O Jardim Botânico Amália Hermano Teixeira, em Goiânia, presta serviços ambientais relevantes para a capital. Eles vão desde a diminuição e o retardo do transbordamento do Córrego Botafogo à despoluição do ar.Engenheiro agrônomo e pós-doutor em Engenharia Ambiental e professor da PUC Goiás e do Instituto Federal de Goiás, Antônio Pasqualetto lista ao menos seis serviços ambientais. Berço da nascente do Córrego Botafogo, o Jardim Botânico faz com que a velocidade da chuva seja reduzida, por meio da copa das árvores, e haja maior infiltração da água. “Ele acaba cumprindo a função de drenagem urbana, ajuda no processo de infiltração de água, diminuindo os picos de vazões no córrego. (...) Aumenta a recarga do lençol freático, sendo a água liberada lentamente”, completa.Além disso, há fornecimento de oxigênio; absorção do CO2 para o processamento fotossintético, que faz despoluição do ar; atua como barreira sonora; conserva a biodiversidade e faz a regulação do microclima.A regulação do microclima foi objeto de uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Goiás (UFG). A conclusão foi de que áreas verdes reduzem as temperaturas e aumentam a umidade relativa do ar, proporcionando melhor conforto ambiental e mais qualidade de vida para a população adjacente.O Jardim Botânico também cumpre importante papel no fornecimento de material para pesquisa e como espaço para a educação ambiental.O local, que nesta sexta-feira (28) celebra aniversário de 44 anos de existência, terá uma programação especial promovida pela Prefeitura de Goiânia. Serão entregues uma trilha ecológica com 800 metros de extensão e um pomar de exemplares com frutas do Cerrado, que servirá de alimentação para animais que vivem no local, entre outras benfeitorias.A programação inclui ainda a soltura de aves fornecidas pelo Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Ibama). São animais apreendidos ou que foram resgatados, tratados e agora precisam retornar para a natureza.Superintendente de Gestão Ambiental e Licenciamento da Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma), Ormando Pires afirma que foram empregados cerca de R$ 40 mil. Ele afirma que estão planejadas a reforma da sede do Jardim Botânico e a formação de uma brigada de incêndio para as unidades de conservação de toda a capital. A formação do Corpo de Bombeiros será para 52 supervisores de parques.Nesta sexta-feira, a população também poderá visitar uma feira de adoção de pets no local das 9h as 13h, café da manhã, mutirão de limpeza e apresentação da Orquestra Sinfônica, este último evento às 17h.FogoEm 2019, o Jardim Botânico foi alvo de uma queimada. O fogo consumiu cerca de 9% dos 1 milhão de metros quadrados da estrutura verde.O superintendente afirma que a área foi regenerada por meio da própria natureza e também com reconstituição vegetal feita pelos agentes da Amma.Um ano antes, a unidade de conservação havia sido revitalizada e reinaugurada. Os recursos foram empregados pela iniciativa privada com mão de obra da Companhia Municipal de Urbanização (Comurg).O Jardim Botânico tem, entre outras estruturas, um museu cartológico, uma ilha de borboletas e um teatro a céu aberto, com deck de madeira sobre o espelho d’água.Nos últimos anos ele recebeu iluminação, pista de caminhada e uma ciclovia.Pressão imobiliária é desafio para integridade da unidade de conservaçãoSituado em uma região valorizada e já bastante verticalizada, o Jardim Botânico convive com ameaças que podem prejudicar a integridade do local, conforme especialistas ouvidos pelo POPULAR.Em 2016, a Prefeitura de Goiânia colocou em discussão a implantação de uma Operação Urbana Consorciada (OUC). Por meio dela, haveria critérios para a permissão de um adensamento nos arredores da unidade de conservação. Muito criticada, acabou fracassando.Na década passada também houve discussão para que quadras do Setor Pedro Ludovico vizinhas ao parque pudessem receber prédios. A mobilização dos locais brecou a iniciativa.O engenheiro agrônomo Antônio Pasqualetto afirma que o Plano Diretor de Goiânia deveria estabelecer regras para ordenar a ocupação na região. “Vai haver um processo de verticalização em torno dele.Tem de haver uma parceria para buscar harmonia entre economia e processo de ocupação, envolvendo a iniciativa privada e o poder público”, diz, ao acrescentar que o Bairro Alto da Glória, vizinho ao local, já foi verticalizado.O parque já conviveu com ocupações por décadas, mas elas foram retiradas.Presidente da Associação para Recuperação e Conservação (Arca), a arquiteta e urbanista Maria Ester defende que é necessário implantar ações de proteção à reserva natural. Ela sustenta ser importante haver investimentos mais volumosos.Ela propõe a aplicação em tecnologias para ampliar o uso do local como sala de aula, reforçar a proteção e o monitoramento das nascentes, bem como a divulgação do estado das mesmas. “Passam as gestões e ele não recebe o tipo de equipamento que poderia e o investimento do porte que deveria”, critica.“O Jardim Botânico s foi criado 30 anos depois da fundação de Goiânia, a cidade já tinha explodido”, cita ao pontuar que a identificação da comunidade com o local é algo que pode ser melhorado.A apropriação do local é defendida tanto por Maria Ester quanto por Pasqualetto. A arquiteta e urbanista lembra que uma sinalização mais expressiva poderia aproximar a população do local. “É importante pensar alguns equipamentos de lazer para que a população possa usar o parque sem degradar. Porque se não fica uma coisa quase intocável, endeusada, não frequentada, diferente do Bosque dos Buritis e do Lago das Rosas. Ormando Pires diz que há uso comunitário, mas que alguns espaços têm de ser restritos à visitação para favorecer a preservação.