As festas de fim de ano tendem a aquecer os corações das famílias ao redor do País, no entanto, podem também ser motivo de muita aflição entre os animais domésticos. Férias a longo prazo e falta de espaço para deixar cães e gatos é uma das questões que levam ao abandono animal durante este período. A atitude gera preocupação e é vista como irresponsabilidade por instituições, ONGs e ativistas, podendo ser seguida de maus-tratos, ato criminoso previsto por lei. De janeiro deste ano até a primeira quinzena de dezembro, a Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma) registrou 850 denúncias de maus-tratos de animais.Uma matéria publicada pelo O Popular em julho deste ano reúne dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e estima cerca de 144 mil cachorros abandonados nas ruas do estado de Goiás, enquanto Goiânia aproxima-se de 30 mil cães. Não há uma estimativa para gatos. Já em território nacional, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que no Brasil existam cerca de 30 milhões de animais abandonados, sendo 20 milhões de cachorros e 10 milhões de gatos.Com o intuito de erradicar e conscientizar o respeito animal, o Dezembro Verde, projeto de lei de autoria da vereadora Sabrina Garcez (Republicanos), foi aprovado pela Câmara Municipal em outubro, e incluído no Calendário Oficial de Eventos do Município. Desse modo, a Prefeitura e órgãos públicos da capital devem desenvolver campanhas dedicadas a ações de conscientização contra o abandono de animais. Em Goiânia, o crime de maus-tratos está previsto na Lei nº 9.843, de 09 de junho de 2016, que estabelece sanções e penalidades administrativas para aqueles que praticarem maus-tratos aos animais.CulturalLuciula do Recanto (PSD), vereadora e ativista da causa animal explica que a ação está ligada a uma cultura de enxergar os animais como objetos. “Por ser um período em que as pessoas viajam muito, vão para casa de parentes no interior, vão para praia, vão para outros lugares, a maioria infelizmente abandona os animais porque elas não querem gastar com hotel, com cuidador. Então, preferem soltá-los”, diz. Em paralelo, porém, a atitude se torna um ciclo vicioso entre as famílias, segundo ela, já que após um tempo as pessoas decidem abrir novamente as portas das casas aos animais até chegar novamente os meses de férias.A médica veterinária e presidente interina do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-GO), Ingrid Bueno, afirma que a situação é alarmante e ocorre ano após ano. “Muitas vezes esse animal não consegue viver na rua, não são acostumados com trânsito, com brigas, doenças e mesmo se resgatados, eles adquirem um trauma para se adaptarem em outro lar”, contextualiza. O cenário descrito por ela é comum entre os animais domésticos que perdem contato com seus tutores subitamente.Leia também:- Suspeitos de abandonar cadela com seis filhotes são indiciados por maus-tratos, em Goiânia; vídeo- Pet places, comedouros em praças e hospital público: Saiba como a capital trata seus animais- Crise financeira faz crescer abandono de animais domésticos em Goiânia- Projeto na UFG destina recursos de reciclagem de tampinhas para animais abandonadosA médica chama atenção para outra circunstância frequente nas festas natalinas. “As pessoas ainda confundem animal com presente e adquirem cães e gatos neste período, mas quando crescem e começam a dar mais trabalho, esse abandono acontece já nos primeiros meses do ano”, lamenta. A profissional reforça ser essencial que as famílias se organizem incluindo o animal que decidiram cuidar. “Primeiro, é pensar se todas as pessoas da casa estão de acordo, se tem espaço, tem condições, e quando chegar as férias buscar alternativas, tem muitos hotéis de pet, cuidadores, locais que aceitam em viagem”, diz.Castração Para Luciula, outro ponto que deve ser pensado é em relação a castração dos animais, para evitar que a grande quantidade de cães e gatos dificulte a manutenção da saúde destes e das condições financeiras da própria família, e recomenda que os tutores busquem clínicas que realizem a cirurgia de maneira solidária. Os desafios de encontrar maneiras para sustentar aquele animal podem levar a família a optar por abrigos e ONGs. Nesse caso, a vereadora chama a atenção para a superlotação já existente nos locais. “O abrigo é pronto socorro que, infelizmente, acaba virando um acúmulo de animais porque a sociedade abandona, e nós não temos políticas públicas que visam o bem-estar dos animais”, afirma.Uma dificuldade vivida por Rayza Araújo, da Associação Abrigo para Animais Refugados em Goiânia. A jovem concorda que há aumento de abandonos já nos primeiros meses do ano, quando a família e o animal não se adaptam. “O período de festas pode ser um incentivo para as adoções, mas infelizmente após a virada do ano os casos de abandono costumam aumentar, percebemos que compram e adotam por impulso, e animais de estimação demandam dedicação; então, na primeira dificuldade as pessoas abrem mão”, diz. “Não existe segredo, adotar é um ato de amor e de responsabilidade também. As pessoas precisam se responsabilizar pela atitude de ter um bichinho e cuidar dele”, completa.Além da conscientização e incentivo à adoção que o Dezembro Verde propaga, ainda existe um longo caminho a ser percorrido na efetivação das leis aplicadas, segundo Rayza. “Toda iniciativa que visa conscientização sempre é válida. Porém, já existem leis contra maus-tratos e abandono que não são cumpridas com eficiência, e isso é de extrema importância.”A Amma recebe denúncias pelo número 161. O órgão realiza a autuação e, em alguns casos, intima o proprietário do animal a realizar o tratamento da saúde do mesmo e apresentar os relatórios médicos veterinários junto ao órgão, comprovando o atendimento. No que diz respeito a castração de animais, a Amma informa que faz parte da política pública de Bem-Estar Animal da Prefeitura de Goiânia e, portanto, está em fase final de ampliação o Centro de Saúde e Bem-Estar Animal para a realização de pequenas cirurgias, especialmente de castração. “Essa ampliação deve ser finalizada até o início do próximo ano, o intuito é garantir a redução da população animal de rua em Goiânia”, escreve em nota.-Imagem (1.2584229)