O segundo dia da campanha militar russa contra a Ucrânia começou com uma intensificação do cerco à capital do país, Kiev. Forças de Vladimir Putin voltaram a bombardear a cidade, desta vez com efeitos mais claros sobre civis. Soldados russos já operam na cidade.À pressão militar, o Kremlin já abriu as portas para uma negociação de paz sob seus termos. Segundo o porta-voz Dmitri Peskov, Putin aceita enviar delegação a Minsk (Belarus) para discutir “a neutralidade da Ucrânia” com uma missão do presidente Volodimir Zelenski.Os russos querem o vizinho renunciando a entrar nas estruturas ocidentais, Otan (aliança militar) e a União Europeia.A coreografia seguiu com um comunicado chinês, segundo o qual Putin disse em conversa com o líder Xi Jinping estar pronto para negociar.Algumas horas depois, Putin voltou a atacar Zelenski, sugerindo que as Forças Armadas ucranianas deveriam derrubá-lo. “Parece que será mais fácil para nós nos acertarmos com vocês do que com essa gangue de viciados e neonazistas”, disse em uma entrevista à TV. O movimento militar confirma a hipótese de que a Rússia de fato mirava Kiev como seu principal alvo nesta guerra, ainda que haja combates e ataques ocorrendo em quase todas as partes do país, particularmente na costa do Mar Negro.Explosões de mísseisMoradores da capital acordaram com sons de explosões de mísseis balísticos, provavelmente modelos Iskander lançados de Belarus, e de cruzeiro, disparados de aviões. Um caça Su-27 ucraniano, modelo soviético usado por Moscou e Kiev, foi abatido sobre a cidade e caiu sobre um bloco residencial, deixando número incerto de vítimas.A imagem correu a internet, com o avião em chamas iluminando o céu da madrugada. A Ucrânia fala em 137 mortos de seu lado e talvez 800 baixas russas, o que não é aferível. Ambos os lados relatam ter destruído equipamento inimigo.Enquanto isso, a batalha pelo aeroporto Antonov, em Hostomel (25 km a noroeste do centro de Kiev) seguiu noite adentro, após forças aerotransportadas russas o terem tomado na véspera. As informações são confusas, como sempre são em guerras.Os ucranianos disseram ter retomado a pista, enquanto em Moscou analistas militares dizem que a 76ª Divisão Aerotransportada de Pskov já está pronta para ser levada em aviões de transporte Il-76 para estabelecer uma cabeça de ponte no aeródromo.Zelenski, que se disse abandonado pelo Ocidente na crise, apelou aos manifestantes pró-paz na Rússia, que estão sendo reprimidos pela polícia.Por volta das 10h (5h em Brasília), o Ministério da Defesa disse haver registrado a infiltração de russos no bairro de Obolon e pediu para que moradores avisem a polícia e joguem coquetéis molotov se avistarem suspeitos. Em alguns bairros, foi relatada a distribuição de fuzis e munição a civis.A outra frente de ataque se forma a leste da capital. Os russos tomaram a central nuclear de Chernobil, infame pelo desastre de 1986, estabelecendo assim um corredor entre suas forças estacionadas na vizinha Belarus e a capital.Segundo informações de Washington, os russos chegaram a 32 km da capital por essa via. Diplomatas ocidentais em Moscou falaram à reportagem em menos de 8 km. Já os ucranianos dizem ter parado o avanço a 50 km, tendo nesta versão estabelecido uma linha de defesa contra tanques usando mísseis americanos Javelin.Com isso, se tornam alvo provável de mais bombardeios, já que a destruição de 11 aeroportos e 14 baterias defesas antiaéreas na quinta (24) parece ter dado vantagem decisiva a Moscou nos céus do país. Na manhã desta sexta (25), Moscou disse ter destruído 118 alvos militares e derrubado cinco caças.O governo decretou medidas para tentar proteger civis, estabelecendo toque de recolher noturno, orientando a estocagem de alimentos, recolhimento de documentos e o uso de abrigos antiaéreos. “Tudo começou de novo por volta das 4h (23h em Brasília). Minha mãe lembrou de 1941”, disse por celular o engenheiro Piotr Timotchenko, morador da periferia da capital. Ela não foi a única. “A última vez que a capital experimentou algo assim foi em 1941, quando foi atacada pela Alemanha nazista”, escreveu no Twitter o chanceler Dmitro Kuleba.