Desde o início do ano, prestadores de serviços de Goiânia que atendem o Sistema Único de Saúde (SUS) vêm sofrendo com os atrasos recorrentes de repasse de verbas do Ministério da Saúde (MS). O problema afeta diversos setores, como as clínicas de hemodiálise, que dependem do dinheiro para manter vivos cerca de 2 mil pacientes atendidos na capital através da saúde pública. De acordo com a regional Goiás da Associação Brasileira dos Centros de Diálises e Transplantes (ABCDT), o atraso na transferência dos recursos traz prejuízos financeiros para os estabelecimentos, com reflexos na prestação dos serviços.Leia também: - Covid-19: Goiânia confirma dois casos de ômicron BA.2- Estoque de sangue atinge nível crítico no Hugol; veja como doarClodoaldo Pereira Araújo, de 47 anos, há 17 dependendo da diálise para viver, é um dos pacientes que vem pedindo ajuda através das redes sociais para que os recursos sejam repassados na data prevista, ou seja, no quinto útil após a transferência do MS para a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), conforme portaria ministerial e contrato assinado com os prestadores. “É uma verba dirigida, um recurso carimbado. O que estão fazendo é crime, infringindo leis. Não podem fazer isso com os cidadãos. Está na Constituição: saúde é direito do cidadão e dever do Estado. Nós pagamos o Fundo Eleitoral para eleger o político e ele abandona o cidadão.”Vice-presidente da ABCDT na regional Goiás, a médica Viviane Elizabeth de Oliveira disse ao POPULAR que até dezembro de 2021, o repasse de aproximadamente R$ 3,6 milhões mensais direcionados às 12 clínicas de hemodiálise da capital vinha sendo feito normalmente. A partir de janeiro deste ano, o processo de transferência começou a sofrer retardamento. O correspondente a dezembro só entrou na conta das clínicas 40 dias depois. “Toda vez que o secretário Durval Pedroso se acha no direito de reter nosso pagamento por até 40 dias nos desestrutura. Não temos dinheiro para guardar. Nosso dinheiro é para usar. Se eu tiver que recorrer a um banco e pagar juros, vamos acabar fechando. E assim tem sido desde janeiro.”A médica lembra que as clínicas enfrentaram muitas dificuldades durante a pandemia da Covid-19, com os altos reajustes no preço de insumos. “Somente na minha clínica usamos uma média de 150 a 170 caixas de luvas de procedimento por mês. E com a pandemia aumentamos esse volume. Antes, pagávamos 17 reais a caixa, subiu para 90 reais. Agora, mesmo com a queda nos preços, está em torno de 40 reais. Precisamos de 2,4 mil frascos de soro por mês. Antes da pandemia, cada frasco custava cerca de 4 reais e hoje tem fornecedor vendendo a 26 reais”, detalha Viviane de Oliveira.IndignaçãoPresidente do Sindicato dos Laboratórios de Análises e Bancos de Sangue do Estado de Goiás (Sindlabsgo), Christiane do Valle também não esconde a indignação com os atrasos recorrentes. Na sexta-feira (29) ela aguardava o pagamento da competência de fevereiro, mas embora fosse o último dia útil do mês de abril, isso não ocorreu.“Na segunda-feira, 2 de maio, vamos fazer uma denúncia sobre isso junto ao Ministério Público. Na quarta-feira (26) a SMS pediu aos prestadores notas fiscais com valores de até R$ 50 mil, mas não fizeram o repasse. Acima desse valor, nem solicitaram. O repasse do MS caiu na conta da SMS no dia 6 de abril”, comentou Christiane.A direção da Santa Casa de Misericórdia de Goiânia, que vem atravessando uma grave crise financeira, também procurou a prefeitura de Goiânia para solicitar que o problema dos atrasos seja solucionado. O hospital filantrópico, que depende de verbas do SUS para manter o funcionamento, atende 67 pacientes externos de hemodiálise, sem contar os internados que precisam do procedimento. Outros prestadores de serviço, como clínicas de imagem, atravessam dificuldades semelhantes.SMS admite atrasos em repasses Em nota ao POPULAR, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, que tem à frente o médico Durval Ferreira Fonseca Pedroso, admitiu que “nos meses de dezembro de 2021, janeiro e fevereiro de 2022, houve realmente um atraso por conta de fluxos orçamentários do município, mas que já estão sendo corrigidos, e dentro dos próximos dois repasses o pagamento estará normalizado, ou seja, será feito todo quinto dia útil após repasse do Ministério da saúde”.De acordo com a pasta, no dia 29 de dezembro de 2021, quando o Ministério da Saúde repassou os recursos correspondentes ao mês de novembro, “a Prefeitura de Goiânia, bem como todos os demais órgãos municipais, estaduais e federais, estavam com o orçamento fechado por conta da Lei Orçamentária Anual”. Ainda de acordo com a SMS de Goiânia, o repasse foi retomado assim que o orçamento municipal de 2022 foi aberto. sem explicaçãoA pasta não explicou por que razão no mês de fevereiro os prestadores de serviço não receberam nenhum recurso do SUS conforme o previsto e porque o valor de dezembro demorou em torno de 40 dias para ser depositado.No mês de março, no dia 10 foi pago o montante relativo a dezembro e no dia 29, o valor correspondente a janeiro. No dia 4 de abril houve o repasse dos recursos de fevereiro. Os estabelecimentos de saúde temem que haja novo atraso em relação aos valores correspondentes a março que foram repassados pelo MS no dia 18 de abril. “Pelo repasse ter sido feito próximo a um feriado, acabou interferindo no processamento do repasse que já está programado para a próxima semana”, informou a pasta ao POPULAR na sexta-feira (29).