A variante ômicron do Sars-CoV-2 tornou a Covid-19 a segunda doença mais infecciosa, atrás apenas do sarampo. Por ser uma variante recente do coronavírus, ainda não existem dados que comprovam sua transmissibilidade, mas o comportamento observado até agora mostra que ela pode infectar entre 20 e 25 pessoas, semelhante ao comportamento do vírus que causa o sarampo, mas neste caso já há pesquisas que confirmam. A afirmação é do doutor em imunologia e parasitologia, diretor técnico do laboratório HLAGyn, Fernando Vinhal.Em entrevista à jornalista Cileide Alves, no programa Chega pra Cá, do POPULAR, Vinhal falou sobre o comportamento do vírus e como as novas variantes se expandem pelos continentes. O especialista afirmou que entre os mais de 40 milhões de casos de Covid-19, quase 8 milhões foram sequenciados e a ômicron corresponde hoje à quase totalidade dos novos casos. Fernando Vinhal destacou durante a entrevista que esta variante, apesar de ter se apresentado menos letal até agora, chama muito a atenção pelo seu alto grau de transmissibilidade. Por se tratar de variante recente, ela mostrou seu poder de contágio ao conseguir se tornar maioria dos casos em cerca de três semanas. Vinhal destaca que, na história, verifica-se que outras cepas tiveram destaque. A variante gama, por exemplo, levou três semanas para se tornar maioria dos casos sequenciados e dominou por 40 semanas. Mas neste caso, era uma variante com alta letalidade. Agora, ele diz que não observa a variante gama mais nos sequenciamentos realizados. Depois houve casos de infecção pela variante delta e, desde dezembro, pela ômicron, que chama atenção pela capacidade de transmissibilidade. “Até então, uma das doenças consideradas mais transmissíveis era o sarampo. Uma pessoa infectada com sarampo era capaz de transmitir para cerca de 20 pessoas.”Ele acrescenta que estudos, que ainda estão sendo realizados, mostram que, em alguns casos, portadores da ômicron chegariam a passar o vírus para outras 25 pessoas. Caso se confirme a estimativa, seria ainda mais transmissível que o sarampo. Comparando com a variante delta, a ômicron chega a ser três vezes mais transmissível, já que uma pessoa infectada com a delta poderia infectar outras sete pessoas. O doutor em imunologia ainda explica que as modificações dos vírus são esperadas, mas que essas mutações também são maiores agora. Fernando Vinhal diz que, antes, cada amostra observada apresentava cerca de dez modificações. Agora, são cerca de 45. Isso significa, segundo detalhou, que o vírus está aumentando sua capacidade de criar mecanismos de escape, como, por exemplo, esconder determinadas proteínas para conseguir burlar as defesas humanas. Por outro lado, Vinhal explica que o ser humano também se desenvolve e com a vacina tem melhor capacidade para produzir anticorpos ou imunidade. Ele reforça que a vacinação em massa é extremamente importante porque reduz a letalidade. “Se verificarmos mortalidade, 95% são de pessoas que não estão vacinadas”, afirma. O especialista acrescenta que existe uma conta na epidemiologia que calcula a imunidade populacional. Pela forma de transmissão da ômicron, seria necessário de 92% a 95% de vacinados para conter o avanço da Covid-19. Quando a variante delta era predominante, o calculo apontava para 80%. Vinhal destaca, no entanto, que esses números ainda não são baseados em estudos finalizados, mas em relatos dentro de pequenas populações. Vinhal diz que acredita, de forma geral, que existe um fator benigno de variação de transmissibilidade da doença que não apresenta efeitos graves. Ele comenta que, no caso da ômicron, a variante inibe e afasta outras. Assim, uma variante que tinha letalidade alta teve a circulação reduzida com o avanço da nova variação do vírus. Mas ele reforça a importância da vacina, que certamente pode ter contribuído muito mais para essa redução de casos graves do que a baixa capacidade letal da variante ômicron. O destaque do especialista para a necessidade de adesão à vacina é importante porque, do mesmo jeito que houve a variação para um perfil menos letal, o vírus pode se comportar de maneira contrária. “Também pode sofrer outra variação e aumentar o poder de letalidade. Serão cenas dos próximos capítulos, mas a pandemia não deixou de existir. Tem mostrado mais força em transmissibilidade. Foi uma variante (ômicron) que alcançou dominância no mundo em três semanas, se ganha poder de letalidade é muito ruim”, diz. Vinhal alerta que é preciso continuar atento e precavido com as medidas de controle da doença. “Hoje existe equilíbrio por causa da vacina e variante dominante menos letal, mas vamos lembrar que pode haver modificação para bem ou para uma que traga maior letalidade”, afirma.