Nos primeiros 15 dias de março, 691 pessoas morreram por complicações causadas pelo coronavírus (Sars-CoV-2) em Goiás. Isso representa 50% das 1,3 mil mortes ocorridas no Estado neste mesmo período, de acordo com dados do Registro Civil. Especialistas apontam que o número é reflexo do aumento de casos e internações por conta da doença. Grupo de modelagem sobre a Covid-19 da Universidade Federal de Goiás (UFG) afirma que atrasos devem fazer o número aumentar.Apesar de a maioria dos mortos terem idade acima de 60 anos, a mortalidade entre pessoas mais jovens também aumentou. Ao longo de todo 2020, óbitos de pessoas com menos de 40 anos por conta da doença representou 4,5% do total de mortes. De janeiro a março de 2021, o número subiu para 5,7% e somente na primeira quinzena de março ficou em 7%. O dado é reflexo das novas variantes do vírus que são mais infecciosas e já circulam pelo Estado.O infectologista Marcelo Daher aponta que os dados mostram como a segunda onda da Covid-19 está mais grave e intensa neste ano do que em 2021. “Dos testes pedidos, 80% vem positivo. É um número muito alto que acaba evidenciando essa questão. Esses números refletem também a força das novas variantes”, afirma. Daher diz ainda que o número de mortes por Covid-19 pode ser ainda maior porque óbitos computados como, por exemplo, Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) podem, na verdade, ser casos de mortes por Covid-19 que por algum motivo não foram registradas dessa maneira. Dados do Painel da Covid-19, da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), apontam que nas semanas epidemiológicas 9 e 10, que vão dos dias 28 de fevereiro a 13 de março, morreram 813 pessoas. “É um número muito alto e acima do esperado por nós”, diz Alexandre Diniz, professor e membro do grupo de modelagem da expansão espaço temporal da Covid-19 em Goiás.UTIsO professor afirma que os números devem continuar a crescer nas próximas semanas por conta da grande quantidade de pessoas internadas em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), sendo que muitos desses casos evoluem para óbitos. Ontem (15), de acordo com o boletim integrado da Covid-19, a taxa de ocupação dos leitos de UTI estaduais era de 97%, sendo que nenhum novo leito estava em implantação.“Se comparamos os números de janeiro com agora vamos ver um crescimento muito grande nas internações. No platô da doença, em agosto, ficamos na faixa de 700 pessoas internadas em UTIs e depois o número começou a baixar. Semana passada, estávamos com 1,3 mil internadas e ainda na fase de aceleração da doença”, relata Diniz.AtrasosO professor e membro do grupo de modelagem da expansão espaço temporal da Covid-19 em Goiás explica que o registro do número de mortos pela doença nesta primeira quinzena de março deve aumentar ainda mais nos próximos dias. “Ele ainda vai crescer porque a informação demora a chegar e ser computada. Ou seja, essa porcentagem será ainda maior”, aponta. Diniz esclarece que, normalmente, existe um atraso de cerca de 15 dias na computação de dados por conta de uma série de fatores como, por exemplo, o volume de notificações que precisam ser registradas. Ele acredita que com o aumento exponencial dos óbitos, existe a possibilidade desse atraso crescer ainda mais. “Tem o problema deles conseguirem fazer uma grande quantidade de registros em um tempo razoável. A mesma coisa deve acontecer com o sistema de saúde”, finaliza.Dados são subnotificadosOs dados do Registro Civil sobre o número de mortes causadas pela Covid-19 são subnotificados. O médico Sérgio Nakamura, que é especialista em Saúde Pública, diz que a subnotificação ocorre por vários motivos. “Ocorrem por falta de diagnóstico, porque a família pede para não colocar ou o profissional não quer colocar”, explica.O infectologista Marcelo Daher diz que o número de mortes por Covid-19 pode ser ainda maior porque óbitos computados como, por exemplo, Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), podem, na verdade, ser casos de mortes por Covid-19 que por algum motivo não foram registradas dessa maneira.Nakamura também aponta que existe a possibilidade de que registros de mortes por pneumonia também possam, na verdade, serem casos de Covid-19.O médico esclarece que muitas vezes os dados do Registro Civil podem ser imprecisos pois não passam por um processo de investigação e notificação apurado como ocorre no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, que é o banco ideal para análise de óbitos, mas também tem uma processo de registro mais lento, que acaba deixando o Registro Civil com mais informações sobre os óbitos por Covid-19.Variantes influenciam na altaO aumento de mortes por Covid-19 em 2021, especialmente ao longo dos primeiros 15 dias de março, podem ser um indício da ação de novas cepas que já circulam no Estado como, por exemplo, as variantes de Manaus e do Reino Unido, que já são comprovadamente mais infecciosas.“Essas variantes tanto aumentam a transmissão, quanto o número de óbitos”, diz o infectologista Marcelo Daher. Ele aponta ainda que as novas cepas também podem ser responsáveis pelo aumento da mortalidade entre pessoas mais jovens.O professor e membro do grupo de modelagem da expansão espaço temporal da Covid-19 em Goiás, da Universidade Federal de Goiás (UFG), Alexandre Diniz diz que a circulação dessas novas cepas vai fazer o número de mortes crescer nas próximas semanas. “O problema principal é essa variante de Manaus que é muito transmissível e que está afetando pessoas mais jovens. Se fala também de uma carga viral mais forte. Ou seja, ela seria mais letal”, pontua.Diniz esclarece que, em Goiânia, a quantidade de mortes já estava acima do que foi estimado por eles para janeiro, pensando nos efeitos que as festas de final de ano poderiam ter. “Uma parte disso é em função, talvez, da nova variante”, explica.O professor explica que é necessário saber qual a frequência da doença, ou seja, qual o potencial de transmissão dela, para entender melhor quais os danos ela pode causar. “Assim vamos ter uma ideia do tamanho do impacto que a gente pode potencialmente sofrer”, esclarece.Nas quatro primeiras semanas epidemiológicas do ano, de acordo com o Painel da Covid-19 da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), Goiânia registrou 220 óbitos pela doença.Semana passada, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, em parceria com a UFG, detectou três casos de novas variantes em pessoas infectadas na capital. Duas estavam com a cepa P1, que é a de Manaus, e uma com cepa P2, encontrada pela primeira vez no Rio de Janeiro.A SMS possui mais 60 amostras sendo analisadas pela UFG. O intuito é coletar material suficiente para atestar se já existe ou não transmissão comunitária das cepas na capital.Em Goiás, já foram encontrados pelo menos oito variantes diferentes. As duas com maior importância epidemiológica são as de Manaus e do Reino Unido. Todas as amostras coletadas pelo Estado têm o sequenciamento genético para a identificação da cepa feito no Laboratório Adolfo Lutz, em São Paulo.-Imagem (1.2213418)