Em Goiânia está cada vez mais difícil comemorar o Dia Mundial Sem Carro, que ocorre nesta terça-feira (22), da maneira correta. Nos últimos quatro anos, a extensão de novas vias apenas para os veículos particulares motorizados é 15 vezes maior do que o que foi construído para as bicicletas e quase o dobro do executado para o transporte coletivo. Enquanto a atual gestão do Paço Municipal promete entregar até o fim do ano 35,76 quilômetros (km) de novas ruas para carros, como a Avenida Leste-Oeste, a ponte da Avenida dos Alpes e a extensão da Marginal Botafogo, foram apenas 2,34 km de incremento na malha cicloviária.Deste total, a gestão foi diretamente responsável pela metade do aumento de ciclovias, especialmente na extensão da via na Alameda Couto Magalhães, no Setor Bela Vista. Até 2016, a via ciclável chegava até a T-63 e agora foi ampliada até a Avenida 4ª Radial, no Setor Pedro Ludovico. Outro trecho incrementado na cidade foi na Avenida dos Alpes, que faz parte do projeto do Corredor T-7, que foi iniciado na gestão Paulo Garcia (PT) e está sendo finalizado por Iris Rezende (MDB).Houve também a finalização de trechos que compõem o Parque Urbano Ambiental Macambira Anicuns (Puama), também iniciado pela gestão anterior. Além disso, as novas vias dedicadas ao transporte coletivo são todas para finalizar os projetos deixados pela administração passada. Além de terminar a metade do Corredor T-7, a gestão atual ainda está fazendo cerca de 60% do corredor exclusivo BRT Norte-Sul, totalizando cerca de 18 km para os ônibus.Por outro lado, com relação aos carros, o projeto da Leste-Oeste e o da ponte da Avenida dos Alpes é da gestão atual, mas a extensão da Marginal Botafogo foi herdada de outra gestão. Válido lembrar que a administração também realiza o complexo viário da Avenida Jamel Cecílio, com a construção de viadutos, e a trincheira no Jardim Novo Mundo, passando pela BR-153, sendo obras também voltadas ao tráfego de veículos motorizados particulares.Os viadutos ainda impedem o trânsito de bicicletas, pois devido a sua inclinação e menor espaço, as vias são todas destinadas aos carros. Assim, atualmente, a Secretaria Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade (SMT) calcula 94,07 km de vias cicláveis na capital, mas esse total chegará a 94,62 km com a finalização da ciclovia na Couto Magalhães. Em 2016, eram 92,28 km de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas.UtilidadeEssa soma, no entanto, é criticada por ciclistas da capital. O servidor público Anselmo Mendes Maranhão Filho explica que as ciclofaixas de lazer, que só funcionam aos domingos, não deveriam entrar nesse cálculo, por não favorecer a mobilidade urbana. Ele calcula que Goiânia possui apenas 13 km de vias que possibilitam o ir e vir de ciclistas com segurança funcionando todos os dias.Outro problema é que as obras de recapeamento nas ruas, especialmente do Setor Bueno, retiraram as pinturas que demarcavam as ciclofaixas e ciclorrotas. O mesmo ocorreu na Rua 90 e Avenida 84, em função das obras para o BRT Norte-Sul. No entanto, até o final deste ano, a promessa é que elas serão revitalizadas. Para o ciclista, essa situação mostra que a capital está atrasada.“Estamos sendo empurrados para fora da cidade e até mesmo as ciclovias nas rodovias estão lotadas. Os ciclistas profissionais estão usando até os acostamentos das rodovias”, diz Maranhão Filho, que pratica o ciclismo como esporte. Ele conta que houve um encontro com pessoas que usam a bicicleta para transporte, como o arquiteto e urbanista Luís Botosso, e para o trabalho, como o entregador Fabrício Fontoura. O grupo lançou um abaixo-assinado na internet e fez manifestação por mais ciclovias na cidade.Eles devem se reunir com a SMT na próxima semana e contam que já possuem um esboço de projeto para novas estruturas cicláveis. “Os ciclistas que hoje se arriscam a se locomover na cidade são heróis, porque é muito perigoso. Não podemos esperar ter muita gente de bicicleta para depois dar a estrutura. As leis já existem, devem priorizar a estrutura e vai surgir mais ciclistas”, diz Maranhão. O servidor público cita a Lei Complementar 169 de 2007, que é a base do Código Municipal de Mobilidade Urbana, sancionado em 2011. Na lei, é obrigatório que novas vias de tráfego tenham estruturas para bicicletas, o que não é cumprido. Situação mostra opção do gestorPerito em trânsito, Antenor Pinheiro afirma que a gestão atual do Paço Municipal não deu sequência a uma política de inserção da bicicleta na mobilidade urbana. “Mesmo que a anterior era voltada mais par ao esporte e lazer, isso poderia ser redimensionado e redirecionado para a mobilidade. Mas o que fizeram foi manter a prioridade de sempre responder a demanda dos carros”, diz. Para ele, essa escolha deixa para trás as diretrizes de mobilidade urbana e “afasta Goiânia das ideias mais modernas”. Para Pinheiro, a crise com a pandemia de Covid-19 deveria propiciar alternativas para os cidadãos, como ocorreu em outras cidades latinas, como Bogotá e Medellín. “A gente vê pessoas indo para o transporte ativo, com as bicicletas ou a pé, mas não vê o poder público fazendo política para inserir essa alternativa.” Ele reforça que a criação de estrutura é a parte simples, sendo necessário ter campanhas de incentivo e também manutenção da malha.