A prefeitura de Aparecida de Goiânia diz que tem conseguido alcançar o índice de isolamento social acima de 50% e que nos dias úteis a média tem ficado em 48%. O patamar de 50% é considerado o mínimo para reduzir a velocidade de contágio do novo coronavírus (Sars-CoV-2) e impedir um colapso no sistema de saúde. Entretanto, os números apresentados não são os mesmos com que governos e pesquisadores estão trabalhando desde março, da empresa In Loco, que usa uma metodologia diferente e mostra um resultado menor que o da contratada pela prefeitura, a plataforma Big Data Telcos Covid-19.Ao apresentar os novos dados, a prefeitura sugere que houve um aumento no porcentual de isolamento, atingindo a marca de 50% recentemente, após ter adotado o isolamento intermitente por escalonamento regional a partir de junho, uma estratégia diferente da proposta pelo governo estadual, que implementou o revezamento 14x14. “Desde que iniciou o isolamento social intermitente por escalonamento regional, em 8 de junho, até 6 de julho a cidade oscilou entre 43,9% (26/6) e 51,8% (5/7). Na maioria dos dias, foi registrada taxa de isolamento social de 48%”, afirmou em nota encaminhada ao POPULAR.Nos dados aos quais O POPULAR teve acesso, não há nenhuma evolução nos índices de isolamento social em Aparecida. No começo de maio, a média semanal ficou em torno de 50%, a mesma verificada nos primeiros sete dias de julho.O professor Thiago Rangel, biólogo ligado ao Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Goiás (UFG), e um dos três membros da equipe que faz desde abril modelagens de cenários da Covid-19 em Goiás, diz que como a metodologia adotada pela contratada pela prefeitura é diferente da usada pela outra empresa, que tem embasado as discussões entre as autoridades até o momento, é preciso desconsiderar o número em si e observar o comportamento das curvas dos dois métodos.Tanto a da Big Data como a da In Loco seguem a mesma tendência, com uma forte alta no isolamento no fim de março, seguido de queda constante a partir de abril até chegar a um patamar estável a partir de maio até hoje. “A conclusão continua a mesma, porque a situação de Aparecida está piorando. Seja lá qual for o número que apresentam agora, ele precisa ser aumentado, talvez para 60% ou 70%”, disse.Entre os dias 7 de junho (um dia antes da adoção do escalonamento) e 7 de julho, Aparecida viu o número de casos confirmados aumentar de 702 para 3.811, o de mortes ir de 15 para 68 e a taxa de ocupação dos leitos públicos de UTI para Covid-19 subir de 9% para 60%. A prefeitura diz, entretanto, que a situação sempre esteve sob controle.O titular da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Alessandro Magalhães, disse que os números da plataforma Big Data são uma “grata surpresa” que condiz com o que “sentia na prática” e que nos dias úteis, após a adoção da política de escalonamento de abertura do comércio por regiões e de acordo com a gravidade da situação epidemiológica, o índice de isolamento – pela Big Data – subiu de 40% para 48% em média. Pela In Loco, a média dos dias úteis subiu de 35,4% para 36,4%.O Big Data e o In Loco usam estratégias e tecnologias diferentes para buscar o índice de isolamento. A primeira, que é formada por uma espécie de consórcio entre as quatro principais operadoras de telefonia celular do País, tem como base de dados praticamente todos os aparelhos celulares e o índice é porcentual de linhas que passaram o dia inteiro conectadas na mesma torre.Já a In Loco tem uma base de dados menor - apenas celulares que usam determinados aplicativos parceiros e clientes, como bancos, com um módulo de software integrado. Entretanto, o raio da área em que a pessoa pode circular para ser considerada “isolada” é menor – um polígono de 450 metros.Ou seja, enquanto uma tem mais celulares para captar dados de localização e uma área maior para a pessoa circular (o raio de alcança de uma torre pode chegar a 3 quilômetros), a outra tem menos celulares, mas maior precisão e menor espaço de circulação. As duas plataformas fazem questão de ressaltar em suas explicações que todos os dados são anonimizados, ou seja, não há como identificar os usuários dos aparelhos.O patamar de 50% foi estipulado a partir dos índices apontados pela empresa In Loco, que estavam sendo usados desde março por governos estaduais como o de Goiás e o de São Paulo, prefeituras como a de Goiânia, além de grupos de pesquisadores, como o da UFG citado na reportagem, e o que desenvolveu um dos primeiros estudos que apontavam a relação entre o isolamento social e taxa de contágio do novo coronavírus, formado por representantes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e de universidades federais públicas.“Os dois índices tentam medir a mesma coisa. Uma comparação visual entre os dois índices mostra que eles estão capturando o mesmo padrão (estabilização a partir de maio). A recomendação de índice de isolamento 50-55% é numericamente válida para o índice da In Loco, mas para esse índice novo a recomendação seria talvez 60-70%. É como se estivéssemos medindo alguma coisa em polegadas e depois mudamos para centímetros”, explicou Rangel. Mais uma semana em “risco alto”O secretário municipal de Saúde de Aparecida de Goiânia, Alessandro Magalhães, disse que a cidade deve permanecer pelo menos até a próxima semana no nível “laranja”, considerado risco alto dentro do sistema de escalonamento por macrorregiões lançado há um mês pela prefeitura. Ele acredita que a partir de então deve voltar para o nível “amarelo”, de risco moderado. Alessandro defende que o modelo adotado pela prefeitura impediu que a situação saísse do controle na cidade em relação à epidemia de Covid-19 e aponta algumas notícias positivas como provas. Uma delas é que atualmente o número de pessoas recuperadas por dia é maior do que o de novos casos, diminuindo o total de “casos ativos”. Ele também cita que há alguns dias a taxa de ocupação de UTI se encontra estável e que o total de leitos vai aumentar na próxima semana com a chegada de 40 ventiladores destinados ao tratamento de pacientes graves adquiridos pelo executivo municipal.O secretário explica que dois fatores são observados na hora de avaliar qual é o nível de risco enfrentado pela cidade e um deles, o de casos confirmados por 100 mil habitantes, só é alto porque a prefeitura seria uma das que mais testam no Brasil. “Em nenhum momento perdemos o controle da pandemia.”Pelo sistema de escalonamento, a cidade é dividida em 10 macrorregiões e depois as mesmas são distribuídas em grupos de 2 em dias úteis da semana. No nível amarelo, cada grupo precisa fechar as atividades por um dia útil. No laranja, são dois dias.A prefeitura afirma que desde o início da epidemia, em março, tem adotado estratégias para conter o avanço da Covid-19. Primeiro, ao seguir os decretos estaduais de março que impuseram restrições às atividades econômicas até 19 de abril. Depois, se orientando pela matriz de risco do Ministério da Saúde. E por fim, o modelo em vigor atualmente.A Prefeitura informou que assinou um acordo de cooperação com a associação das operadoras móveis (ABR Telecom) para usar dados fornecidos pelas maiores teles do País no monitoramento das medidas de isolamento social. Apesar de o acordo ser gratuito para as prefeituras e Estados, os dados não são públicos, sendo entregues pela associação apenas às prefeituras que assinarem o termo de cooperação. Ao POPULAR, a associação informou que os dados só poderiam ser repassados pela prefeitura de Aparecida e que a mesma não tem acesso às informações de outras cidades. Em Goiás, Aparecida foi a primeira a assinar o acordo com a entidade.