Atualizada em 23 de agosto às 8h12Após 20 anos sem nenhum registro, o primeiro caso de Sarampo foi confirmado em Goiás pelo Ministério da Saúde. O registro é de um morador de Alto Paraíso de Goiás, na Região Nordeste do Estado, que teria se infectado em São Paulo e apresentado os sintomas em Santa Catarina. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), o paciente passou todo o período de transmissão da doença em Santa Catarina. Por este motivo, não existe cadeia de transmissão ou surto ativo de sarampo em Goiás até o momento. Apesar disso, o Ministério da Saúde classificou Alto Paraíso como município com surto ativo da doença.Outro possível caso de sarampo também está sob análise da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia e aguarda resultado de um segundo exame que deve ser divulgado até a próxima segunda-feira (26). Segundo a secretaria, o homem, de 45 anos, mora em Goiânia, mas voltou recentemente de São Paulo, onde já foram confirmados 965 casos apenas em 2019. Ele apresentou sintomas da doença e o primeiro exame confirmou a infecção, mas é necessário o resultado de um segundo para afirmação definitiva.O Brasil possuía o certificado de país livre do sarampo desde 2016. Acontece que as coberturas vacinais caíram em mais de 20%, houve aumento na imigração de países como Venezuela onde o vírus ainda circulava. Os surtos da doença começaram no país e resultaram na perda do título. Em 2018 foram registrados mais de 10 mil contaminados. Neste ano, em todo o país, os casos confirmados já somam 1.680, de acordo com o Ministério da Saúde.No Estado de Goiás, as notificações de casos suspeitos de sarampo somaram 38, sendo que 23 foram descartados e, atualmente, 14 estão em investigação. No Estado, os últimos 11 casos de sarampo aconteceram em 1999, há duas décadas. A última morte pela doença, por sua vez, foi em 1991. Para a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, o que muda para Goiás agora é que o risco de um surto importante cresce. Ela acredita que é preciso reforçar os cuidados e notificar qualquer caso de doença exantemática (as que causam bolinhas no corpo) para a Vigilância Municipal.“Um caso de sarampo em Goiás significa que o risco está mais perto. Motivo para preocupação existe desde 2017 quando o sarampo voltou em Roraima e causou mais de 10 mil casos no país em 2018, principalmente no Amazonas. É assim mesmo que acontece. A gente não pode esperar chegar no nosso Estado, no nosso município, no nosso bairro. Nunca é tarde demais, porque podemos fazer bloqueio, mas essas medidas não dependem de o sarampo ter chegado ou não. A doença está se espalhando pelo Brasil até atingir todos os Estados”, completou Ballalai.A vice-presidente da SBIm fala ainda sobre a necessidade de levar a vacina para locais mais distantes, com menos acesso, bem como ampliar as campanhas de comunicação para que as pessoas entendam a importância de se vacinar. São consideradas vacinadas e imunizadas, pessoas de 1 a 29 anos que tiverem registradas no cartão duas doses de vacina tríplice/ou tetra viral e pessoas de 30 a 49 anos uma dose de tríplice viral. A tríplice é aplicada aos 12 meses e a tetraviral aos 15 meses. Apesar disso, a vacina é disponibilizada para pessoas de até 49 anos e faz parte do Calendário Nacional de Imunização.Baixas coberturasA cobertura vacinal recomendável é acima de 95%. Neste ano, a tríplice em Goiás alcançou 75,91% e a tetraviral 66,27%. Na capital, entre as faixas etárias com menores coberturas estão as crianças de um a cinco anos com 85% e adolescentes e adultos de 15 a 29 anos com 36% de cobertura. As baixas coberturas vacinais podem estar diretamente ligadas ao surgimento de novos casos. No início do mês de agosto, o Ministério da Saúde anunciou que começou uma busca no mercado internacional para compra de vacinas tríplice e tetraviral devido ao alto número de casos registrados. Em Goiás, o envio mensal é de 10 mil doses, sendo que o consumo é de 9.600, sobrando uma margem extra para reserva. O último repasse feito pelo MS à Secretaria de Estado de Saúde foi neste mês e, segundo a pasta, 41 mil doses foram repassadas de vacinas tríplice viral. A tetraviral não foi encaminhada.A SES-GO esclarece, entretanto, que ninguém está deixando de ser vacinado. “Isto porque, no caso dos bebês, quando falta a tetraviral, são aplicadas duas vacinas: a tríplice e a varicela (caxumba). O efeito é o mesmo, o que ocorre é que ao invés de uma injeção, a criança recebe duas”, explicou por meio da assessoria.A Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) já havia anunciado um Plano de Contingência com estratégias para melhoria de coberturas vacinais, notificação, bloqueio e identificação de novos casos. Na ocasião, a superintendente de Vigilância em Saúde, Flúvia Amorim, afirmou que as crianças de um a cinco anos seriam prioritárias devido à chance de agravamento, bem como os jovens e adultos de 15 a 29 anos, devido à baixa cobertura. A promessa da secretária da pasta, Fátima Mrué, foi de monitoramento de cada caso suspeito e reforço para garantir imunização.Ministério da Saúde estabelece “dose zero” para menores de 1 anoPelo calendário do Sistema Único de Saúde (SUS), a tríplice (sarampo, caxuma e rubéola) é aplicada aos 12 meses e a tetraviral (que além das três doenças, imuniza contra a catapora) aos 15 meses. Apesar disso, o Ministério da Saúde (MS) já havia recomendado que as vacinas fossem ampliadas a bebês, a partir de 6 meses, que viajarem para áreas consideradas de risco para sarampo. Esta vacina deveria ser feita pelo menos 15 dias antes da viagem e não dispensa as demais aos 12 e 15 meses.Nesta quinta-feira, o Ministério anunciou que todas as crianças com idade entre 6 meses e 1 ano (11 meses e 29 dias) devem ser vacinas. A chamada “dose zero” deve beneficiar 1,4 milhão de crianças mas não exclui a necessidade das previstas no Calendário Nacional de Vacinação, aos 12 e 15 meses. Para que seja viável, o MS afirmou que enviará 1,6 milhão de doses a mais para os Estados. Isto porque, os bebês são mais suscetíveis a casos graves e óbitos.Secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira afirma que a medida é preventiva e que a faixa etária deve ser priorizada porque em surtos anteriores foram as crianças menores de um ano que evoluíram para casos mais graves e óbitos. O Ministério também está orientando municípios a realizarem o bloqueio vacinal. Isso significa que em situação de surto ativo da doença, quando for identificado uma pessoa contaminada, é preciso vacinar todas as pessoas que tiveram ou tem contato com aquele caso suspeito em até 72 horas. A recomendação, neste caso, é de vacinação seletiva. Quem já foi vacinado e possui comprovação não precisa receber uma nova dose.