Contrariando o presidente Donald Trump, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Mark Esper, disse ontem que se opõe à mobilização de militares para conter os protestos contra o racismo sistêmico e a violência policial nos EUA, que já ocorrem há nove dias. Trump negou que tenha ordenado que a polícia da capital americana dispersasse à força uma manifestação pacífica para que pudesse fazer sua visita encenada à Igreja de São João, nos arredores da Casa Branca. “A opção por usar forças militares ativas para aplicar a lei deve ser usada apenas como uma última alternativa, e apenas nas piores e mais urgentes situações. Nós não estamos agora neste cenário. Eu não apoio o uso da Lei da Insurreição”, disse Esper, em uma coletiva no Pentágono. “Sempre acreditei e continuo acreditando que a Guarda Nacional é mais adequada para prestar apoio interno às autoridades civis nestas situações.”O secretário de Defesa refere-se à Lei da Insurreição de 1807, que permite ao presidente usar forças militares no território nacional para fazer cumprir a lei, ante tumultos e rebeliões. A medida foi acionada pela última vez em 1992, durante os protestos que seguiram a absolvição dos quatro policiais que espancaram Rodney King, um homem negro.Desta vez, as manifestações foram motivadas por outro ato de violência policial que expõe o racismo nos EUA: o assassinato de George Floyd, asfixiado até a morte por um policial branco em Minneapolis, no Estado do Minnesota, no dia 25 de maio. Em entrevista coletiva ontem, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, também se mostrou contrário à mobilização do Exército, afirmando que os militares não podem ser usados como “arma política”.Ameaça de TrumpA possibilidade do uso da legislação veio à tona na segunda-feira, 1º, quando Trump anunciou que usaria as Forças Armadas para conter as manifestações na capital e ameaçou enviar militares aos Estados caso os governadores não consigam controlar o que chamou de “criminosos”, “anarquistas” e “terroristas internos”. Especialistas, no entanto, questionam a viabilidade da promessa do presidente, que ontem voltou a se autointitular como o presidente da “lei e da ordem”.