A cada dia, pelo menos 142.773 pessoas que habitam os municípios da região metropolitana de Goiânia (RMG), fora a capital, saem de suas cidades para trabalhar ou estudar utilizando o transporte coletivo. Os dados são da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) e referentes a abril deste ano. O número representa 14,11% da população das 17 cidades que fazem parte da Rede Metropolitana de Transportes Coletivos (RMTC) além de Goiânia, que somam juntas mais de 1 milhão de habitantes. Demonstra também a importância da capital para a RMG e ainda os grandes deslocamentos enfrentados pelos usuários, que sofrem com a demora na viagem e na espera pelos veículos. Os dados se referem a apenas os passageiros catacrados, ou seja, aqueles que passam pelos terminais e embarcam nas linhas com destino a outras cidades. Assim, não levam em consideração os usuários que entram nos ônibus ao longo dos trechos, o que indica que um número maior de habitantes de cada município possa fazer o trajeto. Há 12 anos, por exemplo, o auxiliar de serviços gerais, Adriano Marques, de 41 anos, sai de Bela Vista de Goiás para trabalhar em Goiânia, às margens da GO-020. “Saio do trabalho às 18 horas e chego em casa por volta das 20h30”, conta.Na tarde de sexta-feira, Marques esperou por 25 minutos até avistar um veículo da linha 582 (Terminal Praça da Bíblia / Bela Vista de Goiás) e nem ficou satisfeito. O ônibus estava abarrotado de passageiros e ele não conseguiu entrar. Para piorar, começou a chover no local por volta das 16h30 e a cobertura do ponto de ônibus, a última da rodovia, na altura do Autódromo de Goiânia, está estragada. O local ainda estava lotado de pessoas indo para Senador Canedo e também Bela Vista. Marques teve de esperar o próximo ônibus que, segundo a planilha do sistema, poderia demorar entre 20 e 98 minutos.Já a empregada doméstica Alaíce Antunes Dias sai de Senador Canedo para a capital diariamente há dois anos e meio. Para ela, a volta para a sua cidade é ainda pior do que chegar ao trabalho. “Tenho de pegar o ônibus às 7h15 para chegar às 7h40. Quando consigo pegar, é bom, mas se perde, pode esquecer”, diz. Quanto ao retorno, ela diz que chega a esperar até quatro veículos passarem pelo ponto de ônibus antes de conseguir entrar em um. Ela reclama também que o local é perigoso, especialmente pelo matagal que fica às margens da GO-020.Técnicos do sistema e especialistas avaliam ainda que a situação é controversa no sentido de que os ônibus, mesmo lotados, acabam gerando prejuízo para as empresas concessionárias do sistema. Isso ocorre porque a locomoção se dá por um longo trecho com vazios urbanos, como as rodovias, de modo que não há sobe e desce ao longo da viagem. Ou seja, os passageiros que embarcam no primeiro ponto, já enchem o veículo e só desembarcam no último ponto, normalmente em um terminal de Goiânia. Para se ter uma ideia, na linha 050 (Terminal Dergo / Nova Veneza), a única que liga a cidade de Nova Veneza à capital, em abril deste ano embarcaram no terminal 11.810 passageiros sendo que cada viagem percorre 45 quilômetros e o tempo médio para fazer o percurso é de quase duas horas. Entre às 19 e 22 horas, a linha tem a estimativa de um veículo a cada 70 minutos. Uma linha que transportou uma quantidade semelhante de passageiros no sistema foi a 272 (Terminal Novo Mundo / Santo Hilário - Via Cais), com 11.132 embarques já no ponto inicial.EsperaNo entanto, a 272 só opera em Goiânia, fazendo um trajeto de apenas 10 quilômetros por viagem em um percurso que dura cerca de 30 minutos até voltar ao Terminal Novo Mundo. Assim mesmo, na comparação entre as linhas, enquanto a 050 percorreu em abril deste ano um total de 14.322 quilômetros, ou seja, realizando cerca de 319 viagens no período, a linha 272 chegou a fazer 23.518,58 quilômetros, o que gera aproximadamente 2.352 viagens no mês no seu percurso. Isso significa que a oferta de viagens para a linha que opera apenas na capital é muito maior, de modo que a espera do passageiro pelo veículo é menor, mesmo utilizando o transporte coletivo em curta distância. Desta forma, os passageiros, além de andarem por mais tempo no ônibus, ainda têm de esperar mais por ele. Marques conta que desde o embarque no veículo da linha 582, na GO-020 e até chegar a Bela Vista, faz todo o trajeto a pé. “Só depois da barreira, já dentro do município, que o povo começa a descer. Da Praça da Bíblia até chegar lá é só gente entrando. Vai muito lotado”, diz o auxiliar de serviços gerais.O presidente da CMTC, Benjamin Kennedy Machado, explica que nos últimos dois anos a companhia passou a receber mais reclamações dos usuários das cidades do entorno de Goiânia, o que fez com que o planejamento fosse modificado para atender essa demanda. A maior parte dos questionamentos foi em relação à frequência das viagens. “Hoje temos mais ofertas para essas cidades. Por exemplo, a linha de Guapó tinha 17 viagens diárias e hoje tem 30. Mas ao mesmo tempo, a linha 008 (Terminal Veiga Jardim / Rodoviária - Via 85) teve que tirar, saindo de 54 para 48.”Machado diz que tirar viagens das outras linhas é a única maneira de balancear o sistema, mas que, assim mesmo, a operação fica mais cara com a mudança desses recursos. “Não temos dúvidas disso, porque tem que buscar o passageiro muito mais longe e ir até os locais com atrativos, como a Região Sul e Centro de Goiânia.”-Imagem (1.1796637)