*Atualizada às 11h20Quase 10 anos após o assassinato do jornalista esportivo Valério Luiz, o julgamento dos cinco acusados do crime será realizado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO). O crime que aconteceu em julho de 2012 chocou o Estado e transformou pra sempre a vida da sua família. O filho e advogado Valério Luiz, que tem o nome do pai, será um dos assistentes de acusação e passou a última década em busca de Justiça. Uma das filhas, a psicóloga Laura Oliveira, não poderá participar devido às restrições impostas pela pandemia. De casa, ela acompanhará o júri pela internet e diz que o sentimento é de alívio, mas não de justiça. "É um sentimento de alívio por finalmente saber que podemos ter um fechamento disso tudo. Mas justiça não. Nada repara o que foi feito, nenhuma pena do mundo dá conta do sofrimento e da perda que essas pessoas causaram na nossa vida. Mas pelo menos espero ter a dignidade de andar na rua e não ver o assassino do meu pai livre, sorrindo e vivendo a vida, como por diversas vezes durante esses anos, tive o desprazer de presenciar", diz Laura. No dia em que Valério foi assassinado, Laura tinha 21 anos. Ela e o irmão Valério moravam com o pai e de vez em quando ele buscava a filha no trabalho para irem juntos para a faculdade. Ela era estudante de psicologia e Valério trabalhava em um programa da PUC TV. No dia 5 de julho, este era o combinado. Laura não almoçava em casa, almoçou perto do trabalho e voltou. O irmão, que ela carinhosamente chama de Lelo, tinha combinado de comer com o pai. Nenhum dos dois combinados aconteceu. Valério foi morto a tiros logo após sair da rádio em que trabalhava, dentro do próprio carro. A motivação, segundo as investigações, duras críticas que ele tecia contra a diretoria do Atlético Clube Goianiense como jornalista esportivo nos programas Jornal de Debates, da Rádio Jornal 820 AM, e Mais Esporte, da PUC-TV, teriam desagradado o empresário Maurício Sampaio, que era dirigente do clube de futebol na época e é acusado de ser mandante do crime. "Eu almocei perto do trabalho e voltei, quando recebi a ligação do meu namorado dizendo que um amigo havia ligado pra ele e dito que alguém da minha família havia levado um tiro... eu achei estranho e liguei pro meu pai na mesma hora, era 14h10 e ele já havia saido da rádio nesse horário geralmente. Ele não atendeu. Engraçado que meu pai quase nunca atendia o telefone mas nesse dia eu senti um sentimento muito ruim. Na mesma hora minha tia me ligou perguntando onde eu estava, com a voz estranha, mas percebeu que eu ainda não sabia, não teve coragem de me contar e desligou", acrescenta. Foi aí que ela começou a ligar para o irmão, que ora atendia, ora desligava. Em uma das vezes ele finalmente falou: "Laura, nosso pai morreu". Deste dia em diante a vida dos filhos mudou. Eles não conseguiram mais voltar pra casa em que moravam e decidiram morar juntos, em outro local. "Ficamos meses almoçando com a noticia, o velório, o caso e as opiniões sobre o caso passando na tv o dia todo."A filha do jornalista esportivo afirma os últimos 10 anos foram de medo, da impunidade e da liberdade dos envolvidos. "Se por tão pouco fizeram isso com meu pai, o que seriam capazes de fazer quando forem acuados ou condenados. Esse julgamento só está acontecendo pela incansável luta do meu irmão há quase 10 anos. Se não fosse por ele, esse caso já estaria esquecido. Foram inúmeros os percalços do processo, beira o inacreditável."Ela afirma que a saudade é diária, sem trégua e dia que o pai não a vou crescer ou se formar na faculdade que ele incentivou e pagou com tanto empenho. "O meu pai não me viu ingressar na vida profissional que ele tanto incentivou, não viu meu filho nascer... Eu sinto falta dele todos os dias. Sinto falta da segurança que ele me passava e da confiança que veio dele de que qualquer coisa poderia acontecer, porque ele estaria ali. E não está. Uma parte de mim e da minha história foi embora cedo demais."Leia também:- Júri de caso Valério Luiz terá acesso restrito nesta segunda-feira (14)- Mais de 3,5 mil dias depois, caso Valério vai a julgamento