A cidade de Moggio Udinese tem cerca de 1.600 habitantes. Por ocupar um território de montanha, aos pés dos Alpes Julianos, que separam a Itália da Áustria, a maior parte das casas se concentra em poucas ruas. Duas delas são familiares, ao menos no papel, para mais de 80 brasileiros que tiveram a cidadania italiana reconhecida de 2018 a 2024. Segundo investigação iniciada pela polícia e agora aos cuidados do Ministério Público, uma casa na Via Abbazia e outra na Via Traversigne foram indicadas de forma falsa como local de moradia de brasileiros que obtiveram a cidadania ali por direito de sangue. Os dois endereços ficam a cerca de 100 metros da prefeitura, responsável pelos processos. Seis pessoas —quatro funcionários da administração municipal, um brasileiro e uma albanesa— foram indiciadas pelo suposto esquema. Uma notificação da Promotoria aos investigados, à qual a reportagem teve acesso, diz que esse grupo "comprovava falsamente a existência", nesses dois imóveis, de "situações de moradia habitual" para brasileiros descendentes de italianos. Com isso, garantia "o requisito legal necessário para a inscrição nos registros da população residente e, consequentemente, para o sucessivo pedido e obtenção do status de cidadão italiano iure sanguinis [direito de sangue]" para eles e seus filhos menores de idade.