A arrecadação com multas aplicadas por radares eletrônicos nas rodovias estaduais de Goiás se manteve, no ano passado, abaixo do patamar observado até 2018. A redução alcançada com a retirada dos radares móveis chegou a ser de R$ 39 milhões em 2019. Com reformulação da estrutura de fiscalização, o montante voltou a crescer a partir do ano seguinte, mas o total de cobranças se manteve no patamar de R$ 10 milhões a menos.A retirada dos radares móveis foi uma das primeiras medidas do governador Ronaldo Caiado (UB), que anunciou a decisão em fevereiro de 2019. A justificativa foi de que o modelo de monitoramento seria injusto com o motorista e serviria para arrecadação estatal. Ao todo, 54 radares móveis foram retirados, sendo 24 deles do tipo “pistola”, que eram utilizados pelo Batalhão Rodoviário da Polícia Militar.É importante destacar que a menor arrecadação é específica da fiscalização conduzida pela Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra) a partir dos radares eletrônicos e não inclui as multas aplicadas pela PM. Em 2018 a Goinfra aplicou 687 mil autos de infrações, o que correspondeu a R$ 119,7 milhões. No ano seguinte, o primeiro ano sem os radares móveis, as autuações caíram para 470 mil, fazendo a arrecadação recuar para R$ 80,5 milhões.Leia também:- Assembleia arquiva CPI da Saúde- Quatro institutos e empresas têm R$ 40 milhões em contratos ambientais em Goiás- Justiça condena Prefeitura por condições precárias em unidades de saúdeO serviço de fiscalização da Goinfra, que passou a ser feito exclusivamente por meio de radares fixos, voltou a autuar e arrecadar mais após 2019. Em 2020 foram 589.603 autuações (R$ 110,7 mi). Em 2021 o número de autuações caiu para 574.240, mas a arrecadação subiu para R$ 111,2 mi. O aumento de autuações em 2020 não tem motivo claro, já que naquele ano a informação da agência era de que o número de radares seria mantido, apesar de uma licitação que previa a instalação de novos equipamentos.A partir do ano passado as rodovias estaduais começaram a receber equipamentos em novos pontos de radares fixos. Até 2020 eram 274 pontos. Uma licitação assinada em 2021 prevê que a quantidade de controladores, conhecidos como pardais, poderia ir de 57 para 190, um aumento de 233%, e dos redutores, que são as barreiras, de 217 para 651, ou seja, 200% a mais. O total máximo é de 841, mas conforme informado pela Goinfra, atualmente a rede conta com 621 pontos de monitoramento.“Os equipamentos instalados nos últimos anos atenderam às demandas reprimidas da própria população para resolver pontos em que havia altos índices de acidentes com mortes e ainda às recomendações do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO)”, justifica a agência. A Goinfra diz ainda que as faixas monitoradas têm estudos técnicos de segurança viária que comprovam a necessidade de cada uma.GeralApesar da redução das multas aplicadas pelos radares eletrônicos da Goinfra, o número de autuações de trânsito em Goiás segue em tendência de crescimento anualmente. Em 2018 foram 3,7 milhões de multas, número que reduziu para 3,6 milhões em 2019, foi para 3,8 milhões em 2020 e alcançou quase 3,9 milhões em 2021.Entre os autorizados a aplicar multas de trânsito, o governo estadual fica com a liderança das autuações dos últimos cinco anos, com um total de 7 milhões de multas, o que inclui aquelas aplicadas pela Goinfra, PM e Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran). Em seguida está a Prefeitura de Goiânia, com 3,4 milhões. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) totaliza pouco menos de 1 milhão. Fiscalizações como as da PRF, por exemplo, ainda contam com radares móveis.DiscussãoApesar da aparente economia no bolso do motorista, a retirada dos radares móveis das rodovias goianas segue sendo objeto de discussão entre especialistas. O engenheiro de trânsito Marcos Rothen, professor do Instituto Federal de Goiás (IFG), diz que, no geral, a retirada de qualquer fiscalização pode aumentar os abusos.Para o especialista, fundamental é questionar se os radares da Goinfra estavam sendo aplicados regularmente. “Os locais onde será feita uma fiscalização deve ser justificada por um estudo técnico, não podendo simplesmente ser uma escolha do agente”, aponta Rothen. No estudo, também se faz necessário respeitar regras de implantação das sinalizações que indicam redução de velocidade.“Quando ocorre a variação do limite, de 110 para 60, por exemplo, o agente deve verificar se a distância em que ocorre essa mudança é adequada para que os motoristas possam diminuir a velocidade sem terem que frear bruscamente”, explica. Em específico sobre as fiscalizações móveis executadas pela Goinfra, Rothen destaca: “Se estavam sendo utilizadas em locais onde havia risco, a falta de fiscalização voltará a causar acidentes”.ImpactosO número de acidentes nas rodovias estaduais se manteve estável após a retirada dos radares, com uma leve redução entre 2019 e 2020. Em 2019 foram 8 mil acidentes, contra 7 mil em 2019, registros que caíram para 6,6 mil em 2021 e voltaram a subir para 7,3 mil em 2021. Em 2019 e 2021 os acidentes totais em Goiás cresceram (confira no quadro).O engenheiro de trânsito Rothen alerta que o número de acidentes é um indicador sujeito a diversas variações e deve ser olhado com cautela. “Os acidentes nem sempre são registrados”, pondera. Além disso, o especialista cita que um trecho crítico pode ficar algum tempo sem registrar um acidente após a ocorrência de um acidente grave. “As pessoas que rotineiramente passam por ali passam a tomar cuidado”, explica.-Imagem (1.2490500)