No ano passado, o Cerrado teve um recorde de desmatamento. Foram 8.500 km², um aumento de 8% em relação ao ano anterior, e cerca de 15% da área perdida ocorreu em Reserva Legal (RL), caracterizando desmatamento ilegal.A Reserva Legal é uma fração da propriedade que deve ser preservada. No Cerrado, em geral, ela é 20% e 35%, mas para a porção que integra Amazônia Legal é de 35%.O dado sobre a proporção de desmatamento ilegal no Cerrado foi apresentado pelo pró-reitor de Pós-Graduação da Universidade Federal de Goiás, Laerte Guimarães, durante entrevista para à jornalista Cileide Alves no “Chega pra Cá”, programa do POPULAR transmitido no site do jornal e no YouTube, nesta terça (11).O pró-reitor da UFG ressalta, no entanto, que a iniciativa MapBiomas, em parceria com a federal goiana, por meio do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig), cruza as áreas desmatadas com as autorizações para o ato, e que referente a 2020, há indícios de que 90% da supressão foi realizada sem os requisitos legais.O bioma é um dos que têm proporcionalmente maior mudança de uso. Conforme Laerte, em 2013 já havia perdido 50% da vegetação nativa. “Hoje estamos falando de 48% remanescente”, cita Guimarães.“É impressionante como a nossa qualidade de vida está degradando rapidamente. Está muito difícil viver nas cidades brasileiras, inclusive por conta de eventos climáticos extremos”, afirma ao exemplificar a seca histórica de 2021, com umidade de 8% em Goiás e as tempestades que têm prejudicado parte da população do estado com danos.O pró-reitor defende a preservação com argumentos econômicos. Ele afirma que há estudos que indicam ser possível triplicar a produção de alimentos no País sem ampliar a área derrubada. “O Cerrado tem uma importância estratégica para o Brasil e para o Mundo.”Um estudo citado pelo pró-reitor indica que Goiás tem um terço dos cerca de 4 mil hectares de pastagens - parte deles degradada - com alta aptidão agrícola.Guimarães lembra que oito das 12 grandes regiões hidrográficas têm início no Cerrado. Elas contribuem para a agricultura, abastecimento público e geração de energia. “46% da água de (Usina) Itaipu que faz ela produzir energia têm origem no Cerrado”, exemplifica.O pró-reitor afirma que o combate ao desmatamento é uma grande oportunidade para o País. “O Brasil tem a chance no século 21 de dar outro grande salto. Que é aliar a produção de alimentos à conservação ambiental, ou seja, de se transformar na grande potência bioeconômica do Planeta”O fim do repasse dos recursos do Forest Investment Program - FIP (Fundo de Investimento para Florestas), afirma Guimarães, é uma preocupação, mas não é o fim do monitoramento do Cerrado. O acordo previsto desde o início do pacto era de que ao fim da verba original, o Governo Federal assumiria o financiamento.Conforme o pró-reitor, o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI) já assumiu o compromisso. “Se o monitoramento oficial do desmatamento no Cerrado for descontinuado, isto vai ser um escândalo político e ambiental. Isto vai ser muito ruim para o Brasil no mundo”, alerta Guimarães.