-Imagem (1.2369980)“Nós sofremos. Sofremos por causa do nosso confrade e também por saber que a obra é maior do que todos nós, servidores da Igreja e da congregação.” É assim que se manifesta o padre João Paulo Santos de Souza, de 38 anos, que acaba de assumir a presidência da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe). A instituição está no centro de denúncias feitas pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) em agosto de 2020 quando foi desencadeada a Operação Vendilhões, que colocou como principal investigado o idealizador e então presidente da Afipe, padre Robson de Oliveira. Ele foi acusado de desviar recursos doados por fiéis.Há um ano e quatro meses há um esforço da Congregação Redentorista para mostrar que o trabalho dos missionários é maior do que as circunstâncias desse escândalo que envolve um de seus membros. Docente do Instituto De Filosofia e Teologia de Goiás (Ifiteg) e da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), padre João Paulo Santos estava em Roma fazendo pesquisas para o doutorado quando a Operação Vendilhões veio a público. De volta ao Brasil, foi designado por seus superiores para ocupar a reitoria do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade. A função era exercida por padre Robson de Oliveira, assim como a presidência da Afipe, que ele assumiu há pouco. O religioso, que é um profundo pesquisador da Bíblia, disse ao POPULAR, há pouco mais de um ano, que estava consciente do desafio e de sua missão. “A gente espera conseguir levar adiante um projeto missionário que foi assumido aqui há mais de 125 anos pelos redentoristas. Vivemos um momento de dificuldade, mas é preciso ver toda a importância, o legado de tantas pessoas que entregaram suas vidas à evangelização com humildade, com audácia e com simplicidade.”De acordo com o MP-GO, Robson de Oliveira foi responsável por um esquema de desvio de dinheiro arrecadado junto aos devotos pela Afipe e outras duas associações vinculadas ao Santuário Basílica. Recursos que teriam sido destinados à compra de imóveis de luxo e fazendas. Desde a Operação Vendilhões, o padre foi afastado de suas funções ministeriais, uma suspensão que vem se renovando a cada seis meses. Desde então, vivendo em uma residência da congregação, se mantém distante da mídia, delegando aos advogados qualquer manifestação sobre as investigações. Segundo a assessoria de imprensa da Afipe, hoje sob a responsabilidade de uma agência da Congregação Redentorista, há muitos questionamentos sobre a relação atual do padre Robson com o Santuário e a Afipe. “Ele continua tendo restrições no exercício do seu ministério sacerdotal por força de um decreto canônico feito pela nossa Província. Enquanto essa situação perdurar, o que não depende de mim, nosso confrade não poderá assumir um trabalho”, responde padre André Ricardo, provincial dos redentoristas em Goiás. Referendando a mesma linha de ação que vem imprimindo ao seu trabalho junto à reitoria do Santuário Basílica em Trindade, padre João Paulo é mais direto e prefere não dar margem a especulações. “Há uma nova diretoria. Nós estamos trabalhando muito para recuperar a confiança de mais e mais pessoas que nos deixaram por sentirem-se decepcionadas e o nosso confrade não tem, hoje em dia, nenhum tipo de contato ou trabalho com a associação”. Confiança Com o escândalo que bateu às suas portas, a Afipe sentiu um duro golpe financeiro. A devoção à Santíssima Trindade mobiliza fiéis de todo o país. No meio do ano, o município da região metropolitana de Goiânia chegou a receber 3 milhões de romeiros durante as festividades dedicadas ao Divino Pai Eterno, evento religioso que é o maior do Centro-Oeste brasileiro. São as contribuições dos devotos que mantêm o processo de evangelização feito pela TV Pai Eterno e redes sociais, as obras sociais e a construção do novo Santuário, além de apoiar a Província dos Redentoristas de Goiás e a Arquidiocese de Goiânia. De acordo com a Afipe, até a Operação Vendilhões a instituição arrecadava R$ 20 milhões por mês e as despesas fixas superavam a casa de R$ 17 milhões. A margem de sobra era empregada em novos investimentos. Com as denúncias, o faturamento caiu 80%. “No último ano fizemos um enorme e concentrado esforço para diminuir despesas e para comunicar ao devoto que a obra está ligada ao Pai Eterno e não a nós, os missionários que servimos ao Santuário. Tivemos a compreensão e o apoio de milhares de pessoas, mas a doação não chegou sequer a 50% do valor antes arrecadado”, relata padre André Ricardo.Para resgatar a confiança dos devotos do Divino Pai Eterno, atualmente as contas são prestadas diariamente pelos canais eletrônicos da instituição. “Procuramos mostrar o que fazemos com as doações que nos chegam em três campos de trabalho: a construção do Santuário, a manutenção das estruturas de evangelização e o apoio ao trabalho social”, explica padre João Paulo Santos. O missionário redentorista Frei Alexandre Alves foi designado para conferir as contas que são detalhadas em vídeo exibido por ele em um canal do You Tube. O pequeno empresário João Batista, morador do Parque Santa Rita, em Goiânia, é um devoto do Divino Pai Eterno e colaborador assíduo. “Fiquei chateado e deixei de contribuir por dois meses, mas depois eu fiquei pensando que o acerto dele (padre Robson) é com Deus. Se ele traiu alguém foi o Criador. A minha fé não foi abalada. Sonho em trabalhar no Novo Santuário e dizer: ´coloquei um tijolinho aqui`”. Ministro da Eucaristia, João Batista deposita confiança no padre João Paulo. “É uma pessoa simples, carismática, não anda com seguranças e se mistura com os romeiros”, resume. O devoto cita o exemplo do pai, de 90 anos, que prometeu nunca mais assistir a uma novena do Santuário Basílica e hoje sonha com o dia em que possa conhecer o novo reitor. Thiago Vieira Souza, morador de Trindade, onde tem uma confeitaria, é outro devoto que não deixou de contribuir com a Afipe. “Tenho uma fé muito grande e sei que a Igreja é composta de seres humanos. Para mim não mudou nada. O que eu faço é para Deus.” Thiago nunca manteve um contato direto com o reitor do Santuário Basílica, onde assiste às missas, porém tem esperanças de que mudanças ocorreram. “Já me disseram que ele é muito humano”, comenta. -Imagem (1.2369926)