Apenas 24,8% dos óbitos por Covid-19 de residentes em Goiás chegam aos registros oficiais no tempo preconizado pelo Ministério da Saúde (MS), de até 24 horas. São 494 mortes, dentre as 1.989 ocorridas desde o dia 16 de junho, que entraram no sistema no mesmo dia da ocorrência ou em até um dia, de acordo com o levantamento feito pelo biólogo e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Thiago Rangel, a partir dos dados da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO). Um caso chama a atenção: uma mulher entre 60 e 69 anos de Goiânia faleceu no dia 1º de maio, mas a morte só foi registrada no sistema no dia 5 deste mês, 96 dias depois do fato.Rangel estipulou blocos de quatro dias: 51,7% dos óbitos são registrados nesse intervalo a partir da ocorrência. No entanto, mais de 15% das mortes demoraram mais de 15 dias para entrarem nos registros. “O dado oficial não distingue a curva de mudança de trajetória. Não temos uma avaliação concreta das últimas três semanas”, diz. Ele explica que, assim, não é possível estabelecer a situação da pandemia no presente. “Estamos sempre olhando pelo retrovisor. E muito para trás.”O pesquisador afirma que essa dúvida prejudica a gestão, o planejamento e a modelagem da situação, com a pretensão de analisar o andamento da pandemia no Estado. Para se ter uma ideia, na tarde da última terça-feira, o site da SES-GO apontava 268 óbitos entre os dias 12 e 18 de julho. Nesta quinta-feira (13), já havia a notificação de 274 mortes nesta mesma semana. A superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim, confirma que esse atraso interfere na análise real da situação, mas lembra que o Estado depende dos municípios para a alimentação dessa base de dados.CausasFlúvia reitera, entretanto, que nem mesmo as administrações municipais dependem delas mesmas. “Há casos de demora na notificação dos hospitais para as secretarias, demora da própria secretaria ou demora para o resultado do exame.” As amostras de pacientes que morreram são prioritárias na análise, mas normalmente demoram 5 dias para o resultado, podendo chegar a até 15 dias, dependendo da situação do Laboratório Central de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros (Lacen-GO). Ela conta que tem reforçado com as regionais de saúde para insistir com os municípios sobre a importância de registrar os óbitos em até 24 horas.Diretora de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Grécia Pessoni explica que vários fatores podem atrapalhar no cumprimento do prazo, mas que as dificuldades em fazer os hospitais cumprirem a determinação é o que mais ocorre. “Tem hospitais que esperam acumular óbitos para registrar ou passar para as secretarias municipais”, diz. “A gente tem mandado comunicados para os hospitais, informando dessa necessidade, mas nem todos cumprem sempre da mesma maneira”, afirma Grécia. Ela explica ainda que, quando ocorre um óbito domiciliar, também há demora, já que o corpo é levado pelo Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) e, se não há exame feito, é necessário a coleta da amostra para levar ao processamento. O mesmo pode ocorrer no ambiente hospitalar, quando ainda não é um caso confirmado. “Os óbitos têm prioridade para o exame, mas pode ocorrer da amostra entrar com o paciente vivo e, nesse tempo, ele vai a óbito e não tem como passá-lo para a prioridade, acaba demorando mais.”96 diasSobre o caso do registro de óbito da paciente ter demorado 96 dias, Grécia conta que possivelmente trata-se de caso que já havia sido registrado em outra localidade. Isso porque há um movimento das secretarias em investigar os óbitos a cada semana, o que pode verificar a confirmação de dados, chegando a conclusão de que a pessoa era moradora de outra localidade.