tormin, explica que o estado exporta cortes desossados e congelados para os americanos, que aplicam uma cota anual de 65 mil toneladas para carne bovina brasileira com tarifa zero. Vendas acima da cota são sujeitas a uma tarifa de 26,4%. Goiás também exporta carne de frango para os EUA com tarifas que variam conforme o tipo de produto e acordos comerciais específicos.&nbsp;

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O estado possui uma indústria significativa de ferroligas, essenciais para a produção de aço nos EUA. Produtos semimanufaturados de ferro ou aço não ligado já enfrentam uma tarifa de 7,2%. De acordo com a analista, os EUA estabelecem cotas anuais para a importação de açúcar, que podem ter tarifas reduzidas ou isenção. Volumes que excedem as cotas já estão sujeitos a tarifas muito elevadas.&nbsp;

“As tarifas de importação dos EUA variam conforme a categoria do produto e os acordos comerciais. Produtos do agronegócio, como carnes e açúcar, podem ter tarifas baixas ou serem isentos dentro de cotas específicas, enquanto industrializados, como ferroligas, geralmente enfrentam taxas mais altas”, explica. Se os EUA aumentarem as tarifas, a competitividade de produtos goianos no mercado norte-americano diminui, resultando numa possível queda nas exportações. “Isso afetaria setores estratégicos do estado, como o agronegócio e a mineração, trazendo desafios para a economia local”, alerta.

Por outro lado, segundo Juliana, há possibilidade de benefícios indiretos: se os EUA aumentarem as tarifas sobre produtos de concorrentes como China, México e Canadá, produtos goianos podem ganhar competitividade lá, abrindo novas oportunidades para as exportações do estado. Ela vê um potencial de crescimento para fabricantes de máquinas, equipamentos e peças industriais, caso as tarifas dificultem a importação desses itens da China e do México.&nbsp;

“Goiás possui um setor industrial diversificado, com capacidade para atender parte da demanda americana em segmentos como ferramentaria, peças automotivas, equipamentos agrícolas e bens de capital”, lembra a analista. Ela acredita que este cenário pode impulsionar novos investimentos e parcerias comerciais, fortalecendo a indústria local e ampliando as oportunidades de negócios.&nbsp;

Ao mesmo tempo, regiões como Ásia, Europa e Oriente Médio podem absorver parte das exportações goianas, diversificando destinos e reduzindo a dependência do mercado norte-americano. “A Gerência de Negócios Internacionais da Fieg oferece soluções para a abertura e expansão de mercados internacionais, fortalecendo a competitividade”, informa Juliana.&nbsp;

Segundo ela, a entidade busca ampliar oportunidades comerciais por meio da assinatura de Memorandos de Entendimento (MOU) com diversos países, facilitando o acesso das indústrias goianas a novos mercados e reduzindo os riscos da concentração de exportações em poucos destinos. Até o momento, já foram firmados acordos com Índia, Congo, Chipre e Taiwan. Novas negociações estão em andamento com Finlândia e Suécia.

Se o Brasil reduzir tarifas sobre produtos americanos, a indústria nacional enfrentaria maior concorrência de bens importados, afetando setores estratégicos como o automotivo, farmacêutico e de máquinas e equipamentos. Além disso, a redução de tarifas poderia desestimular a produção local de insumos. Por outro lado, a queda nos custos de importação beneficiaria empresas que dependem de máquinas, fertilizantes e produtos químicos importados, tornando a produção mais competitiva. “O desafio é encontrar um equilíbrio entre estimular a indústria local e garantir acesso a insumos estratégicos a preços competitivos”, diz.

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Commodities

Em Goiás, que produz bauxita nos municípios de Barro Alto e Santa Rita do Novo Destino, a mineração será a primeira impactada pela tarifa de 25% anunciada por Trump, pois as empresas americanas são compradoras do alumínio goiano. Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Mineração de Goiás e Tocantins (Minde), Luiz Vessani, a tarifação pode aumentar o custo e reduzir o preço, afetando o mercado em Goiás.&nbsp;

Ele prevê o início de uma jornada intensa de negociações e que esses 25% serão ajustados numa nova ordem de relações econômicas. De qualquer forma, Vessani acredita que as perspectivas de exportações de minérios esfriaram e devem ficar aquém do previsto para 2025, pois rearranjos não acontecerão do dia para a noite.&nbsp;

Os EUA devem importar menos commodities e todo mundo deve buscar mercados alternativos, o que significa derrubar preços. “Mas o Brasil é campeão de custos de logística e impostos. Nosso produto tem baixa competitividade natural e é difícil colocá-lo no exterior”, alerta.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados no Estado (Sindicarne), Leandro Stival, acredita que, neste momento, apesar das declarações de Trump, as diplomacias devem se entender, voltando à normalidade do comércio internacional. “Não acredito em taxação excessiva porque é uma carne destinada à indústria de processamento, para fazer hambúrguer, por exemplo. Eles precisam de parceiros como o Brasil para produzir alimentos processados”, diz. Comprando no Brasil, os americanos contam com um preço acessível para atender seu mercado, num momento em que a pecuária americana passa por uma crise na produção de bezerros, com redução no volume de abates.

As usinas do setor sucroalcooleiro goiano também podem ser afetadas, caso haja uma tarifação sobre o açúcar. Para o vice-presidente do Conselho de Administração da Adial Goiás e empresário do setor sucroalcooleiro, Otávio Lage de Siqueira Filho, por enquanto, Trump está dando tiros pra todo lado e não se sabe se serão apenas ameaças. “De qualquer forma, isso deve mexer no mercado mundial de commodities”, prevê.&nbsp;

Ele analisa que reflexos no comércio mundial podem ser positivos ou negativos, com impactos na inflação. Um dos objetivos de Trump é uma equivalência tarifária. O Brasil cobra tarifa de 18% para importar álcool dos EUA e ele já fala em cobrar também. “Temos cotas de exportação para os EUA e pode ser que venha taxação acima da cota”, adverte. Apesar de Goiás exportar pouco volume para os EUA, se este açúcar for colocado no mercado interno, pode haver pressão nos preços.

Tarifas dos EUA são oportunidades e desafios para Goiás

Economia

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Matéria - Economia

Comércio exterior

O cenário é incerto, porque o presidente dos EUA, Donald Trump, faz uma afirmação hoje e muda amanhã, mas o governo brasileiro precisa trabalhar alternativas, medindo possíveis impactos, que vão depender muito da reação do Brasil. A avaliação é do superintendente de Comércio Exterior e Atração de Investimentos da Secretaria de Indústria e Comércio, Plínio Viana.“Implementar tarifas de importação pode significar um tiro no próprio pé, como o aumento da inflação americana”, projeta Viana.

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Por aqui, o excedente de produção agrícola pode ser encaminhado para a China ou até outro país asiático, o que pode impactar a lei de oferta e procura, com variação de preços no mundo. Viana alerta que se o Brasil optar pela reciprocidade e taxar produtos dos EUA, será um problema maior para Goiás, que importa muitos insumos e equipamentos dos americanos, o que elevaria o custo para a indústria, preços e inflação.&nbsp;

No geral, ele prevê que os efeitos devem ser instabilidade de câmbio e das políticas internas. Considerando os produtos mais exportados por Goiás para os EUA em 2024, teríamos mercados alternativos. A questão é o preço. “Se a oferta mundial aumentar, o preço cai e o governo federal precisaria dar um apoio temporário a esses segmentos e viabilizar acordos com países interessados”, explica.&nbsp;

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/economia/tarifas-dos-eua-s-o-oportunidades-e-desafios-para-goias-1.3238856" target="_blank">Tarifas dos EUA são oportunidades e desafios para Goiás</a></div>

O mercado interno pode ser o destino de alguns produtos, mas o governo também precisaria garantir um preço mínimo e uma uniformidade de distribuição para não quebrar produtores e indústria.

O consultor em relações internacionais e comércio exterior da Fieg e professor da Unialfa, Carlos Stuart Palma Júnior, lembra que o que já está confirmado é a imposição de tarifa de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio, que afeta diretamente Goiás, que produz bauxita.

Mas o consultor alerta que tudo pode ser uma oportunidade com outros países, como a China, que vai retaliar os EUA, com a taxação de produtos primários. “Os chineses já anunciaram que vão taxar milho, soja, aves e proteínas dos EUA, o que pode ser uma grande oportunidade para nós, concorrentes diretos deles nestes produtos. Goiás pode ser fornecedor, com preços mais competitivos”, avalia.

A médio e longo prazos, este posicionamento unilateral dos EUA deve gerar instabilidade no comércio internacional e levar a uma reestruturação das cadeias de fornecimento, com parceiros comerciais dos EUA se organizando e se aprovisionando de fornecedores mais estáveis e alinhados com organismos como a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Canadá e México foram afetados e são países que estão aumentando seu fluxo de comércio internacional com o Brasil e devem buscar novos mercados. Palma lembra que, neste ano, vários contatos foram feitos pela Agência de Promoção de Exportações (Apex) e Itamaraty com o México e muitas instituições privadas já estão promovendo missões comerciais para lá. Goiás pode exportar mais produtos para estes países.

Na visão do professor de Relações Internacionais da PUC-GO e diretor executivo do Instituto Ágora Pesquisas, Leandro Bernardes, a guerra comercial é marcada por um retrocesso da globalização, onde cadeias produtivas são encurtadas e fragmentadas e se impõem obstáculos para todas economias nacionais e governos subnacionais, como Goiás. Impor tarifações leva a um esfriamento da economia global, reduz a intensidade e a velocidade dos fluxos comerciais e afeta setores produtivos, especialmente de commodities, a especialidade de Goiás.&nbsp;

“Há um cenário pessimista, mas também de oportunidades. A partir do momento em que os EUA dificultam acesso de produtos goianos a seu mercado, isso pode estimular o estado a buscar novos parceiros, especialmente na Ásia e Europa”, prevê. O cenário pessimista é que o mercado americano deve comprar menos mercadorias chinesas e haverá menos reservas internacionais para a compra de commodities de Goiás.

Para o presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Goiás (Acieg), Rubens Fileti, num primeiro momento, o impacto é negativo porque já existem acordos em andamento para importação e exportação e refazer contratos não é fácil. Mas a tendência é migrar para outros lugares. “Nosso mercado interno não suporta ficar com esta produção e haverá procura por outros mercados”.

Ele acredita que se esta guerra comercial continuar, a rota do comércio exterior pode mudar. “A Ásia não vai deixar por isso mesmo, o que pode abrir portas para o Brasil, com oportunidade de novos mercados. O risco é aumentar a inflação no mundo todo porque as tarifas sempre são repassadas para os preços dos produtos”, alerta. Por outro lado, se não tiver como escoar algum produto e ele ficar no mercado interno, o preço pode cair. “Depende da demanda e dos mercados novos que podemos conseguir”, diz.

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