Depois de quarenta e um dias, as duas mães que suspeitavam da troca de seus bebês na maternidade tiveram a confirmação de que as crianças que levaram para casa em dezembro não eram seus filhos biológicos. Depois de muito choro, cada uma seguiu para casa levando o bebê gerado em suas barrigas, mas com o acordo de manterem contato daqui pra frente.Viviane Alcântara foi a primeira a chegar à Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Aparecida de Goiânia. Apressada, com o bebê no colo e acompanhada do marido João Paulo, seguiu para a sala da delegada sem falar com a imprensa. Emocionada, aguardou pouco mais de meia hora até que Juciara Maria da Silva chegasse com o outro bebê.O encontro das mães e suas crianças ocorreu na sala da delegada, Bruna Coelho. “Abri (o resultado) na frente delas. Os exames estavam totalmente lacrados, justamente para perceberem que veio direto do laboratório. Foi muita emoção”, disse. As duas mães choraram bastante e precisaram de mais de uma hora até que se sentissem à vontade para entregar uma criança e pegar a outra.A delegada Bruna Coelho destacou que a atuação da Polícia Civil segue o Estatuto da Criança. Ela explicou que não poderia obrigar as mães a fazer a troca. “Falando com a visão da delegacia, que é cada um ir embora com sua respectiva família, mas não podemos obrigar. É uma questão muito mais do que criminal, é psicológica e emocional. Então, vai depender deles.”A delegada reforçou que não caberia a ela negociar como isso ocorreria. “Meu papel é intermediar, apurar fatos para inquérito e concluir investigação. Agora a questão dos pais, se não houver a troca, é o Poder Judiciário que vai poder interferir.” A delegada disse isso para a imprensa enquanto as famílias ainda estavam dentro da sala assimilando o resultado apresentado.Exames de DNA cruzado fizeram a contraprova e confirmaram a troca dos bebês, além de também confirmarem a maternidade das duas crianças que nasceram no dia 29 de dezembro, no Hospital São Silvestre. “Quando abri o resultado dos exames, nem a delegacia sabia qual seria o resultado. Foi momento de muito choro. Eles ficaram muito abalados. Quando li os exames, que são conclusivos, no sentido de que houve de fato essa troca, só choro mesmo”, descreveu a delegada.Depois desse momento, as mães ficaram um tempo com as crianças que levaram para casa no colo até que se sentiram à vontade para entregar cada um para a mãe biológica. O advogado de Juciara filmou o momento, que a mostra entregando uma criança e, depois, pegando seu filho biológico no colo.É possível ver que as mães ainda estavam nervosas e com lágrimas, mas, logo depois, elas se abraçam à criança que, a partir dali, iria seguir com elas para casa.Advogado de Juciara, Eduardo Costa confirmou que as famílias desejam manter contato. “O mais correto neste momento é que as famílias tenham essa tranquilidade de se desapegar de uma criança como de acolher a nova. As crianças que estão entrando nas vidas dessas mães certamente vão precisar de muito carinho, amor, afeto. Com certeza, todas elas estarão bem amadas no seio familiar.”A criança que Juciara levou para casa, que é filho biológico de Viviane, foi registrado. O advogado disse que será possível realizar o cancelamento do registro. “Por existir um registro público errôneo, a lei de registros públicos permite o cancelamento no prazo de 45 dias. Veremos as providências que devem ser tomadas para retificação do registro para que cause o menor abalo possível na vida dessas famílias”, explica.Viviane saiu da delegacia sem dar declarações e chorando bastante. Seu marido, João Paulo, lamentou o ocorrido, disse que não chegou a assistir ao parto por conta da pandemia da Covid-19, mas que agora iria para casa. O advogado Estevão Dias Ferreira diz que o primeiro passo depois dessa troca é a família se acalmar. “A troca foi dramática. Elas ficaram quase uma hora em prantos. Minha cliente ainda tinha o sentimento de que aquele era o filho dela. Independentemente do que aconteceu, o erro foi grave. Elas vão manter contato. Essas mães ficaram 40 dias com as crianças. Isso não sai da mente. Elas querem manter contato.”Troca ocorreu no centro cirúrgicoAdvogada do Hospital São Silvestre, que fica em Aparecida de Goiânia, Luciana Castro Azevedo confirmou que as quatro pessoas que atuaram no centro cirúrgico no dia do nascimento dos bebês continuam afastadas. Além disso, todos os funcionários passaram por treinamento e revisão dos protocolos. Ela afirmou que já se sabe que a troca ocorreu na hora da entrega, saindo do centro cirúrgico. Mas informou que não foi confirmado o responsável pelo erro. “O momento (de abertura dos exames) foi muito triste. A gente sente a dor das mães, pelo resultado, porque a contraprova confirma a troca dos bebês e confirma a maternidade dos bebês também. Então é um momento de dor pras famílias e somos solidários a isso”, disse. Entre as pessoas afastadas estão duas enfermeiras e duas técnicas em enfermagem. “O hospital agora vai avaliar, diante desse novo exame para saber qual conduta vai adorar com estes funcionários.” A advogada afirma que o protocolo foi revisto e atualizado no início do ano. “Nunca havia acontecido nada similar antes no hospital, que vai continuar na conduta de sempre e reciclar os funcionários. O que aconteceu foi uma infeliz fatalidade.”O hospital ofereceu auxílio psicológico e psiquiátrico para as famílias, mas ainda assim os advogados devem pedir reparação financeira pelo ocorrido. O advogado de Juciara Maria, Eduardo Costa, diz que é cedo falar em reparação cível, porque ainda está correndo processo criminal. “Existem questões que ainda precisam ser esclarecidas pela própria delegacia e, no momento oportuno ,isso (processo de reparação) será trazido à atenção”, afirma.O advogado de Viviane, Estevão Ferreira, também diz que a sua cliente também deverá acionar a justiça cível neste sentido, mas que ela ainda não teve tempo para pensar neste assunto. A troca dos bebês, que nasceram no dia 29 de dezembro, foi descoberta após a alta de uma das mães e do recém-nascido. A recepcionista da unidade hospitalar constatou o erro depois de conferir a identificação na pulseira de um dos bebês, e informou a direção.-Imagem (Image_1.2399770)