Atualizada em 30.06 às 10h.Andar de novo pelas ruas sem medo, abraçar amigos e familiares, viajar, ir à escola. A busca pela chamada normalidade só parece possível diante de uma vacina. O mundo todo espera então, ansiosamente por uma que seja capaz de imunizar a população contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2). No total, pelo menos 15 já estão em estágios clínicos, com estudos em humanos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Uma delas é a da Universidade de Oxford com a empresa farmacêutica AstraZeneca, do Reino Unido e, na última sexta-feira (27), um anúncio do Ministério da Saúde (MS) trouxe ainda mais expectativas para os brasileiros.No Brasil, conforme anunciado pelo Ministério, a tecnologia será desenvolvida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que é vinculada ao governo federal. Inicialmente estão previstas 30,4 milhões de doses. Se comprovada a eficácia e a segurança do imunizante, estão previstas outras 70 milhões. Isso porque, inicialmente, o MS está assumindo os custos, mesmo não tendo os resultados clínicos finais da pesquisa. Inicialmente serão dois lotes de insumos: um em dezembro de 2020 e outro em janeiro de 2021. Pesquisadora da Universidade Federal de Goiás (UFG), a professora Cristiana Toscano, única brasileira convidada para integrar um Comitê da OMS que analisa as buscas pela imunização, explica que geralmente os comitês são formados após a descoberta da vacina, mas que desta vez o processo ocorre de forma diferenciada. Para ela, é otimismo pensar em uma vacina logo no início de 2021 e diz também que isso só é possível “graças a uma série de esforços e estratégias colaborativas que envolvem desde financiamento maciço no início para vários grupos de pesquisa, até estratégias que aumentam a eficiência do processo por meio de colaboração”.Este não foi o único acordo de transferência de tecnologia do País. O Instituto Butantan e a empresa farmacêutica chinesa Sinovac também fecharam uma parceria no dia 11 de junho. Este acordo prevê testagem em 9 mil voluntários no Brasil e fornecimento de doses até junho de 2021.ChinaO grupo farmacêutico chinês China National Biotec Group (CNBG) informou no último domingo (28), que uma vacina contra o novo coronavírus em desenvolvimento pela empresa se mostrou capaz de imunizar todas as pessoas que receberam as doses. Participaram desta etapa 1.120 indivíduos, sendo que todos produziram anticorpos contra o vírus causador da Covid-19.“Com referência a produtos similares no passado, combinados com dados humanos existentes, sugere-se inicialmente que a nova vacina desenvolvida seja segura e eficaz”, diz o texto publicado pela CNBG na rede social chinesa WeChat.EsperançaMayra Moura, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) diz que os acordos de transferência de tecnologia, tanto do Butantan quanto da Fiocruz, trazem uma melhor perspectiva ao País. “Isso porque, enquanto a vacina da Oxford, por exemplo, estava sendo apenas avaliada em testes no Brasil, isso não garantia a disponibilidade da vacina aqui. Precisaríamos destes acordos de transferência de tecnologia para compra e distribuição ser viabilizada”, completa.A diretora da SBIm explica também que existem quatro caminhos para o desenvolvimento de vacinas para a Covid-19. A do laboratório Sinovac, que assinou acordo com o Instituto Butantan é do tipo inativada, que utiliza parte do microorganismo, ou o vírus que está morto, incapaz de provocar a doença, como exemplo temos as que são oferecidas para influenza, HPV, hepatite B, hepatite A, difteria, tétano e coqueluche.“A princípio, os estudos estão sendo feitos em adultos saudáveis, então as primeiras respostas de eficácia e segurança serão neste grupo. Claro que são previstos outros estudos em crianças, idosos e até gestantes. Isso vai depender muito dos resultados, da velocidade dos estudos e também da estratégia que será assumida como orientação da OMS e decisão de cada país”, finaliza Mayra Moura. 3 Perguntas para Cristiana ToscanoPesquisadora da UFG integra comitê da OMS para vacina contra o Sars-CoV-2 e fala sobre o avanço dos trabalhosÉ possível ter uma vacina antes de dezembro de 2020 ou janeiro de 2021?No geral, o processo de desenvolvimento das últimas vacinas levou, em média, 10 anos. Isso desde os estudos já em laboratórios, animais e humanos, além do processo de produção, registro e de fato a vacina estar pronta para ser administrada no Programa Nacional de Imunização (PNI). Esses estudos levam meses e precisam incluir entre 10, 20 e 30 mil participantes. Então, são estudos complexos e demorados e que precisam seguir o ritmo porque precisam de garantia robusta.Sendo otimista, suponhamos que tenhamos no fim de 2020, uma vacina segura e eficaz com toda a fase de estudos concluída. Depois disso, temos a parte de produção de escala, com registro e licenciamento das vacinas nos países. Antes do início de 2021 seria muito difícil.Estando disponíveis as vacinas, quais devem ser os grupos prioritários?Isso vai depender de variáveis que ainda não temos. Depende da vacina ou das vacinas que forem bem-sucedidas nos estudos de eficácia e segurança e estiverem disponíveis inicialmente. Temos pelo menos 15 vacinas em estágios clínicos, com estudos em humanos. Destas, 4 tecnologias diferentes sendo utilizadas. Depende da tecnologia utilizada, se os estudos de ensaio clínico mostram segurança e eficácia para quais grupos etários. Qual a expectativa de uma vacina brasileira?Temos vários grupos no Brasil, que é um país forte na produção de vacinas. O Brasil produz a maior parte das vacinas utilizadas aqui e também exporta. Atualmente, no desenvolvimento para a Covid-19, temos alguns grupos trabalhando especificamente nisso. Nesse levantamento do cenário global, existem pelo menos dois grupos. Um deles é o da USP, trabalhando com a tecnologia de proteínas. Existe outro grupo da Fiocruz de Minas Gerais, em parceria com o Instituto Butantan, que está trabalhando com uma tecnologia de vetores virais, um vetor viral do vírus da influenza. Estes dois grupos estão em fase pré-clínica.