Uma massa de ar seco atua de forma dupla em uma parte de Goiás. Ela está associada às elevadas temperaturas e à queda na umidade relativa do ar. O sistema meteorológico tem duas frentes: uma na superfície e outra nas alturas. Com isto, o estado experimenta o aumento dos dias de estiagem, crescimento da preocupação com o abastecimento público e o convívio com múltiplos alertas sobre condições climáticas.A presença de uma massa de ar seco na Região Centro-Oeste nesta época do ano é comum. No entanto, neste momento, ela tem um agravante. Há uma concentração na superfície e outra entre 3 quilômetros e 6 quilômetros de altitude.A formação superior tem se movimentado para a que está mais próxima do solo, potencializando o aumento desta última. “Isso pode acontecer, principalmente em setembro e na primeira quinzena de outubro, antes das chuvas”, explica a chefe do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) em Goiás, Elizabete Alves Ferreira.Nesta terça-feira (13), o Inmet havia emitido quatro alertas para Goiás. Três deles referentes a baixa umidade relativa do ar e um relativo a onda de calor. O último aviso, que vale até as 19h desta quarta-feira, pontua que as temperaturas poderiam se elevar em até 5°C acima da média do período.Os alertas de baixa umidade relativa do ar previam que a mínima poderia variar de 20% a menos de 12%, conforme a localidade. Nestas condições os riscos para incêndios aumentam. Também cresce a preocupação com a saúde, pois há risco de manifestação de ressecamento da pele, desconforto nos olhos, doenças pulmonares e dores de cabeça, conforme os avisos.Leia também:- Após 4 meses sem chuva, Rio Meia Ponte entra no nível crítico 2- Onda de calor: temperatura chega a 40°C em Porangatu- Com clima de deserto, Goiás segue com temperaturas elevadas e umidade do ar em queda- Cerrado ficou 10% mais seco e 0,9° C mais quente em pouco mais de uma décadaEsta terça foi de mais calor para os goianos. Para se ter ideia, às 15h, o município com temperatura mais baixa, Cristalina, tinha 33,1°C. A cidade de Goiás teve o recorde de calor: 39,2°C. Na sequência apareceram São Miguel do Araguaia (38,8°C), Itumbiara (38,7°C), Goiânia e Porangatu, ambas com 38,6°C, conforme as estações meteorológicas disponíveis no site do Inmet.A segunda-feira (12) também foi quente. São Miguel do Araguaia e a cidade de Goiás tiveram 40°C. A capital experimentou um pouco mais de calor que nesta terça: 38,4°C.A umidade relativa do ar na capital teve mínima de 11% na terça. A máxima foi de 51%, também um índice abaixo do preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS): 60%.O alívio nesta condição depende da atuação de uma massa de ar frio. No momento, considerada por Elizabete como pouco provável, conforme os modelos meteorológicos. A outra opção pode ser umidade vinda do Norte do País. Para esta aposta as chances são estimadas em 30%. Há a concentração de umidade no Sul do Pará. Se houver ganho de força na formação, esta pode se movimentar e alcançar norte e nordeste de Goiás. Isso provocaria chuvas isoladas por lá.Além do calor, a meteorologista chama a atenção para outra questão que ocorre nesta época. A alta na radiação ultravioleta. Mapa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais mostra o estado quase todo na cor vermelha, sinal de presença de raios fortes e ameaça à saúde.“Nesta época a radiação é direta. É preciso fazer a proteção de cabeça, olho, usar roupa mais leve, principalmente as pessoas que se expõem muito ao sol”, alerta Elizabete.A estação meteorológica do centro da capital não registra precipitação há 157 dias. As chuvas só devem vir a partir da segunda quinzena de outubro, conforme a meteorologia.Atualmente, não há nenhum indicativo de precipitação nos modelos meteorológicos que monitoram as condições climáticas de Goiás.FogoCom o avanço da estiagem, a vegetação secou e aumentou o risco de incêndios florestais.Do dia 1º até esta segunda-feira (12), a média diária de incêndios é de praticamente 60 no estado. No período já são 717, conforme o Inpe. No ano, o total chega a 3.463 registros do tipo.O município de Niquelândia registra um incêndio de grandes proporções. Na Chapada dos Veadeiros, o fogo também consome parte da vegetação.Criticidade de rio avançaA estiagem que já ultrapassa os cinco meses levou o Rio Meia Ponte ao nível crítico 2. Ou seja, vazão abaixo de 4 mil litros por segundo (l/s). Nesta condição, a captação da Saneago continua em 2.000 l/s, mas o setor produtivo é obrigado a reduzir a retirada do recurso em 25%. A medida é prevista na deliberação nº 17 do Comitê da Bacia do Meia Ponte.O texto também prevê que se a vazão média de sete dias cair para 3.000 l/s ou menos, o equivalente ao nível crítico 3, a redução das outorgas do setor produtivo passa para 50% e a captação da Saneago é reduzida à metade, ou seja, para 1.000 l/s. A companhia diz que mesmo que isto ocorra, consegue suprir a demanda. O nível crítico 4, vazão menor ou igual a 2.000 l/s implica na no racionamento.Presidente do Comitê, Fábio Camargo avalia que a situação é menos problemática que a do ano passado, mas não confortável. “Eu acredito, tomando por consideração o ano passado, que nós temos pouca possibilidade de termos o rodízio de água. Por outro lado, temos 120 dias sem chuva (na Bacia do Meia Ponte)”, alerta.Com o calor, o açougueiro Dheimes Ribeiro, de 32 anos, passava parte da tarde desta terça no Meia Ponte. Junto com a família, o objetivo era se refrescar. “Eu não consigo vir no domingo, porque é muito cheio, mas às vezes venho para descansar.”-Imagem (1.2529073)