A metade da população de Goiás deve ser contaminada pela variante ômicron do coronavírus (Sars-CoV-2) dentro das próximas três semanas. A estimativa é do secretário estadual de Saúde, Ismael Alexandrino. Considerando a evolução da doença no último mês, Alexandrino diz que a contaminação em massa não deve ser acompanhada por aumento de óbitos.A avaliação do secretário leva em consideração o salto da taxa de positividade entre os testes realizados, que saiu de 6% em novembro para 28% nesta semana. Além da predominância da ômicron, que também nesta semana chegou a 100% no levantamento genético feito pelo estado. “Isso nos sugere que teremos pelo menos metade da população contaminada até meados da primeira quinzena de fevereiro”, aponta Alexandrino.Por outro lado, o secretário diz que o indicativo é de que os casos graves e óbitos devem continuar com crescimento mais lento. “As portas das unidades estarão cheias, mas sem demanda na mesma proporção de serviços com maior gravidade. Em meados de fevereiro em diante, provavelmente, estaremos estabilizados em um número de casos, que tenderão a cair até o fim do mesmo mês”, acrescenta o titular da Secretaria de Estado da Saúde (SES).O boletim epidemiológico divulgado pelo estado nesta quinta-feira (20) trouxe um novo recorde de casos diários de Covid-19 em 2022. Em 24 horas, os municípios goianos confirmaram 6.143 contaminações, um dos maiores patamares de todo o enfrentamento da pandemia. No mesmo período a SES também confirmou 23 mortes em decorrência da doença.A superintendente de Vigilância em Saúde de Goiás, Flúvia Amorim, afirma que os indicativos são de que esta será a pior onda da pandemia da Covid-19 em número de casos. “Primeiro porque a variante é mais transmissível. Segundo porque estamos saindo de um período de férias em que o contato entre as pessoas foi muito grande”, cita a superintendente.Para a representante, os números não surpreendem a SES, já que a evolução se mostra parecida com a observada em outros países como os Estados Unidos. “Lá subiu muito rápido, mas ela (a curva de casos) também caiu muito rápido, diferente das outras variantes”, analisa Flúvia. Em comparação, a superintendente cita que a onda observada em 2021 manteve alta durante oito meses, de fevereiro a setembro. Já a onda da ômicron observada em outros países tem durado, em média, 30 dias.PredominânciaAs últimas amostras coletadas pelo Laboratório de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros (Lacen) entre os dias 6 e 13 de janeiro, que tiveram as análises finalizadas nesta quinta, foram de 100% de casos da variante ômicron. As amostras eram de municípios de todas as regiões de Goiás. “Não dá para dizer que é a única variante em circulação, mas se tivermos outras é em número muito menor. No sequenciamento da semana passada ainda encontramos algumas poucas amostras da variante delta e agora 100% da ômicron”, diz Flúvia.Para o secretário Ismael Alexandrino a contenção do avanço da pandemia pode estar em setores que “outrora eram vistos como ameaças”. Isso porque Alexandrino diz que o controle de acesso em locais como bares e restaurantes pode contribuir na busca da “normalidade do convívio social”. “É momento para pânico? Não, é momento para tomar cuidado naquele ambiente que precisa”, defende o gestor.Desta forma, Alexandrino cobra que locais de convívio social como bares e restaurantes deveriam exigir comprovante de vacinação. “Precisamos aprender a conviver com a doença, que vai durar anos ainda, com menor impacto e privações do que temos tido como seres humanos. Isso não significa banalizar o risco ou menosprezar a doença, mas adotar medidas seguras e eficazes no desenvolvimento de atividades do dia a dia”, argumenta o secretário.Sobre a retomada das atividades presenciais na educação, o secretário defende que as crianças estão em menor vulnerabilidade na escola e por isso não vê razão para suspensão das aulas. “No caso de restaurantes, onde não se usará máscaras, que se exija comprovante de vacina. No caso de eventos, desde que tenham controle de acesso, que se exija comprovação de vacina e resultado de teste negativo”, acrescenta.Estado deve reabilitar leitos de UTIDiante das projeções de aumento de casos, a SES tem planejamento para reabilitar leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para a Covid-19. A taxa de ocupação de vagas exclusivas para o tratamento da doença está mantendo níveis altos desde o início do ano. Nesta quinta-feira (20), dos 184 leitos de UTIs destinados a adultos e crianças com Covid-19 em Goiás, 150 estavam ocupados. Outros oito estavam bloqueados e 27, disponíveis, o que representa 81,5% de ocupação. A proporção também tem relação com o menor número de leitos disponíveis. Em julho do ano passado, o estado chegou ao recorde de leitos de UTI na pandemia, com 608 unidades. As desativações foram progressivas. Em 17 de dezembro do ano passado, a SES fechou cem leitos, reduzindo de 302 para 202. Em 7 de janeiro, uma nova redução deixou o estado com 147 vagas na UTI Covid-19 e, a partir do dia 12 deste mês, um novo aumento elevou para os atuais 184. Na primeira semana de 2022, a taxa de ocupação de UTI para pacientes adultos com Covid começou a aumentar e, desde então, não parou.“Na medida em que esta questão vai sendo monitorada e se observamos aumento, vamos reabilitando os leitos já existentes”, informa Flúvia. Variáveis tornam decisões difíceisApesar da expectativa de que a pandemia da Covid-19 avance com menor número de óbitos e casos graves proporcionais à quantidade de casos, o biólogo Alexandre Diniz, que é professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e faz parte do grupo de modelagem da expansão da Covid-19 no estado, diz que as atuais variáveis dificultam qualquer projeção de longo prazo sobre os casos de óbitos e as internações.Além das diferentes características das variantes, Diniz afirma que o esquema de vacinação torna as projeções complexas. “Depende não só da proporção das pessoas que estão vacinadas como também quantas pessoas têm a primeira dose, quantas têm a segunda. Então vai ficando muito mais difícil”, aponta o professor, que pondera: “Hoje eu não acredito que nós teremos uma explosão que vá saturar o sistema (de saúde) como aconteceu com a (variante) gama em março do ano passado”. Mesmo assim, Diniz considera que é necessário ter atenção. “Claro que os números (de internações e óbitos) são menores. Em relação ao número de casos que estamos tendo, o número de hospitalizações é relativamente pequeno, mas ele já é quase quatro vezes maior que o início do ano”, destaca o pesquisador ao lembrar que o número de internados em leitos de UTI Covid-19 em Goiás, considerando as redes municipais estadual e particular, saltou de 150 para os atuais 400. MedidasAs medidas para o controle do avanço da variante ômicron são avaliadas de diferentes formas pelos especialistas. Para o médico infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) Julival Ribeiro, apesar de a ômicron ser menos agressiva, a contaminação em massa carrega riscos. “O grande problema é que as autoridades mundiais parecem não estar entendendo, que com alta taxa de transmissão da ômicron e pessoas se infectando, podem surgir novas variantes de preocupação, que podem ser além de mais transmissíveis, mais graves”, aponta o especialista. Por conta dos riscos, o infectologista diz que não se pode descartar qualquer possibilidade de medidas restritivas e de proteção, mas o mesmo pondera que as ações devem ser tomadas com a análise precisa dos dados. Ribeiro avalia que dentro do atual cenário, medidas restritivas como fechamento de comércios não se fazem necessárias. Por outro lado, o médico diz que, para controlar os efeitos da variante, além da vacinação, o momento é de avançar com as medidas preventivas individuais, como o uso de máscaras e a ampliação da testagem por parte do poder público. DefiniçãoO pesquisador Alexandre Diniz diz ser difícil definir se o momento é ou não de endurecer as medidas restritivas. Sobre as possibilidades imediatas, porém, o pesquisador diz que a retomada de regimes de teletrabalho é uma opção a ser adotada caso não traga prejuízos para a área.“É importante tentar diminuir a circulação do vírus, porque, se muita gente se infecta, mesmo que muita gente esteja vacinada e a doença seja mais leve, teremos problemas. Um fator importante é sempre que as pessoas estejam conscientes disso”, diz o pesquisador ao apontar a necessidade de todos completarem o ciclo vacinal. -Imagem (1.2390310)