Atualizada em 4.6 às 7h50Com apenas quatro dias de vida, o bebê testou positivo para Covid-19, no Hospital da Criança, no Setor Sul, em Goiânia. O menino, que nesta segunda-feira (1º) completa seis dias, nasceu no último dia 26 de maio, no Hospital Materno Infantil (HMI), no Setor Oeste, também na capital. Com uma cardiopatia rara (malformação do coração), ele foi encaminhado ao Hospital da Criança para uma cirurgia que deveria ter sido feita na sexta-feira (29). Como protocolo na unidade determina, ele foi submetido ao teste para o novo coronavírus (Sars-CoV-2). O menino permanece internado, isolado em uma incubadora, mas não apresenta sintomas da doença.A mãe do bebê, Elilza Lopres Saraiva, de 27 anos, que trabalha como cuidadora de idosos, afirma que não sabe como o filho foi infectado. Ela conta que foi internada no último dia 14 no HMI, onde permaneceu por 11 dias. O objetivo era conseguir uma vaga na unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal para a realização da cesárea. Durante os dias que esteve na unidade, entretanto, a mãe relata que uma gestante com sintomas da Covid-19 foi colocada no mesmo espaço. “Eu fui à direção, liguei para o meu marido e não fizeram nada”, reclama.Logo que a vaga de UTI surgiu, a mulher foi submetida a uma cesárea de urgência e durante os dias que o bebê permaneceu internado na UTI no Hospital Materno Infantil, Elilza teve contato com o filho. Ela se preocupa sobre ter transmitido o vírus para o pequeno, ou de também estarem contaminados: ela e o marido. Os pais foram comunicados sobre o resultado positivo no sábado (30), quando visitavam o bebê no Hospital da Criança. Ainda assim, tiveram liberação para tocar no bebê dentro da incubadora da unidade hospitalar. “Eu como mãe não me neguei a ver meu filho”, pontua.Apesar do resultado positivo, a família afirmou que, na manhã desta segunda-feira ainda não havia recebido o exame do bebê.Maus-tratos e testagemA mãe também alega que durante os dias que permaneceu na unidade não teve apoio e chegou a ser maltratada pela equipe. A cuidadora afirma que ficou dois dias sobre os lençóis sujos de sangue, sem que eles fossem trocados. A reclamação teria sido levada à diretoria do Materno Infantil, que não teria tomado providências.Em entrevista à rádio CBN Goiânia, a superintendente de Vigilância em Saúde de Goiás, Flúvia Amorim afirmou, na manhã desta segunda-feira, que foi realizada a testagem dos trabalhadores bem como os pais da criança e os pacientes que estiveram no mesmo ambiente.A mãe nega que os exames tenham sido realizados e afirma que ela, o marido e o filho mais velho, de 9 anos, foram ao HMI ainda na manhã de segunda-feira para fazerem o teste e conversar com a direção da unidade. O teste, segundo ela, foi agendado após o caso repercutir na imprensa.“Existe um protocolo a ser implantado, algo bem parecido com o que foi feito no Hospital de Urgências (Hugo). O protocolo foi implantado ainda no fim de semana. Estamos impedindo a entrada de pacientes no mesmo local, que também passa por desinfecção. Ainda não sabemos como essa criança adquiriu o vírus: foi dos pais, ou de profissionais”, disse Flúvia.Como os pais são moradores de Aparecida de Goiânia, a reportagem também procurou a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da cidade. Em nota, a pasta afirmou que “a equipe de telemedicina da pasta está em contato com a família do recém-nascido para realizar o teste de diagnóstico do coronovírus”. Disse também que qualquer morador que esteja com sintomas de gripe e que seja dos grupos prioritários pode ligar no 0800-646-1590 e solicitar o exame de diagnóstico da Covid-19 ou procurar atendimento em uma das três UPAs da cidade.Cirurgia adiadaCardiopediatra do HMI, Mayra Barreto explica que o diagnóstico do bebê sobre a cardiopatia foi feito ainda durante a gestação. Por este motivo, já sabendo da necessidade de uma cirurgia, o hospital aguardou a liberação de uma vaga, na tentativa de alinhar o melhor momento do nascimento ao procedimento cirúrgico no Hospital da Criança. Isso porque, a unidade de saúde é a única em Goiás onde a oferta a cirurgia de forma pública. Apesar de ser um hospital particular, é credenciado ao Sistema Único de Saúde (SUS) e oferta seis vagas de UTI neonatal. O local é referência em cirurgias cardíacas neonatais e infantis.O bebê nasceu com uma cardiopatia conhecida como ventrículo único esquerdo e deveria ser operado logo nos primeiros dias de vida. Agora, vai precisar aguardar mais 14 dias para que seja realizada uma nova testagem para a Covid-19. Só então, poderá passar pelo procedimento. “Ele ficou na UTI sendo monitorado para estabilizarmos o coraçãozinho e estava muito bem. O Hospital da Criança está sendo muito criterioso e estabeleceu como protocolo, a testagem de todas as crianças para segurança dos pacientes e do próprio hospital”, completa Mayra Barreto.A cardiopediatra diz que atendeu o bebê todos os dias e que logo que o resultado saiu, também passou pelos exames. O resultado ainda não saiu e a expectativa é que seja concluído nesta terça-feira (2). Enquanto isso, ela continua atendendo os pacientes no Hospital Materno Infantil, mas afirma que está completamente paramentada e tomando todos os cuidados necessários para evitar a contaminação.Enquanto a cirurgia não for realizada, a vaga da UTI do Hospital da Criança fica “travada” para o bebê, até que ele possa passar pelo procedimento. Desta forma, os médicos que atendem o SUS em Goiás possuem um novo desafio: conciliar novos partos de crianças cardiopatas com novas vagas disponibilizadas pela rede pública na unidade de saúde. “Eu mesma cheguei a atender hoje outra mãe cujo bebê tem uma cardiopatia e agora vamos tentar segurar este parto por mais uns dias”, finaliza a cardiopediatra. Quatro profissionais afastadosEm nota, o HMI informou que segue todos os protocolos da Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO) e do Ministério da Saúde (MS). “Os pacientes que apresentam sintomas da Covid-19 são isolados e passam por coleta de material para a realização de teste para a Covid-19. Desta forma não permanecem juntos com os demais pacientes, conforme fluxos de atendimento definidos pelo Plano de Contingenciamento do HMI”, diz o documento.O hospital disse ainda que após tomar conhecimento da testagem positiva do recém-nascido que nasceu na unidade, em 26 de maio, já providenciou a desinfecção do setor bem como fez o bloqueio da Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal (UCIN). Completou afirmando que todos os recém-nascidos estão em incubadoras com distanciamento de 2 metros.“A Comissão do Controle de Infecção Hospitalar da unidade está reforçando todas as orientações e protocolos. Todos os profissionais que estiveram na unidade durante o período em que o bebê permaneceu no hospital estão sendo monitorados. Os pais do recém-nascido aguardam a testagem para hoje (segunda-feira, 1º). Nos dias 28 e 29 de maio foi realizada ampla testagem dos profissionais do HMI. Quatro profissionais assintomáticos testaram positivo e foram afastados das atividades”.