Os viajantes pelas rodovias estaduais neste final de ano estão com problemas para desviar de buracos, cascalhos, vegetação ou lama em pelo menos 1.350 quilômetros. A situação tem se agravado ainda mais em decorrência do período chuvoso. “O que era ruim, está ficando pior”, afirma o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas de Goiás (Sinditac-GO), Vantuir José Rodrigues. O POPULAR conversou com motoristas profissionais e não-profissionais que costumam se locomover pelas GOs para saber das condições das estradas goianas e os mesmos apontaram 26 trechos em que a situação está precária.Dentre os listados, há locais já bem conhecidos e que já foram alvo de manifestação do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) ainda em 2016, redundando em ações judiciais que ordenavam obras de reconstrução em até 90 dias. Cinco anos depois, se locomover pela GO-178, entre os municípios de Itarumã e Itajá, continua sendo um risco pela situação do asfalto, quantidade de buracos e insegurança, que leva a acidentes ou ao menos prejuízos financeiros. O mesmo ocorre nas GOs 302 (entre Itajá e Aporé), 206 (entre Quirinópolis e Caçu) e 215 (entre Edeia e a BR-153), segundo os motoristas ouvidos pela reportagem.Na época, a Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (então Agetop, hoje Goinfra), alegava falta de recursos para a realização das obras demandadas pela Justiça a pedido do MP-GO. O programa estadual de reconstrução viária apontava ainda que 2,1 mil quilômetros da malha deveriam ser reconstruídos. O levantamento feito pela reportagem nesta semana, embora atinja apenas uma pequena parte de quem utiliza as rodovias diariamente, verifica que pelo menos 6,3% de toda malha viária estadual, que chega a 21.547 quilômetros, deveriam passar por manutenção.Outros trechos citados pelos motoristas à reportagem também já eram considerados em péssimo estado em outras ocasiões. Uma pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) de 2018 apontava que a GO-225 (entre Pirenópolis e Santo Antônio do Descoberto) era o pior trecho rodoviário de Goiás, com problemas no asfaltamento, sinalização e vegetação alta nos acostamentos. Agora, os motoristas afirmam que há muitos buracos na mesma via, especialmente entre Pirenópolis e Corumbá. A mesma pesquisa apontou falhas na GO-010, que liga Goiânia a Luziânia, e neste ano a situação é complicada pelo menos da capital até a cidade de Vianópolis.Presidente da Associação dos Transportadores de Cargas do Centro-Oeste (Astraco), Valdecir Caetano relata que recebe muitas reclamações acerca de dois trechos da GO-174. Entre Rio Verde e Montividiu os problemas se resumem na alta quantidade de buracos, especialmente no perímetro urbano da via, com cerca de 10 quilômetros. Já entre Rio Verde e Caçu, as reclamações são pela falta do asfalto, especialmente neste período de chuvas. “Na semana passada teve até um caminhão que tombou lá”, afirma.Caetano conta que no ano passado houve promessa do governo de duplicar a GO-174 caso conseguissem o projeto. “Foi cerca de R$ 100 mil do pessoal da região, só a Astraco cedeu R$ 7 mil. Fizemos o projeto, passamos para a Goinfra e até agora nada de obra”, diz. Ele reforça que a preocupação aumenta porque está chegando a época de escoamento da safra. “A GO-174 é o corredor de exportação do Mato Grosso para Minas Gerais, não tem outro caminho.” Ele lembra ainda que, em razão disso, o valor do seguro das cargas e dos veículos deve aumentar, prejudicando os motoristas. Segundo a Goinfra, a duplicação da saída de Rio Verde para Montividiu está com o projeto em fase final e as obras serão licitadas com projeção de início no primeiro semestre de 2022.Rodrigues, presidente do Sinditac-GO, aponta que o trecho entre Goianésia e a BR-080 é um dos piores das rodovias estaduais no momento. Outro ponto levantado por ele é a rodovia GO-070 de Goiânia até Itauçu, que estaria esburacada. “É uma situação muito ruim para nós caminhoneiros, de muita insegurança e prejuízo. Todo dia tem gente reclamando da buraqueira. Em Goiás tem tapa-buraco, mas não resolve”, considera.O presidente do Sindicato das Empresas de Transportes e Logística do Estado de Goiás (Setceg-GO), Ademar Espírito Santo, também afirma receber diversas demandas de motoristas sobre a situação das estradas. “Estamos tendo muitas reclamações mesmo. Sabemos que a situação está ruim. As estradas assim prejudicam enormemente, é um caso crônico, especialmente nas chuvas nós temos esse problema”, diz.Acórdão com TCE exige plano de açãoUm acórdão publicado pelo Tribunal de Contas do Estado de Goiás (TCE-GO) em outubro determina que a Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra) atualize e execute um Plano de Ação nas rodovias inspecionadas pelo órgão entre 2019 e 2020. Além disso, a Goinfra deve implantar e operacionalizar o Sistema de Gestão de Pavimento (SGP). No dia 19 do mês passado, o presidente da pasta, Pedro Sales, assinou ordem de serviço para iniciar o projeto, que será chamado de Sistema de Gerência de Pavimento (SGP) e vai oferecer análises técnicas precisas para a tomada de decisões estratégicas.O acórdão, relatado pelo conselheiro Sebastião Tejota, é em relação aos processos abertos pelo TCE, que realizou levantamentos sobre as condições da malha viária estadual em 2.910 quilômetros (km) em 2019 e 5.584 km em 2020. Segundo o TCE, o SGP é “uma solução informatizada com base centralizada de dados, que será capaz de apresentar um diagnóstico da malha viária, com informações das condições funcionais e estruturais de todos os 21 mil quilômetros de rodovias pavimentadas e não-pavimentadas, obras de arte (viadutos, pontes, bueiros, sistemas de drenagem) e da faixa de domínio”.A previsão do TCE é que seja feita nova inspeção nas rodovias em 2022, visto que não foi possível a realização neste ano, em virtude das medidas de contenção da pandemia de Covid-19. Isso ocorre porque o ideal, segundo o tribunal, é a realização do ato no período de estiagem. A ação de 2020 foi feita em fevereiro daquele ano, antes do período pandêmico. A inspeção para o próximo ano está aprovada no Plano de Fiscalização, de acordo com aa Resolução Normativa nº 02/2021.O TCE informa também que, ainda em 2020, realizou “fiscalizações pontuais, em alguns trechos da malha rodoviária, quando demandado, especialmente por meio de denúncias”. Neste ano, o tribunal fez alguns trabalhos de fiscalização em rodovias, em que as condições de trafegabilidade foram observadas, “mas como procedimento complementar, e não como objetivo principal”. Os trabalhos ainda estão em andamento.