O estudante autista que foi aprovado no curso de Medicina da Universidade Federal de Jataí, Elizeu Augusto de Freitas Júnior, de 19 anos, não conseguiu se matricular, mas decidiu permanecer na cidade até que a sentença judicial sobre seu caso seja informada. Natural de Rondônia, ele se mudou para o município de Jataí para realizar o sonho de ser médico, mas sua matrícula foi negada porque a instituição de ensino não entendeu que ele é pardo, conforme declarado. Ele entrou na justiça para garantir a matrícula, mas as duas liminares foram negadas.Elizeu afirma que seu sonho de ser médico está mantido e que se mudar para a cidade goiana foi uma decisão tomada com a família. A irmã e a mãe estão com ele na cidade e o pai deve chegar nos próximos dias. “Até que a sentença seja dada, o que pode demorar até um ano, vou continuar estudando, meus familiares devem tentar um emprego. Eles estão fazendo isso pelo meu sonho e eu sou muito grato. Tenho fé que em breve eu poderei dar início aos estudos da medicina.”O estudante conta que ficou surpreso com a negativa da matrícula pela universidade. Ele diz que não entende o motivo, já que a autodeclaração bastaria em uma situação como essa. Ele ainda explica que a cota pela qual foi aprovado abrange renda baixa, escola pública, pessoa com deficiência e cota étnica. Ele garante que encaminhou todos os documentos e que tudo foi aprovado. No caso da cota étnica, houve o bloqueio. “Mas eu jamais pensei que fosse barrar. Até porque sou pardo, filho de pardos.”Como as duas liminares foram negadas pela justiça, Elizeu não tem mais recursos para buscar na justiça por enquanto. Ele diz que, mesmo sabendo que a resposta podem demorar, vai permanecer em Goiás. “Estamos nos adaptando. Chegamos há poucos dias, mas estamos gostando da cidade. É um sonho e tenho a minha família do meu lado para chegar lá.”ArgumentoPor meio de nota, a instituição afirmou que todas as pessoas que se inscrevem nas modalidades de reserva de vagas destinadas a pessoas pretas, pardas ou indígenas são avaliadas pela Comissão Permanente de Heteroidentificação. "Ressalta-se que, no procedimento de heteroidentificação são aferidas, no conjunto de características físicas visíveis dos candidatos, a cor da pele associada às demais marcas ou características da população negra."A nota ainda diz que entre as avaliações está a análise de "formato do nariz, textura de cabelos e lábios, que, em conjunto, atribuem ao sujeito a aparência racial negra, cotejadas nos contextos relacionais locais. Não foram considerados, para fins do processo de heteroidentificação, laudos médicos, registros, documentos pretéritos, imagens e certidões que se refiram à confirmação de heteroidentificação em processos anteriores, conforme dispõe o Art. 9º da Portaria Normativa nº 4, de 6 de abril de 2018", diz a nota.RelembreA vida do jovem Elizeu Augusto de Freitas Júnior, de 19 anos, está prestes a ter uma reviravolta. O garoto que mora em Candeias do Jamari, no estado de Rondônia, se mudará no meio do ano para a cidade de Jataí, no Sudoeste de Goiás, onde irá cursar medicina na Universidade Federal do município após passar em primeiro lugar. A princípio, a história de Elizeu pode até parecer só mais uma, mas o jovem foi diagnosticado com transtorno do espectro autista quando tinha 12 anos de idade.Em entrevista ao jornal O POPULAR, o jovem contou que está bastante contente e realizado com a conquista. Ele também falou sobre o processo de estudos para passar no Sistema de Seleção Unificada (SiSU), as influências, incentivos e até a área de atuação que ele pretende exercer quando formado no curso.MudançaE a mudança de região também não vai ser um problema para Elizeu. Ele, que virá acompanhado dos pais, já morou em Goiás, mais precisamente na cidade de Itumbiara, no sul do estado, entre 2017 e 2019. “Estou acostumado com a cultura e jeito do povo goiano”, disse.Elizeu revelou ter estudado bastante para almejar o sonho de passar no curso de medicina. De acordo com o garoto, ele chegava a estudar até 8h por dia, duas horas para cada matéria. Aos fins de semana, o jovem fazia simulados e redações. Além das aulas do ensino médio, Elizeu também fazia cursos online para aprimorar a redação. E o resultado veio no Enem, com uma nota 840.Leia também:- Projeto PsiQUÊ? destaca os direitos da pessoa autista- Justiça manda plano de saúde custear tratamento multidisciplinar de criança autista de Cristalina