Quando os portões do Parque Mutirama forem reabertos no sábado (29) após dois anos fechados para uma reforma estrutural de seus brinquedos, um personagem importante da história do centro de lazer goianiense vai acompanhar de longe as festividades. Aos 91 anos, o engenheiro civil aposentado Wilson Honorato Rodrigues, que esteve à frente dos operários que construíram o parque, ainda não consegue lidar com a mágoa provocada pelos acontecimentos que precederam a data prevista para a inauguração do local, em 1969. “Meu coração ainda dói. São 50 anos com isso entalado”.O Parque Mutirama, uma das obras icônicas do primeiro mandato de Iris Rezende à frente da Prefeitura de Goiânia, não foi inaugurado por ele. No dia 17 de outubro de 1969, a uma semana da data prevista para a entrega oficial do parque, 24 de outubro, aniversário da capital, o prefeito teve seus direitos políticos cassados por força do Ato Institucional nº 5, editado no governo do general Artur da Costa e Silva. Coube ao prefeito designado pelo regime militar, Leonino Di Ramos Caiado, encabeçar a cerimônia oficial de inauguração, o que só ocorreu no dia 15 de novembro daquele ano.O engenheiro Wilson Honorato Rodrigues e o arquiteto modernista Eurico Calixto de Godoi, morto em 1993, ocupavam, em pé de igualdade, a Assessoria de Planejamento da Prefeitura de Goiânia, entre janeiro de 1966 e outubro de 1969. Escolhida por Iris Rezende, a dupla tirou do papel obras que transformaram a paisagem de Goiânia, como a Vila Redenção, a Praça Tamandaré, a Praça Universitária e o Parque Mutirama. O último, que começou a ser construído em 1967, acabou se tornando um emblema da interrupção abrupta do mandato de Iris Rezende. “Quando falo do Mutirama sempre me comparo a um pai que cria um filho e ele morre. Não tive a chance de inaugurar”, lamenta Wilson Honorato.Lúcido, o engenheiro aposentado recebeu O POPULAR em seu apartamento na Alameda dos Buritis, no Centro de Goiânia, onde relembrou o período de obras do Mutirama. “Durante dois anos dediquei todas as minhas manhãs à construção do parque. Sempre reuníamos os três - Iris Rezende, ele e o arquiteto Eurico Godoi - para discutir o projeto”, conta, enquanto mostra fotografias da época. Wilson Honorato nunca mais retornou ao parque e nem mesmo olhou para sua direção. “Tive vontade de voltar, não nego, mas o coração pesa.”Em artigo publicado no POPULAR no dia 19 último, Iris Rezende relatou que a construção do Parque Mutirama surgiu da vontade de impedir a degradação do Bosque do Botafogo e da inspiração que teve ao visitar o parque temático da Disney, em Orlando (EUA), logo após sua eleição. “Ele colocou na cabeça que precisava criar um parque para atender crianças necessitadas, aí chamou o Eurico Godoi para fazer o projeto. O local foi escolhido por ficar perto da Nova Vila e Vila Nova, onde moravam pessoas mais pobres. Lá havia seis casas e foi preciso fazer a desapropriação”, lembra Wilson Honorato. O nome do parque surgiu da junção da palavra mutirão e autorama.Alguns momentos da construção do Parque Mutirama ainda estão muito presentes na memória do engenheiro. No dia em que chegaram a Goiânia os 12 caminhões de brinquedos e equipamentos importados que seriam instalados no parque houve desfile pela cidade. “Meu filho, Carlos Eduardo, que tinha 12 anos, foi à frente, no primeiro caminhão, batendo um sino”.O esforço para transportar a areia que cobriria toda a área de acesso aos brinquedos também é uma lembrança viva. “Fizemos um mutirão para trazer 200 caminhões de areia da cidade de Goiás”. A construção respeitou o meio ambiente. Nenhuma árvore foi arrancada.Agetul entrega laudos e MP-GO dá aval para a reinauguração no sábado“Vamos abrir o Mutirama no sábado, às 9 horas. Todas as providências foram tomadas. O Mutirama está completando 50 anos e nesse tempo só houve um acidente. Durante dois anos a prefeitura se debruçou sobre todos os brinquedos, com técnicos especializados”, disse ontem o prefeito Iris Rezende, enfatizando que a segurança do parque está garantida. Presidente da Agência Municipal de Turismo, Eventos e Lazer (Agetul), à qual é vinculado o Parque Mutirama, Urias Júnior se reuniu ontem com a promotora de Justiça Leila Maria de Oliveira, autora da ação civil pública que culminou na suspensão das atividades do parque após o acidente em julho de 2017 deixando 13 feridos. O presidente da Agetul entregou a ela as Anotações de Responsabilidade Técnica (ARTs) de 17 brinquedos assinadas por engenheiros credenciados ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO). As três restantes serão encaminhados ainda hoje. “O parque irá abrir. Existe uma necessidade social de lazer para a população. Os 17 brinquedos que já têm o laudo são absolutamente seguros e eu acredito que os outros três, cujos laudos serão me encaminhados, também são”, comentou Leila Maria de Oliveira. Ela ressaltou que se houver qualquer problema, o Judiciário volta a ser acionado. Urias Junior demonstrou tranquilidade. “Já nos reunimos com o MP, com o Corpo de Bombeiros e com o Crea. Todos os documentos atestando a segurança dos brinquedos serão entregues aos órgãos de controle e fiscalização dentro do prazo. Não tenho dúvida de que haverá uma grande festa, o início das comemorações dos 50 anos do Mutirama”. A primeira semana de funcionamento terá entrada gratuita. Segundo Urias, o parque tem capacidade para 10 mil pessoas.