Em assembleia extraordinária realizada nesta quarta-feira (7), a Associação de Pós-graduandos e Pós-graduandas da Universidade Federal de Goiás (APG-UFG) decidiu aderir, nesta quinta-feira (8), à paralisação em âmbito nacional contra o bloqueio de recursos do Ministério da Educação (MEC) que travou o pagamento dos bolsistas, conforme comunicado pela própria Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).A paralisação foi convocada pela Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG) para todo o Brasil. Conforme a entidade, os bloqueios promovidos pelo governo federal “não permitem que a CAPES, Universidades e outros órgãos cumpram com suas obrigações financeiras, como pagamento de água, luz, terceirizados e as bolsas de assistência estudantil e de estudos, no Brasil e exterior, como mestrado, doutorado e residências”.De acordo com a vice-presidente da APG-UFG e membro do Programa de Pós-graduação em História, Lara Damiane, são quase 1,5 mil bolsistas na pós-graduação da universidade que estão sem receber suas bolsas. Além deles, destaca Lara, há também os bolsistas da graduação, de residência pedagógica e do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid).“Vamos paralisar todas as atividades da pós-graduação, desde as aulas até as pesquisas. Algumas pesquisas, contudo, não podem parar, mas os estudantes vão manter apenas as atividades essenciais”, informou Lara, se referindo às atividades essenciais como algumas pesquisas que podem sofrer grave prejuízo caso sejam interrompidas no momento.A vice-presidente da APG-UFG pontuou ainda que a paralisação é por tempo indeterminado. “Temos esperanças de que, com as mobilizações que estão sendo feitas, o desbloqueio aconteça o mais rápido possível. Porém, só vamos sair da greve quando recebermos nossas bolsas. Nossas pesquisas são o nosso trabalho e muitos de nós temos a bolsa como a única renda, uma vez que ela exige vínculo exclusivo”, disse.Importância da pesquisaAo POPULAR, o presidente da APG-UFG e membro do Programa de Pós-graduação em Sociologia, Leonardo Alves, ressaltou a importância da pesquisa para a sociedade. Segundo ele, a bolsa é o pagamento de um trabalho de usufruto coletivo, uma vez que se trata da “realização de novas tecnologias, novos conhecimentos, de inovação para a sociedade, realizado em dedicação exclusiva.”“Os pesquisadores cumpriram uma importante tarefa durante a pandemia, no mapeamento da doença [Covid-19] em diversos setores da sociedade, na disponibilização de vacinas. A gente tem pesquisas importantíssimas sendo desenvolvidas neste momento que podem ser paralisadas devido a esse corte nas bolsas”, destacou.Leia também:Pesquisadores da UFG denunciam que estão sem pagamento de bolsa após bloqueio orçamentárioBloqueio da educação afeta 1.231 bolsistas e 437 residentes na UFGLeonardo cita, como exemplo de pesquisas que podem ser prejudicadas, a pesquisa em andamento na UFG de prevenção à perda de visão e também uma voltada para o hidrogênio verde, que visa mitigar os efeitos das mudanças climáticas.BloqueiosConforme apurado, alunos de áreas que vão desde a comunicação até a residência médica ainda não receberam o último pagamento e receiam que o atraso se estenda ainda mais em decorrência do contingenciamento imposto pelo MEC. Em um comunicado divulgado na noite desta terça-feira (6), a Capes, que está ligada diretamente ao MEC, informou ter sofrido dois contingenciamentos recentes impostos pela pasta, o que a obrigou a tomar imediatamente “medidas internas de priorização, adotando como premissa a necessidade urgente de assegurar o pagamento integral de todas as bolsas e auxílios.”No entanto, o órgão declarou ter sido surpreendido com o decreto n° 11.269, de 30 de novembro, que “zerou por completo a autorização para desembolsos financeiros durante o mês de dezembro”, impondo a mesma restrição a praticamente todos os ministérios e entidades federais.“Isso retirou da Capes a capacidade de desembolso de todo e qualquer valor - ainda que previamente empenhado - o que a impedirá de honrar os compromissos por ela assumidos, desde a manutenção administrativa da entidade até o pagamento das mais de 200 mil bolsas, cujo depósito deveria ocorrer até amanhã, dia 7 de dezembro”, destacou, acrescentando já ter cobrado das autoridades competentes “a imediata desobstrução dos recursos financeiros essenciais para o desempenho regular de suas funções, sem o que a entidade e seus bolsistas já começam a sofrer severa asfixia.”UFG diz que não poderá efetuar mais pagamentos neste anoA UFG se referiu à situação de contingenciamento orçamentário como estarrecedora.Em nota assinada pela Pró-Reitoria de Administração e Finanças e enviada ao POPULAR, a universidade informou que terem sido bloqueados R$ 2,4 milhões, sendo que um terço desse valor é usado no custeio do Restaurante Universitário.Veja a nota na íntegra:“A UFG já se encontrava com muitas dificuldades após o corte ocorrido no meio do ano. A situação se agravou muito, pois nos foi bloqueado o pouco que havíamos reservado para os compromissos mais importantes, incluindo manutenção do funcionamento do restaurante universitário, viagens para aulas práticas, materiais e alguns equipamentos. Foram bloqueados 2,4 milhões da UFG, sendo ⅓ referente a Assistência estudantil (Restaurante Universitário).Adicionalmente, foi anunciado pelo MEC que não receberemos o financeiro no mês de dezembro, mesmo para os compromissos cujo empenho já estavam executados. Portanto, não teremos como efetuar pagamentos este ano. Temos explicado a situação às empresas, solicitando que compreendam nossa dificuldade e não interrompam o pagamento de seus funcionários.Também estamos preocupados com a notícia de que o MEC não terá como pagar em dezembro os médicos residentes de hospitais federais e os bolsistas da Capes. Estamos de mãos atadas, estarrecidos, aguardando alguma decisão por parte do Ministério da Economia que reverta, o quanto antes, esta absurda situação.”A reportagem entrou em contato com o MEC por e-mail, mas ainda não obteve retorno. O espaço permanece aberto.