Um novo inquérito policial deverá ser aberto para investigar a causa da morte da estudante de Arquitetura Susy Nogueira Cavalcante, de 21 anos, que sofreu abuso sexual na UTI do Hospital Goiânia Leste. Após ouvir nesta quinta-feira (30) o depoimento do pai de Susy, a delegada Paula Meotti informou que encaminhará ainda nesta sexta-feira as informações coletadas para a Delegacia Regional de Polícia para que essa unidade possa definir a delegacia que passará a ser responsável por essa nova investigação.Susy foi internada no dia 16 de maio após crise de convulsão que, segundo relatos, teria ocorrido durante uma aula. O abuso sexual contra ela aconteceu na madrugada do dia 17 e foi registrado por câmeras de segurança. Ela morreu no último domingo, dia 26. Na certidão de óbito da estudante, no item ‘causa’, consta: “óbito de causa a esclarecer por exames complementares”.À reportagem, a delegada informou que Vanderly Cavalcante da Silva, pai de Susy, relatou a suspeita de que a morte da filha possa não ter sido natural. Segundo Paula, Vanderly, que é policial civil aposentado, informou que o quadro clínico da filha não seria tão grave. “Ele está muito angustiado em relação à causa da morte, ele acha que pode não ter sido uma causa natural. Diante dessas suspeitas do pai e do advogado parece conveniente uma instauração mais rápida de um novo inquérito policial já para investigar especificamente o que teria gerado a morte da vítima. Se foi uma morte natural ou não”, disse.Paula pontua que não é atribuição da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) esse tipo de investigação, por isso, juntará os elementos que foram colhidos, as indagações do pai e do advogado da família, para encaminhar à Delegacia Regional.O advogado e amigo da família de Susy, Darlan Alves Ferreira, ressaltou que ele e o pai da estudante argumentaram com a delegada a necessidade de ser investigada a causa da morte de Susy. “O pai, a mãe, querem saber a resposta do por que da morte”, afirmou.Na busca por essa resposta, o advogado saiu da conversa com a delegada e afirmou à imprensa que avaliavam inclusive a possibilidade de pedirem a exumação do corpo da estudante caso os exames já realizados pelo Instituto Médico Legal (IML) não fossem suficientes para as próximas investigações.Segundo a delegada Paula Meotti, o exame cadavérico foi realizado. “O que a família está nos indagando é a respeito de qual material foi colhido da vítima para exames complementares. É o que estão em dúvida”. Até o início da noite desta quinta-feira, a delegada afirmou que estavam checando essa informação junto ao IML para levantar se seria necessário a requisição de alguma exumação. “Para que a gente não perca prova”, disse, se referindo especialmente ao novo processo que deverá ser aberto com investigação específica sobre a causa da morte.“Caso a gente tenha essa informação do IML, que seria necessário a exumação, nós já vamos solicitar também para uma retirada às vezes de alguma parte mole do corpo que não fora retirada e que eles acharem conveniente. Tem que esperar essa resposta.” De acordo com Paula, se o IML informar necessidade da exumação, ela mesmo poderia solicitá-la para ganhar tempo.O pai de Susy, que chegou à Deam por volta das 14 horas, saiu em torno das 16 horas acompanhando de uma coronel da Polícia Militar, amiga da família, e não quis gravar entrevista.Inquérito DeamO inquérito que investiga o abuso sexual que Susy sofreu na UTI do hospital será finalizado ainda nesta sexta-feira (31) para envio ao poder judiciário, segundo a delegada. A conclusão, diz, é pelo indiciamento do investigado. O laudo cadavérico e outros ofícios que ainda não tiverem recebido ou ficado pronto até esta sexta-feira serão enviados posteriormente à Justiça para se juntarem ao inquérito.O técnico de enfermagem suspeito de ter abusado sexualmente de Susy, Ildson Custodio Bastos, de 41 anos, está preso preventivamente desde quarta-feira (29) e poderá responder por estupro de vulnerável.Horas depois da apresentação do suspeito, na quarta, a delegada afirmou que as imagens da câmera de segurança da UTI deixavam claro o abuso.A Organização Goiana de Terapia Intensiva (OGTI), empresa responsável pela UTI no hospital, disse que assim que recebeu a denúncia do abuso, dia 17, Ildson foi suspenso e afastado. A ocorrência foi registrada na Deam dia 21, data em que ele foi demitido por justa causa. A família afirma que só foi informada sobre o abuso durante o velório da filha. Hospital defende gestora de UTI O Hospital Goiânia Leste (HGL), localizado no Setor Leste Universitário, em Goiânia, emitiu nota na manhã desta quinta-feira para comentar o caso de abuso sexual registrado em um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no dia 17 deste mês. A direção fez questão de ressaltar que, apesar de usarem o espaço físico do HGL, a Organização Goiana de Terapia Intensiva (OGTI) tem outra administração, separada do HGL.A nota assinada por Mário Namoniêr Gomes, um dos diretores do HGL, diz que a parceria com esta empresa já dura oito anos e que nunca houve, nenhum registro de situação que desabonasse a empresa. A nota também diz que as medidas necessárias para proteção da paciente foram tomadas, como a demissão do funcionário suspeito dos atos e o encaminhamento do caso para apuração da autoridade policial. Desde o ocorrido, esta é a primeira vez que a direção do HGL se posiciona oficialmente sobre o assunto. A empresa terceirizada que presta serviço de UTI já emitiu nota informando que desde o dia do ocorrido, 17 de maio, tem tomado medidas para elucidação do caso e que tem colaborado para o esclarecimento da situação, como o encaminhamento das imagens de câmeras para a investigação.A nota encaminhada pela administração do HGL informou que tão logo tomou conhecimento do fato, buscou maiores informações junto à empresa locatária do espaço. Esta, em resposta aos questionamentos da administração do hospital, afirmou que já havia tomado as medidas de proteção à paciente de forma imediata. A nota ainda diz que mesmo com todas as medidas adotadas, “o ato repulsivo” não foi evitado, portanto, “outras medidas de segurança serão tomadas a fim de salvaguardar a saúde, a vida e a segurança dos pacientes, compromissos esses que o hospital tem assegurado ao longo dos seus 50 anos”. A unidade, no entanto, não detalhou quais serão estas medidas. Questionados por e-mail, os gestores não retornaram às respostas até o início da noite desta quinta-feira.(Cristiane Lima)Colegas e professores fazem homenagemCentenas de pessoas se reuniram na noite desta quinta-feira no teatro arena da Área III da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), na Praça Universitária, em Goiânia, em ato de protesto pela morte da estudante de arquitetura, Susy Nogueira Cavalcante, de 21 anos. Muitos se emocionaram durante a manifestação, que teve a presença de colegas e professores da vítima, além de pessoas que não a conheciam, mas se solidarizaram. O pai e um tio de Susy também estiveram presentes.No centro do palco, que fica a céu aberto, foram depositadas velas acesas, flores e uma foto grande com o rosto da estudante. Logo abaixo da imagem, ainda no palco, foi escrita uma frase formada por letras em folhas de papel: “Você conhece alguma arquiteta negra?”Durante o ato, músicas religiosas tocavam em uma caixa de som ao fundo enquanto pessoas subiam voluntariamente no palco e diziam palavras de conforto, pesar, mas também é revolta e protesto. “Porque é que tem que ser tão difícil pra mim. Parece que é difícil só pra mim”, dizia a letra de uma das músicas tocadas no ato, do cantor gospel Thalles Roberto. “Não é um caso isolado de violência contra a mulher! Não podemos nos conformar, isso não é normal”, bradou a professora de arquitetura, Virgínia Guimarães. “Eu não me conformo e não quero apaziguar nenhum espírito. Eu quero lutar para que os culpados sejam punidos exemplarmente!”, desabafou a psicóloga Cida Alves durante o ato, seguida por aplausos. Em vários momentos alguém gritava “Susy!” e os outros presentes respondiam “Presente!”.O ato foi organizado pelo Centro Acadêmico (CA) de Arquitetura da PUC. Amiga próxima de Suzy, a estudante de arquitetura Lorrane Terra Oliveira, secretária do CA, ajudou a organizar o ato. “É em solidariedade e para mostrar toda a amizade que a gente tem por Susy. Por tudo que ela representa para a gente. Esse fato que ocorreu com ela representa uma situação que a gente vive hoje. A gente não poderia deixar passar em branco”, explica a estudante. (Thalys Alcantara)