Após mais de duas semanas de queda de braço com Donald Trump, o Departamento de Justiça dos EUA divulgou nesta sexta-feira (26) detalhes do mandado de busca da operação que apreendeu documentos na casa do republicano no último dia 8, investida inédita contra um ex-presidente do país. A divulgação atendeu a uma determinação judicial.O documento explicita as razões pelas quais foi preciso mandar a polícia à casa do republicano, em um gesto que acirrou os ânimos no país, com direito a uma série de ameaças e um atentado de um apoiador do republicano contra agentes de segurança em Ohio.De acordo com o material divulgado nesta sexta, entre 16 e 18 de maio, antes da operação feita em agosto, agentes do FBI analisaram caixas entregues pelo ex-presidente ao Arquivo Nacional no começo deste ano. O pacote foi entregue ao órgão que administra os documentos dos ex-presidentes após insistência do órgão, um ano depois de o republicano ter deixado a Presidência e levar material consigo.Quando a polícia federal americana analisou os documentos entregues no começo do ano, encontrou 184 documentos, 64 deles marcados como confidenciais, 92 como secretos e 25 como ultrassecretos —uma série deles tem ainda anotações do ex-presidente.Leia também:- Trump é investigado por espionagem nos EUA, mostra mandado de busca- Trump diz que FBI fez operação em sua casa na Flórida- Eduardo Bolsonaro pode ser incluído em investigações sobre invasão do Capitólio nos EUASegundo o mandado, um acesso não autorizado a esse material poderia "resultar em dano à segurança nacional". Havia documentos apontando "fontes humanas clandestinas", que poderiam descrever operações, técnicas e procedimentos de agentes de inteligência no exterior, por exemplo.Não há foram divulgados, porém, detalhes do que esses documentos guardavam.O fato de o ex-presidente ter a posse desses documentos levantou preocupações sobre a possibilidade de mais informações confidenciais estarem com ele. O mandado, então, autorizou agentes de segurança a apreender "todos os documentos e registros que constituam evidência, contrabando, frutos de crimes ou outros itens possuídos de forma ilegal". No dia 8 de agosto, os agentes entraram na casa do ex-presidente, no resort de Mar-a-Lago, e apreenderam mais 20 caixas de documentos, com uma série deles marcados como sigilosos, além de fotos e anotações.Entre os possíveis crimes pelos quais o republicano é investigado nesse caso estão violações na lei de espionagem, obstrução de justiça e destruição de documentos oficiais. No documento em que pedem autorização para a operação de busca, os procuradores afirmam que há "provavelmente motivos para acreditar que serão encontradas evidências de obstrução" na casa de Trump.A operação de busca foi autorizada pelo juiz Bruce E. Reinhart, de um tribunal no sul da Flórida.O mandado também revela pela primeira vez o que pode ser a fonte de informações do Departamento de Justiça, "um número significativo de testemunhas civis" que teriam conhecimento dos documentos na casa do ex-presidente, sem ais detalhes.Com 38 páginas, o documento divulgado nesta sexta tem uma série de passagens inteiras cobertas com tarjas, sob a justificativa de "proteger a segurança e a privacidade de um número significativo de testemunhas civis, além de agentes de segurança, bem como proteger a integridade da investigação em curso".Entre as justificativas para a imposição de tarjas, está "em primeiro lugar, o governo precisa proteger a identidade dessas testemunhas neste estágio da investigação para garantir a segurança delas", diz outro documento. Em meio às tensões crescentes no país e risco de violência política, poderia haver "retaliação, intimidação, assédio ou mesmo ameaças à segurança física", afirmou o juiz Reinhart.Havia resistência no Departamento de Justiça —órgão ao qual é subordinado o FBI, que executou a operação— em trazer à luz o mandado também sob o argumento de que isso poderia atrapalhar as investigações em andamento.No entanto, uma série de empresas de jornalismo, como o New York Times e o Washington Post, também entraram na disputa e moveram ações judiciais pedindo a liberação do material, sob o argumento de que o interesse público se sobreporia a outros motivos para o sigilo.O Departamento de Justiça do país tem avançado contra Trump também em outras frentes, além da busca por documentos supostamente confiscados. O órgão tem ouvido pessoas próximas ao republicano como testemunhas em investigação sobre o envolvimento do ex-presidente no ataque ao Congresso em 6 de janeiro de 2021.Na ocasião, uma turba de apoiadores insuflada pelo político invadiu o prédio do Capitólio buscando interromper a sessão de certificação da vitória de Joe Biden nas eleições. Trump alegava —e continua a fazê-lo hoje— que o pleito teria sido fraudado; a Justiça americana nunca encontrou nenhuma evidência de que isso pode ter ocorrido.