Aos 52 anos, 17 deles à espera de uma resposta do paradeiro do filho Murilo, que sumiu aos 12, Maria das Graças Soares Lucena afirma ter como sonho de vida localizar os restos mortais do caçula. “Tenho a esperança de encontrar a ossada e enterrar. Dar um bom lugar para ele”, diz.Leia também:Murilo desapareceu em 2005, aos 12 anos Processo que apurava caso Murilo foi arquivadoPraça em Aparecida imortaliza a saudade de uma mãeEste pedido faz parte das orações dela. Muitas vezes os pedidos são feitos no Parque da Criança Murilo Soares Rodrigues, onde ela vai sempre que a saudade se manifesta de forma mais forte, geralmente, uma vez por semana, sem dia ou horário específico. Embaixo das árvores, ao lado do lago, em frente a uma placa que colocou, a mãe senta, faz fotos, contempla a paisagem e pede a Deus “para mostrar ele”.A placa, afirma Graça, como é chamada pela família, tem 3 x 2,20 m, uma foto do garoto e uma frase, que em determinado trecho diz “A saudade será eterna porque nenhum luto será suficiente. Te amarei além da vida meu filho, meu amor.”O espaço fica no Setor Mansões Paraíso, em Aparecida de Goiânia, vizinho da casa de Graça, no Papillon Park. O local foi renomeado em 2020. O pedido para homenagear Murilo partiu do vereador Willian Panda. Ele contou que quando criança jogava bola com o menino.Graça diz que não espera mais pela justiça do estado, segundo ela, apenas pela Justiça de Deus. A esperança em encontrar a ossada “pode amenizar um pouco o sofrimento”. “Minimiza estas perguntas sem resposta, ‘o que aconteceu (com ele)?’, muita coisa. Porque se eu achar o corpo, eu vou saber o jeito que ele foi morto”, acredita.Enquanto a espera iniciada naquela sexta-feira, 22 de abril de 2005, data do sumiço da criança, não chega ao fim, Graça vai semanalmente ao psicólogo e uma vez por mês ao psiquiatra. O médico receitou 11 comprimidos diários de medicamentos controlados que apenas a ajudam a dormir e “ter estabilidade na vida”. A mulher foi diagnosticada com ansiedade e depressão crônica no decorrer dos 17 anos de tratamento. Perguntada sobre como é seu dia, a resposta é resumida em uma palavra: “péssimo!”. O desânimo emocional é agravado por causa da doença e dos efeitos colaterais dos remédios. Graça conta que passa boa parte do dia deitada, e às vezes lhe falta energia para tarefas corriqueiras do lar, como preparar o almoço. “Minha vida acabou!”A sobrevivência vem da força do filho mais velho, Orto, de 32 anos. Pai de três filhos, ele deu ao caçula o nome do tio, Murilo. Graça conta que é ele quem paga um plano de saúde, remédios e outras despesas para a mãe. MudançaO quarto de Murilo não está mais intacto, como permaneceu por mais de dez anos após o desaparecimento. A cama dele foi doada para uma prima de Graça, mas a mãe diz que não queria se desfazer do móvel. Agora, no cômodo está uma cama de casal, onde dorme a avó da criança desaparecida, de 88 anos. Ainda assim, no guarda-roupas estão objetos como uniforme de treino, chuteira e medalhas do menino que teve o sonho de ser jogador de futebol interrompido bruscamente. A mãe de Graça não tem mais condições de ficar sozinha. A idosa sofre de diabetes, pressão alta e caminha com dificuldades.SumiçoMurilo desapareceu quando, a pedido do pai, acompanhava um amigo da família, o servente de pedreiro Paulo Sérgio Pereira Rodrigues, de 21 anos. O rapaz ia buscar uma bateria para o som automotivo que havia instalado. Os dois estavam em um Fiat Palio placas AH-2969. A última vez que foram vistos, eles eram abordados por equipes da Polícia Militar (PM) na Avenida Tapajós, na Vila Brasília, em Aparecida de Goiânia. Depois disto, nunca mais se soube do paradeiro das vítimas. O veículo foi localizado no Setor Alto do Vale, em Goiânia, carbonizado, sem o som e as rodas.Oito militares chegaram a ter as prisões preventivas decretadas após um inquérito da Corregedoria da PM. Acusados de latrocínio, que é o roubo seguido de morte, e ocultação de cadáver, os oito PMs, que integravam a Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam), acabaram absolvidos pela Justiça de Goiás por falta de provas materiais. O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) recorreu da sentença, o julgamento foi anulado e os policiais levados ao Tribunal do Júri. No entanto, prevaleceu a tese de falta de indícios, já que os corpos não foram encontrados.