Após cerca de duas semanas com instabilidade no sistema do Ministério da Saúde (MS), os registros de dados de casos e óbitos relacionados a Covid-19 voltaram a ficar muito atrasados em Goiás. Até esta segunda-feira (16), 61% das mortes registradas nos últimos 10 dias ocorreram antes do dia 5 deste mês. Neste período, foram inseridos no sistema 168 óbitos pela doença, mas apenas 65 ocorreram entre os dias 6 e 16 de novembro, restando 103 mortes que já se sabiam anteriormente.O próprio MS preconiza que as registros devem ocorrer em no máximo 24 horas após o acontecimento. Entre o domingo (15) e a segunda-feira (16), 3 novos óbitos foram registrados, mas apenas um ocorreu neste período, sendo de um paciente do sexo masculino entre 60 e 69 anos residente do município de Montividiu, na Região Sudoeste de Goiás.O atraso faz com que muitos registros sejam inseridos ao mesmo tempo, o que causa a sensação de um aumento na quantidade de óbitos ou casos por Covid-19. No boletim do último sábado (14), por exemplo, houve a inserção de 94 óbitos pela doença, uma média diária acima até do pico da doença, registrado até então no mês de agosto, quando a pandemia chegou a matar mais de 56 pessoas por dia em Goiás.Essa quantidade registrada no dia 14 se deu justamente pelas falhas no sistema do MS que impediam a inserção dos registros, que ficaram acumulando. Quando os problemas foram corrigidos, ocorreu essa mudança substancial. No entanto, até então, consta oficialmente um óbito no dia 13, de um paciente de Goiânia, e um no dia 14, que era residente de Novo Gama. Esta não é a primeira vez que o sistema do governo federal apresenta instabilidade, o que já ocorreu em julho e em agosto.Por outro lado, também não é a única justificativa para o atraso no registro dos dados da pandemia da Covid-19, o que vem ocorrendo ao longo do ano. Para se ter uma ideia, dentre os 103 óbitos registrados em atraso e que ocorreram entre os dias 6 e 16 deste mês, há 2 casos que aconteceram ainda no começo da pandemia, no mês de abril, outros 3 em junho e 10 em julho. No mês de agosto foram mais 11 óbitos que só passaram a fazer parte das estatísticas agora em novembro, e de setembro foram mais 19 mortes.Superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), Flúvia Amorim afirma que não é possível saber quantos registros ainda estão por entrar no sistema. “São muitos municípios e cada um faz o seu registro. Uns têm mais casos, mas tem mais estrutura também para inserir com mais celeridade, outros não”, explica. Flúvia conta que o MS informou aos gestores estaduais que a equipe técnica tem trabalhado no sistema para consertar as falhas.Situação“Nunca na história, pelo menos na área da saúde, tivemos tanta informação registrada em tão pouco tempo no sistema do Ministério, nem com H1N1, nem com dengue, então isso ocorre mesmo”, acredita a superintendente. Neste momento, o sistema ainda passa por instabilidade.Segundo Flúvia, ele havia fica estável na quarta-feira e na quinta-feira da semana passada, mas já na sexta-feira voltou a apresentar problemas. O superintendente de Vigilância de Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, Yves Mauro Ternes, conta que, nesta segunda-feira (16), os dados foram inseridos sem problemas na capital.No entanto, ele confirma que ainda há casos em atraso para ser inseridos. “Para evitar problemas com isso, nossa análise considera apenas a data do óbito e não do registro. Tivemos dia com 33 registros, mas não foram todos óbitos em um mesmo dia”, conta Ternes. Ele explica que o problema ocorre com a realização do download no banco de dados do MS, quando é necessário encerrar os casos registrados como óbitos, o que acaba gerando o acúmulo deste trabalho, que é manual.Assim mesmo, tanto Flúvia quanto Ternes consideram que os gestores não estão sem saber a situação epidemiológica da Covid-19. A superintendente da SES-GO explica que a base passou a ser a taxa de internação de leitos para Covid-19 no Estado, incluindo as redes pública e particular. “Esses são dados nossos, que não passam pelo sistema do MS, então não têm esse problema. Nossa taxa de internação tem até diminuído”, afirma.No começo do mês, entre 50% e 55% dos leitos ficavam ocupados, índice que agora está em torno de 40% no Estado. Em Goiânia, a taxa de internação também é o dado analisado pelos gestores para avaliar a situação da pandemia, e tem apresentado estabilidade. Taxa de infecção permanece abaixo de 1,0 em todo EstadoA taxa de infecção (R) de coronavírus (Sars-CoV-2) em Goiás permanece abaixo de 1,0 em todo o Estado, índice que foi atingido ainda em outubro e significa que a transmissão da Covid-19 tem sido menor. No entanto, em razão do atraso nos registros dos casos e de óbitos, que ocorre pela instabilidade no sistema do Ministério da Saúde, a SES-GO prefere não divulgar o número exato, pois ele é calculado com base nos registros dos boletins epidemiológicos. Para se ter uma ideia, no começo do mês, a taxa para Goiânia era de 0,89. Ou seja, um grupo de 100 pessoas infectadas era capaz de transmitir a Covid-19 para outras 89. No começo da pandemia, esse mesmo índice chegou a ser de 1,3, quando um grupo de 100 infectados transmitia a outras 130 pessoas. Superintendente de Vigilância em Saúde da SMS de Goiânia, Yves Mauro Ternes afirma que vai esperar a normalização do sistema do MS para pedir novo cálculo da taxa, que é feito por professores da Universidade Federal de Goiás (UFG).