A Universidade Federal de Goiás (UFG) irá acatar a nomeação feita pelo Governo Federal do terceiro nome da lista tríplice para assumir o cargo de reitor da instituição. O entendimento da universidade é de que, apesar de surpreendente, a escolha do nome da professora Angelita Lima, a menos votada em consulta interna, está dentro das previsões legais. Assim, Angelita deve assumir a gestão pelos próximos quatro anos, frustrando o planejamento da gestão que estava pronta para assumir desde o mês de dezembro.A nomeação era colocada sob dúvida havia algumas semanas. Em consulta à comunidade acadêmica, a mais votada para assumir o cargo havia sido a professora Sandramara Chaves, que atuou como vice-reitora durante o mandato do professor Edward Madureira Brasil, durante 2017 e 2021. Dessa forma, por conta da votação, o nome da vice era o primeiro da lista tríplice. Segundo a UFG, até hoje, todas as demais escolhas tinham respeitado o primeiro nome da lista.Na noite desta segunda-feira (10), a atual vice-reitora no exercício da reitoria, Sandramara, chegou a comentar com O POPULAR que tinha a expectativa de que a nomeação seria feita ainda nesta semana. Na ocasião, ela afirmou que acreditava que o presidente respeitaria a autonomia da universidade e que ela seria nomeada reitora. Apesar disso, havia temor entre representantes de estudantes e professores de que a escolha contrariasse a comunidade.Após o decreto, Sandramara afirmou “perplexidade e revolta” diante da decisão do presidente. “O que esperávamos era que a autonomia universitária fosse respeitada”. O professor Edward definiu a situação como “um ato covarde, mesquinho e desrespeitoso que se soma a todos os outros”.Até a noite desta terça a professor Angelita ainda não havia se pronunciado sobre a questão. A professora Sandramara, porém, adiantou que Angelita deverá tomar posse. “Acredito que a professora Angelita deve, sim, tomar posse, e nós devemos apoiá-la. Ainda que nos indignemos, o que precisamos pensar neste momento é na Universidade Federal de Goiás, que sai mais forte”, classificou.Sandramara, com o professor Jesiel Carvalho como vice-reitor, foi a vencedora da consulta à comunidade acadêmica para a escolha dos dirigentes da universidade. A chapa ‘UFG Viva’ teve 3,8 mil votos. Ela também encabeçou a lista tríplice do Conselho Universitário (Consuni). Ela vinha seguida da diretora da Faculdade de Engenharia Civil e Ambiental (Eeca), Karla Hora, e da diretora da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC), Angelita, que foi escolhida como reitora pelo presidente.Dos 70 votos do Consuni, 67 foram para Sandramara, dois para Karla e um para Angelita, o nome escolhido por Bolsonaro. Conforme relatou Sandramara, a outra chapa que concorreu na consulta à comunidade não chegou a se apresentar ao Consuni “respeitando a decisão”, descreve. Perguntada, então, se a escolha dos outros nomes teria sido apenas para preencher as duas outras vagas de lista, Sandramara diz que as professoras se apresentaram por meio de edital e que não houve convite para a composição da lista.“Foi um edital público, qualquer pessoa que cumpria o que o edital exige poderia ter se inscrito”, explica a professora. O ex-reitor Edward considera que o fato de serem apenas duas inscritas e terem concentrados apenas três votos foi uma coincidência. “Agora não tem como você enviar uma lista que não seja tríplice, tem de haver inscritos”, afirma.A expectativa é de que Angelita, que não havia apresentado plano de gestão, seja apoiada por parte da equipe formada por Sandramara. A previsão é de que o vice seja Josiel, que deve ser confirmado em ato que compete à nova reitora.Escolhida tem perfil à esquerdaO nome escolhido para gerir a instituição foi Angelita que é professora de Jornalismo e há cinco anos é diretora da Faculdade de Comunicação e Informação (FIC). Angelita é mestra em Educação Brasileira e doutora em Geografia pela UFG. Professora da UFG desde 2002, atua na docência com ênfase em produção de texto jornalístico, jornalismo literário e narrativas de vidas; jornalismo investigativo e de dados. É pesquisadora de gênero e direitos humanos e professora do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Direitos Humanos.Angelita é filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT), sendo que disputou, em 2014, o cargo de deputada estadual em Goiás pelo mesmo partido. Para o presidente do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg), Flávio da Silva, a história político-partidária da educadora mostra que o governo optou pelo embate com a figura de Edward mesmo tendo de escolher alguém filiado ao principal partido de oposição ao governo. “A opção foi pelo ataque”, descreve O outro nome da lista tríplice, Karla, é filiada ao Partido Socialismo e Liberdade (Psol). Sandramara, por sua vez, não tem histórico de militância partidária. Para Edward, o momento é de união de esforços. “É preciso coragem. Coragem para enfrentar o ataque às instituições públicas, à democracia e principalmente ao nosso maior valor, que é a autonomia universitária”, considera o ex-reitor. Sandramara reforçou o compromisso de apoiar Angelita. “Apoiar a professora Angelita neste momento é apoiar a universidade”, destaca.Lista já foi desrespeitadaEsta não é a primeira vez que o presidente não nomeia como reitor docente o ganhador da votação da lista tríplice. Desde 2019, por diversas vezes, Bolsonaro optou por nomear o segundo ou terceiro colocado. Em algumas ocasiões, ele chegou até mesmo nomeou um membro da comunidade acadêmica que sequer compunha a lista tríplice. Os governos Lula e Dilma (PT) sempre referendaram as escolhas das universidades.Em outubro de 2021, depois de questionamento do Partido Verde (PV), o Supremo Tribunal Federal (STF) reforçou o entendimento de que o presidente não precisa escolher como reitor o nome mais votado da lista tríplice. O tribunal entende que ele pode acatar ou reprovar o nome sugerido, e este espaço de decisão não poderia ser anulado em nome da autonomia universitária.Sobre o assunto, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) reforçou o posicionamento de que acredita que o docente mais votado deve ser nomeado como reitor. “A Andifes entende que nomeação como reitor, do escolhido majoritariamente pela comunidade universitária, unindo a legitimidade, a legalidade e a impessoalidade, garante a sintonia do dirigente com o projeto acadêmico da universidade e a liderança institucional também necessárias para a gestão eficiente e plural, em benefício da sociedade”, diz trecho da nota da instituição. -Imagem (Image_1.2385223)