O corte de R$ 13 milhões no orçamento anual da Universidade Federal de Goiás (UFG) para 2021 já afeta os estudantes mais pobres. A Reitoria optou por proibir o acúmulo de determinados tipos de benefício, para se adequar ao novo valor definido pelo governo federal. Assim, 613 alunos da graduação perderam pelo menos uma bolsa neste ano, podendo ficar com somente uma, entre as não acumulativas. A quantidade representa 22% do total que recebe auxílios. O valor das bolsas perdidas varia entre R$ 400 e R$ 610 por mês. Os dados são da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae).Após a mudança, estudantes de moradias estudantis chegaram a criticar a redução das bolsas em carta aberta divulgada nas redes sociais. Eles relataram atrasos em bolsas para indígenas e quilombolas, vinculadas diretamente ao Ministério da Educação (MEC). Bolsas essas que, em alguns casos, foram as que restaram, após os cortes de outras bolsas consideradas acumuladas pela UFG. No documento também são descritos casos de alunos que chegam a precisar de cesta básica para se manter durante a pandemia do coronavírus (Sars-CoV-2).A UFG prevê uma economia de cerca de R$ 300 mil por mês com esses cortes de bolsas acumuladas. O gasto com bolsas e auxílios era de cerca de R$ 1,6 milhão por mês e caiu para R$ 1,3 milhão, segundo a Prae. No entanto, o valor ainda não é suficiente para caber dentro do novo orçamento estipulado pelo governo federal. Dos R$ 13 milhões cortados do orçamento de 2021 da UFG, cerca de R$ 5 milhões são do recurso do Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), o que dá em torno de R$ 400 mil a menos por mês.Para economizar mais, a UFG chegou a reduzir uma das bolsas estudantis, mas recuou. A Bolsa Permanência, vinculada ao PNAES, que era de R$ 400 mensais foi substituída pela Bolsa Pedagógica, com redução de 25% no valor. No entanto, a diminuição só ocorreu no mês de abril e ela voltou ao valor original após nova análise.A reitoria decidiu reservar R$ 500 mil de verba parlamentar, inicialmente direcionada para projetos em escolas, para conseguir manter o valor desse benefício aos estudantes de baixa renda. “A gente ficou muito incomodado com isso (redução de valor da bolsa). Esse dinheiro da verba parlamentar está reservado. Se faltar para as bolsas, usa ele. Se conseguir reverter o corte no orçamento, o projeto original volta”, explica o reitor da UFG, Edward Madureira.Nas palavras do reitor, o número de estudantes que necessita de bolsas e auxílios é bem maior do que o que é contemplado atualmente. “São priorizados aqueles (estudantes) que necessitam demais, com faixa de renda menor que meio salário mínimo”, explica. Edward lembra que o corte no orçamento pode impactar esses benefícios, o que acaba colaborando para o abandono dos estudos por aqueles que não têm condições financeiras. Ele cita como exemplo a ajuda no pagamento de parte do equipamento de uso pessoal para estudantes de odontologia de baixa renda. “Sem isso, esse estudante não faz aula prática.”A pró-reitora de Assuntos Estudantis, Maisa Miralva Silva, relata que foi feita uma pesquisa por e-mail com os estudantes para pensar alternativas na reestruturação das bolsas. Dos mais de 20 mil alunos da UFG, 1,6 mil responderam ao questionário. Segundo Maisa, a grande maioria dos estudantes escolheu a opção de acabar com o acúmulo de bolsas.“A gente tem de ajustar o tempo inteiro e o governo (federal) toda hora faz um corte maior no orçamento. E a gente vai só vendo o orçamento minguar e a demanda aumentar. Fizemos a adequação para caber dentro do orçamento, se não a gente ia atrasar e não ia ter como pagar, e os estudantes iam ficar de todo jeito descobertos”, avalia a pró-reitora.No ano passado, o orçamento da UFG foi de R$ 69 milhões. O montante previsto para 2021 é de R$ 56 milhões. Para se ter uma noção de comparação, o orçamento da UFG em 2014 foi de R$ 96 milhões, desconsiderando os repasses para as unidades de Jataí e Catalão, que atualmente têm orçamento próprio. Com os ajustes da inflação, o valor de 2014 seria hoje de R$ 139 milhões, segundo o reitor Edward Madureira.Segundo Madureira, mesmo com uma economia de cerca de R$ 4 milhões com energia elétrica, por conta da pandemia e as aulas remotas, a UFG acumulou uma dívida de R$ 8 milhões com fornecedores, no fim de 2020. São serviços de limpeza, manutenção, segurança, água, energia, pagamentos de softwares, que podem ficar comprometidos. Beneficiários divulgam cartaLogo que houve a decisão do corte de bolsas na Universidade Federal de Goiás (UFG), estudantes universitários da Casa dos Estudantes Universitários (CEU) V fizeram uma carta aberta reivindicando a retomada das bolsas. No documento, os alunos sustentam que as bolsas foram medidas criadas para que os filhos dos pobres, geralmente negros, tivessem condições de ingressar em universidades federais. “É de assustar o número de estudantes que está dependendo de doações de cestas básicas”, diz trecho da carta.Os estudantes da CEU também apontam a situação de quilombolas e indígenas que só puderam continuar com a Bolsa Permanência de R$ 900, a chamada Bolsa do MEC, que é vinculada diretamente ao governo federal. No entanto, essa parcela mensal estaria atrasando com frequência, além de estar há dois anos sem abrir novas vagas.Nem todas as bolsas eram possíveis de acumular. Estudantes que recebiam R$ 800 mensais ao acumular duas bolsas, tiveram o valor cortado pela metade, já que ficaram só com um dos benefícios de R$ 400. Também era possível acumular a bolsa do MEC e Moradia, o que dava a soma de R$ 1,5 mil, que caiu para R$ 900, só com a bolsa mais alta. UFRJ tem 20% menos recursosA reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Pires de Carvalho, disse nesta quarta-feira (12) que a redução nos recursos da instituição pode inviabilizar seu funcionamento. Segundo ela, houve diminuição orçamentária de cerca de 20% em relação a 2020.A reitora também destacou que foram bloqueados recentemente cerca de 14% das verbas para as despesas discricionárias que são usadas para bancar custeio (água, luz, limpeza, segurança, etc) e investimento (infraestrutura física). As informações são da Agência Brasil.“O desenvolvimento socioeconômico depende das nossas instituições. Não podemos mantê-las abertas o que pode gerar um apagão na educação superior de qualidade, na ciência e tecnologia. Estamos aqui fazendo um apelo em defesa de todas as instituições federais de ensino superior.”A reitora lembrou que as aulas continuam em ambiente remoto devido à pandemia da Covid-19, mas ressaltou que os laboratórios de pesquisa e hospitais universitários não pararam de funcionar.“Os hospitais não pararam, muito pelo contrário, abriram leitos específicos para Covid-19.”-Imagem (1.2249401)