Atualizada em 20.01 às 11h20.Profissionais da saúde e entidades da área reclamam da sobrecarga de trabalho causada pelo afastamento de colegas infectados pela Covid-19 em Goiânia. A situação agrava ainda mais o cenário de demanda aumentada de atendimentos na rede municipal que a capital enfrenta desde o fim de 2021.A vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde no Estado de Goiás (Sindsaúde/GO), Néia Vieira, afirma que o sindicato tem recebido vários relatos de unidades de saúde na capital com um grande número de colaboradores afastados. “Ficamos sabendo de uma profissional que ela e o marido, que também é servidor, estão em casa porque foram infectados”, destaca.A técnica em enfermagem Gabriella Cardoso, de 36 anos, pegou Covid-19 pela primeira vez em fevereiro de 2021. Ela ficou 14 dias afastadas e teve sintomas como a perda do olfato e do paladar, febre, dor de cabeça, dor no corpo, além de ter desenvolvido uma pneumonia que foi tratada em casa. Quase um ano depois, no dia 9 de janeiro, ela testou positivo novamente para a doença. Dessa vez, ela já estava vacinada e desenvolveu apenas sintomas leves. A profissional ficou 10 dias afastada e retorna ao trabalho nesta quinta-feira (20).Gabriella atua no ambulatório da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Dr. Paulo de Siqueira Garcia, antigo Centro de Atenção Integrada à Saúde (Cais) Chácara do Governador, e diz que o período tem sido difícil para os profissionais. “Muitos funcionários testaram positivo de duas semanas para cá. A demanda da vacina é grande e lá não fazemos só a da Covid-19. Há outras vacinas de rotina que também estão sendo feitas. É um serviço que demanda muita atenção e o fluxo lá é grande. Com o quadro de funcionários reduzido é bem mais tenso o ambiente.”A técnica em enfermagem Alaysse de Souza, de 28 anos, voltou a trabalhar no Cais Nova Era, em Aparecida de Goiânia, no dia 10 de janeiro. Ela foi diagnosticada com a Covid-19 no fim de dezembro de 2021 e ficou cerca de 10 dias afastada do trabalho. Ela teve vários sintomas da doença como febre, dor no corpo, vômito e também chegou a desenvolver uma pneumonia.De acordo com ela, o retorno para o trabalho tem sido um período difícil, pois além do número de pacientes procurando atendimento estar alto e ela ter colegas afastados por estarem infectados, ela ainda sofre com dores de cabeça e uma fraqueza pós-covid. “Estou tendo de desdobrar para conseguir dar conta”, relata.SobrecargaA vice-presidente do Sindsaúde/GO aponta que o déficit já existente de profissionais da saúde, somado à demanda aumentada das últimas semanas, por conta do aumento de casos de Covid-19, gripe e dengue, e ao fato de vários colaboradores estarem doentes, deixaram aqueles que seguem trabalhando ainda mais sobrecarregados. “Nos preocupamos principalmente com a saúde mental dessas pessoas”, pontua.Ela afirma ainda que se preocupa também com a saúde mental dos profissionais que estão se infectando. “Sabemos que a vacina é segura e reduz os riscos. Porém, eles já viram tantas pessoas morrendo e ficam com isso na cabeça”, relata. De acordo com ela, as contratações feitas pela Prefeitura de Goiânia como, por exemplo, não são suficientes. “Elas não resolvem. Precisamos de concursos para que possamos capacitar esses profissionais ao longo do tempo. Isso é benéfico para eles e para a população que será atendida”, destaca.De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Aparecida de Goiânia, dos 4 mil servidores da pasta, atualmente, apenas 14 estão afastados pela doença. Desde o início da pandemia, 2 mil já testaram positivo para a Covid-19 e nove morreram devido a complicações causadas pelo vírus. Já a SMS de Goiânia, até o fechamento desta reportagem, não havia informado a quantidade de trabalhadores da rede afastados por conta de casos da Covid-19.MédicosAlém do desfalque das equipes por conta dos casos de Covid-19, a presidente do Sindicato dos Médicos no Estado de Goiás (Simego), Franscine Leão, afirma que desde dezembro os médicos que atendem na rede municipal de Goiânia têm sofrido com o quadro médico incompleto. “Nas unidades mais centrais os quadros estão completos. Porém, nas mais periféricas não. Muitas vezes os profissionais têm o plantão remanejado e têm de sair de uma unidade para outra sem aviso prévio por conta disso”, relata.Franscine diz ainda que os médicos têm relatado que se sentem muito inseguros quando vão atender na rede pública municipal. “Eles têm muito receio de ir trabalhar. São hostilidades diárias como invasão de consultórios e até mesmo xingamentos. Isso traz um adoecimento mental e esgotamento para eles”, explica.Em nota, a SMS esclareceu que “sempre mantém cada plantão de 12h com, no mínimo, três médicos por unidade de urgência” e que “um enorme esforço tem sido realizado para que todos que buscam as unidades de saúde sejam devidamente atendidos.” A pasta destacou ainda que “como toda população, os profissionais de saúde, até por realizarem o atendimento das pessoas, também estão positivando, razão pela qual a Secretaria de Saúde tem feito o remanejamento” e que “a Prefeitura entende que o momento atual é muito complexo para a população e está a disposição para resolver as questões e atender a todos da melhor forma possível.”Por meio de nota, a Guarda Civil Metropolitana (GCM), responsável pela segurança das unidades de saúde de Goiânia, informou que a segurança é feita com viaturas nas portas das unidades e em cada veículo ficam dois guardas. Caso necessário é solicitado apoio de outras viaturas.O comunicado também informou o escalonamento de horários e que após a meia noite as viaturas além do monitoramento fazem ponto fixo nas unidades em horários intercalados. Neste período, caso necessário apoio da GCM a orientação é ligar na central e solicitar uma viatura.Distribuição de doses é adiadaA distribuição de 44,3 mil doses de vacinas pediátricas contra a Covid-19 para municípios goianos, prevista para esta quarta-feira (19), foi adiada por tempo indeterminado. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), o Ministério da Saúde enviou o lote de vacinas nesta terça-feira (18) com temperatura inadequada. Por meio de nota, a SES-GO informou que uma “equipe técnica da Central Estadual de Rede de Frio de Goiás (CERF-GO) constatou erros na temperatura das caixas, que foram conduzidas sob responsabilidade, desde o início do transporte, pelo órgão federal”.A pasta disse que notificou o ministério e aguarda parecer sobre liberação ou não dos imunizantes da Pfizer destinado às crianças de 5 a 11 anos. Enquanto uma recomendação formal não for enviada, a distribuição das doses ficará suspensa. Apesar disso, a secretaria garantiu que há disponibilidade de vacinas em todos os 246 municípios do estado. Eles foram abastecidos com a primeira remessa de imunizantes destinados para crianças, que possuía a mesma quantidade de doses enviadas nesta terça pelo Ministério da Saúde, na última sexta-feira (14). (Lucas Xavier)Brasil tem 2º dia com recorde de casosO Brasil, pelo segundo dia consecutivo, registrou recordes de casos de Covid. Nesta quarta-feira (19), foram 205.310 infecções documentadas, maior valor observado em um único dia. A média móvel de casos também atingiu o recorde de toda a pandemia e agora é de 100.322 infecções por dia, valor 487% maior do que o dado de duas semanas atrás.Além do crescimento de casos, as mortes também aumentaram. Nesta quarta, foram registrados 349 óbitos e a média móvel chegou a 215 vidas perdidas por dia, aumento de 114%, também em relação aos dados de duas semanas atrás.O elevado valor de infecções se deve, em especial aos dados do Rio de Janeiro, que registrou sozinho 69.223 casos. O estado não apresentou explicações para o número. Com os dados desta quarta, o País chegou a 621.927 vidas perdidas e a 23.420.861 pessoas infectadas pelo Sars-CoV-2 desde o início da pandemia.Os dados do País, coletados até 20h, são fruto de colaboração entre Folha de S.Paulo, UOL, O Estado de S. Paulo, Extra, O Globo e G1 para reunir e divulgar os números relativos à pandemia do coronavírus. As informações são recolhidas pelo consórcio de veículos de imprensa diariamente com as Secretarias de Saúde estaduais.A iniciativa do consórcio de veículos de imprensa ocorreu em resposta às atitudes do governo Jair Bolsonaro (sem partido), que ameaçou sonegar dados, atrasou boletins sobre a doença e tirou informações do ar, com a interrupção da divulgação dos totais de casos e mortes. Além disso, o governo divulgou dados conflitantes. (Folhapress)