-Imagem (1.2429625)A retomada das teatralizações das batalhas medievais em Goiás marca também o avanço, junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do processo de registro das Cavalhadas como Patrimônio Cultural do Brasil. Em 2019 o órgão recebeu extensa documentação em nível federal e estadual com a solicitação e a considerou pertinente. A candidatura segue agora para a fase de instrução, com a elaboração de dossiê sobre a expressão cultural.Segundo a historiadora da superintendência do Iphan em Goiás, Renata Galvão, será feito o levantamento de documentação e informações sobre o bem cultural. “Após dois anos de pandemia e com o retorno da manifestação aos cavalhódromos, campos e ginásios, facilitará a pesquisa etnográfica que irá compor o dossiê de registro”.O dossiê será apreciado pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que delibera se o bem pode ser reconhecido conforme os critérios do Decreto-lei nº 3551/2000.As Cavalhadas representam a luta medieval entre mouros e cristãos. Sua origem está situada no século 12, durante a Reconquista da Península Ibérica. Os feitos do rei Carlos Magno e os 12 pares da França na luta contra os mouros foram usados na catequização nos reinos ibéricos.Leia também:Cavalhódromo de Pirenópolis precisa de R$ 20 milhões para reformaNo Brasil, as primeiras manifestações teatralizadas que fazem referência a essa luta datam do século 18, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Em Goiás, as Cavalhadas estão presentes há mais de 200 anos e ocorrem entre os meses de junho e setembro, como parte dos festejos do Divino Espírito Santo.Em uma grande arena, os dois grupos de 12 cavaleiros se exibem paramentados. O azul e o prateado são as cores dos representantes cristãos; o vermelho e dourado, dos mouros. Os cavalos também recebem adereços nas mesmas cores.O galope dos animais na coreografia que encena a batalha medieval atrai a atenção do público, que reage num misto de torcida e encantamento. A manifestação é bastante aguardada por moradores das cidades que preservam tradição e por visitantes, por isso está inserida no circuito turístico de Goiás.O pedido de Goiás para que as Cavalhadas sejam reconhecidas como Patrimônio Cultural do Brasil foi apresentado ao Iphan em 2019 pelo governador Ronaldo Caiado, pela Secretaria Estadual de Cultura (Secult) e por 11 municípios que encenam a manifestação.Para o superintendente do órgão em Goiás, Allyson Cabral, o reconhecimento do Iphan é merecido e muito importante para o evento. Desde 2010 a Festa do Divino Espírito Santo, em Pirenópolis, da qual as Cavalhadas fazem parte, é reconhecida pelo Iphan como Patrimônio Cultural do Brasil. Caso o Iphan atenda o pedido, a cidade terá dois registros.Vila Boa Na cidade de Goiás, a secretária de Cultura, Raissa Coutinho David Jardim, informa que trabalha no resgate das Cavalhadas no município. Embora ainda não haja uma data definida, é certo que a encenação vai ocorrer no segundo semestre. “Fomos incluídos no Circuito das Cavalhadas da Secult, realizamos convênio com a pasta em 2021 e estamos trabalhando na fase final do Plano de Trabalho para o convênio de 2022”, afirma.A secretária explica que a manifestação na antiga capital foi descontinuada no final dos anos de 1920. “Isso ocorreu em função do bispo da época ser partidário da ideia de que o catolicismo popular, de onde saíram as Cavalhadas, necessitava ser contido por ter maior abrangência do que o catolicismo oficial.” Nas décadas de 1960 e 1990 houve algumas apresentações.Já têm data confirmada para as Cavalhadas de 2022 junto à Secult, Pirenópolis, Santa Cruz de Goiás, Palmeiras de Goiás, Jaraguá e São Francisco de Goiás. Os demais municípios, embora tenham confirmado a encenação, ainda não definiram seus calendários.